terça-feira, 8 de março de 2011

O Caminho da Beleza 18 - I Domingo da Quaresma

O Caminho da Beleza 18
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



I Domingo da Quaresma                  13.03.2011
Gn 2, 7-9                          Rm 5, 12.17-19                         Mt 4, 1-11


ESCUTAR

“O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhe nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente. Depois, o Senhor Deus plantou um jardim em Éden, ao oriente, e ali pôs o homem que havia formado” (Gn 2, 7-8).

“Por um só homem, pela falta de um só homem, a morte começou a reinar. Muito mais reinarão na vida, pela mediação de um só, Jesus Cristo, os que recebem o dom gratuito e superabundante da justiça” (Rm 5, 17).

“Naquele tempo: o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome... Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram Jesus” (Mt 4, 1-2.11).


MEDITAR

“É melhor mal amar, amar a torto e a direito do que nunca amar, pois o que ama mal pode sempre aprender e descobrir como amar melhor, mas aquele que não ama está perdido” (Jean-Guy Saint-Arnaud).

“A alma que fica na superfície de si mesma, que não se habita a si mesma, torna-se estrangeira de si própria. A interioridade nos faz descobrir verdadeiramente a nós mesmos, Deus e os outros” (Maître Eckhart).


ORAR

Somos um misto frágil de pó da terra e de sopro divino. Por esta razão sempre sofremos a tentação de sucumbirmos ao pecado da vaidade. Jesus se retira sob o sol de Satanás e sofrerá um batismo de fogo após o seu batismo de água no Jordão. A sua tentação é proporcional à sua missão e como a nossa é expressa humanamente: a de ter seus desejos imediatamente satisfeitos e assegurar a sua sobrevivência; a de experimentar a sua onipotência e se tornar igual a Deus e, finalmente, a de dominar os homens e reinar sobre a Terra. O mesmo Espírito que conduz Jesus ao deserto permite reconhecer em nossos desertos a presença de Deus agindo do nosso lado nas provas e tentações cotidianas. A tentação não é um mistério de vitrine, mas um mistério de vertigem que cada um carrega em si, no seu próprio precipício possível. Na sua agonia, Jesus é abandonado pelos seus, na sua tentação é abandonado a si mesmo e se reencontra só com todos os possíveis da sua humanidade. O Enganador se engana: se somos filhos de Deus, é inútil transformar pedras em pão, pois o Pai dá naturalmente o pão a seus filhos (Mt 6, 11); se somos filhos de Deus é impossível se lançar abaixo, porque seguros nas mãos de Deus não teremos vertigens e se somos seus filhos será em vão fazer vilezas e vulgaridades para se ganhar todos os reinos do mundo, porque já somos herdeiros com o Filho do reino do Pai (Rm 8, 17). Este período de quaresma nos permite uma profunda revisão no nosso deserto interior para que possamos, como Jesus, permanecer nos desígnios do Pai. A nossa vitória está na conquista da lucidez de sermos filhos e filhas bem-amados. O evangelista nos remete à experiência humana mais profunda que acarreta apreensão e angústia por desfilar diante dos olhos as imagens mais sedutoras. Há um debate interior que une, na vida de Jesus, dois momentos cruciais: a solidão do deserto e a solidão do Jardim das Oliveiras. Jesus não escolhe os bens terrestres, mas a pobreza; não escolhe o prestígio, mas a humildade e as humilhações; não sucumbe à idolatria do poder político, mas prefere ser condenado injustamente como “rei dos judeus”. A tentação do deserto desvela a união diabólica e a natureza maléfica do poder político e da elite religiosa. A liderança política e religiosa é a forma institucional visível de uma realidade interna que resiste aos propósitos de Deus e se empenha em cumprir a sua agenda por meio da injustiça e do poder opressor. A Igreja de Jesus deve aprender com Ele a não sucumbir à tentação maior que é a de agir em benefício próprio. Como diz Paulo: “Conheceis a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por vós se tornou pobre para vos enriquecer com a sua pobreza” (2 Cor 8, 9).


CONTEMPLAR

Jesus no deserto, Macha Chmakoff, Diocese de Valence, França.




Um comentário:

  1. "A tentação não é um mistério de vitrine, mas um mistério de vertigem que cada um carrega em si, no seu próprio precipício possível."

    Mataram a pau, manos! Minhanossa, que imagem poderosamente significativa. Obrigada, obrigada, obrigada, mil vezes. Abraços ternos, saudades sempre.

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