Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
Nossa Senhora Aparecida
Est 5, 1b-2; 7, 2b-3 Ap
12, 1-5 Jo 2, 1-11
ESCUTAR
“Concede-me a vida, eis o
meu pedido, e a vida do meu povo, eis o meu desejo!” (Est 7, 3).
“Apareceu no céu um grande
sinal” (Ap 12, 1).
“Eles não têm mais vinho”
(Jo 2, 3).
MEDITAR
A mesa em comum com o
hóspede é o espaço em que o alimento é compartilhado, e o comer se torna
‘convívio’, ocasião de comunhão vital: é à mesa, à mesa compartilhada, que o
ser humano tem a oportunidade, todas as vezes renovada, de se libertar do seu
ser ‘devorador’ – do alimento e do outro – e de se tornar mais uma vez, a cada
dia, uma pessoa de comunhão.
O tema das Bodas é marcante
em toda a nossa tradição judaico-cristã. Ele realça a dimensão amorosa e terna
da Aliança do Senhor com a abundância proclamada pelo profeta Joel: “Acontecerá naquele dia que as serras estarão
suando vinho novo, os morros escorrendo leite (Jl 4, 18). O evangelista revela
que todo rito legalista é estéril. A água só se converte em vinho depois de
retirada das talhas, pois antes era apenas uma água que lavava o exterior das
pessoas que cumpriam a norma rígida da Lei. Jesus nos faz saber que não podemos
jamais nos fechar num ritualismo legalista que endurece os corações e
entristece os espíritos. Agora a água, transformada em vinho, é oferecida aos
borbotões para todos na festa nupcial. Este
vinho representa o cumprimento da promessa de abundância: “Vinde comer meus
manjares e beber o vinho que misturei” (Pr 9, 4-5) e “Vinde a mim vós que me
amais, e saciai-vos de meus frutos; recordar-me é mais doce do que o mel,
possuir-me é melhor que os favos” (Eclo 24, 20-21). O vinho é a alegria do homem
reconciliado consigo mesmo, com seu próximo e com seu Deus. A festa de Caná é o
momento de um novo parto tanto para Jesus como para Maria que auxilia o rito de
passagem de seu Filho que sai do silêncio para o início da vida pública.
Confiante que o Filho, embriagado pelo Espírito, estava cumprindo a vontade do
Pai, Maria ordena sem hesitar: “Fazei
tudo o que ele vos disser”. Como escreve a psicanalista Françoise Dolto:
“Talvez, tenha sido nesse momento, nas
bodas de Caná, que Maria se tornou a Mãe de Deus!”. A água convertida em
vinho é, simbolicamente, o novo parto em que a Mãe – água e sangue – gera o
Filho para o mundo e para a vida em abundância – pão e vinho – sendo Ele mesmo
a Vinha da qual somos os ramos. A
essência deste milagre está na revelação de que Jesus tem compaixão pela
necessidade dos outros e que o amor fraterno é sempre estar pronto a responder
a estas necessidades, sejam quais forem. Com Maria se antecipa o milagre da fé pascal e se
antecipa para nós, seus filhos e filhas, a mesma fé para que ninguém duvide de
que Jesus seja capaz de renascer e expandir a alegria das Bodas do Cordeiro
para toda a humanidade convidada, agora e sempre, para o Seu banquete nupcial.
O gesto de entrega de Jesus será glorificado
na Cruz como uma exaltação embriagada
de amor e de amar que foi iniciada em Caná.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe.
Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Bodas em Caná, 2014, Katie Hoffman, óleo
sobre tela, 18” x 18”, Denver, Colorado, Estados Unidos.
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