O Caminho da Beleza 20
Leituras para a travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
III Domingo da Quaresma 27.03.2011
Ex 17, 3-7 Rm 5, 1-2.5-8 Jo 4, 5-42
ESCUTAR
“Então o povo começou a disputar com Moisés, dizendo: “Dá-nos água para beber!”. Moisés respondeu-lhes: “Porque disputais comigo? Por que tentais o Senhor”. Mas o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: “Por que nos fizestes sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado” (Ex 17, 2-3).
“E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores” (Rm 5, 5-8).
“Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna... Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade” (Jo 4, 14.23).
MEDITAR
“Nosso Senhor vem à fonte como um caçador; pediu água para poder dá-la. Pediu de beber como qualquer um que está sedento, para ter ocasião de aplacar a sede. Fez um pedido para a samaritana para poder ensinar-lhe e ela, por sua vez, lhes fez um pedido. Ainda que rico, não se envergonhou de mendigar como um indigente para ensinar a indigente a pedir. E, dominando o pudor, não temeu falar a uma mulher sozinha para ensiná-la que quem se mantém na verdade não pode ser perturbado. Pede água, porque promete água viva. Pede, mas depois parou de pedir, porque a mulher deixou o seu cântaro. Os pretextos haviam cessado, porque a verdade que se devia esperar estava já presente” (Efrén, Comentários sobre o Diatesaaran 12, 16).
“Morrer ou amar Deus: não tenho outro desejo. A morte ou o amor: pois viver sem amor é pior que a morte e isto me seria mais insuportável do que a vida presente” (Pe. Pio).
ORAR
Esta é a primeira cena de intimidade de Jesus com uma mulher; a outra é com Maria Madalena no jardim da Ressurreição. Jesus está só com estas mulheres e para elas revela o seu ser mais profundo. O evangelho acentua a insistência de Jesus sobre o dom, pois com o Deus de Amor tudo é entrega e compaixão. A samaritana, pouco virtuosa, simplesmente acolhe o dom e o perdão. Jesus ao falar da fonte transbordante quer dizer que a água que jorra dos corações, doravante, saciará a todos. A samaritana ao declarar que encontrou o Messias revela ao mundo que o Messias esperado é aquele que é capaz, sem nenhuma discriminação, do dom e do perdão. Jesus escolhe este momento de fragilidade para declarar o seu verdadeiro título e revelar a sua missão. Do presépio à cruz, passando por um pedaço de pão ázimo, Jesus desconcerta sempre e o ponto culminante disto é quando reconhece sua proclamação como rei, quando interrogado no cárcere: “És tu o rei dos judeus” e Jesus declara: “Tu o dizes” (Mt 27, 11). Jesus desvela para esta mulher a chave do mistério da existência: “Se tu conhecesses o dom de Deus”. Ele é o depositário do segredo que os homens não conhecem. Ele, fatigado, sedento, que solicita um pouco de água para se refrescar é o mesmo que oferece a água viva. O detalhe sutil sobre as bodas e o esposo pode nos passar desapercebido. Jesus pede que a samaritana chame o seu marido, pois um homem não podia prolongar uma conversa com uma mulher fora da presença do seu esposo. O evangelista acentua o significado profundo desta ausência do marido. Jesus, em Caná, assumiu o papel do esposo ao proporcionar aos convidados o vinho que faltara; João, o Batista, lhe confere o título de esposo e se auto-intitula “o amigo do Esposo”. Os tempos messiânicos são os tempos da renovação da Aliança esponsal de Deus com o seu povo. Jesus, na sua liberdade ousada, propõe uma Nova Aliança e a oferece a todos, sem discriminação: aos pecadores, aos excluídos da Sinagoga, aos proscritos da sociedade, aos não-judeus e aos samaritanos. A Samaria que fora desligada da Aliança vai, neste momento, realizá-la graças a esta mulher que anunciará a toda cidade que encontrara o “Salvador do Mundo”. É pela Samaria que se iniciará a evangelização fora da Palestina e será um sucesso (cf. At 8, 5). O evangelista encerra o seu relato evocando o título que os primeiros samaritanos convertidos dão a Jesus: Salvador do Mundo. Mais uma vez são os proscritos que nos revelam e anunciam a universalidade da salvação. A Igreja de Jesus deve saber que somente o transbordamento do amor – o servir a todos sem discriminação – rompe o círculo de uma comunidade limítrofe, medíocre e isolada que bebe de qualquer coisa para iludir a sua sede. Paulo nos reitera que “a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. Nesta quaresma, somos chamados a manter viva a nossa esperança e a nossa sede de viver para proclamar como o poeta: “Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier nunca será maior do que a minha alma” (Fernando Pessoa).
CONTEMPLAR
Da Mihi Bibere, Salvador Dalí, 1963-1964, guache, Coleção “Bíblia Sacra”.
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