Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
XXVII Domingo do Tempo Comum
Hab 1, 2-3; 2, 2-4 2 Tm 1, 6-8.13-14 Lc
17, 5-10
ESCUTAR
“Quem não é
correto vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 2, 4).
“Pois Deus não
nos deu um espírito de covardia, mas de força, de amor e sobriedade” (2 Tm 1,
7).
“Assim também
vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples
servos; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17, 10).
MEDITAR
O Ocidental não
aceita o ‘sofrimento’ como parte de sua vida e desse modo ele nunca pode
retirar dele uma força positiva.
(Etty Hillesum)
Dai-me Senhor,
a liberdade de aceitar as coisas que não posso mudar. Dai-me a coragem de mudar
aquelas que posso mudar. Dai-me a sabedoria de distingui-las umas das outras.
(Friedrich
Christoph Oetinger)
ORAR
A fé cristã é um compromisso
de transformação estrutural de um mundo marcado pela opressão. Esta revolução,
pela fé, está simbolizada no Evangelho de hoje: “Se vós tivésseis fé, mesmo
pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te
daqui e planta-te no mar”. A mínima fé torna possível o impossível, pois “nada
é impossível para Deus” (Lc 1, 37). A fé testemunhada por Jesus não se reduz a piedosos
conselhos e, muito menos, a um programa de vida virtuoso. Essa foi a medida
utilizada pelos apóstolos ao pedirem uma recompensa pela vida virtuosa que acreditavam levar: ao pedirem o aumento de sua
fé, faltou-lhes a humildade. Jesus, o Cristo, dá-se a si mesmo, pois, para
Deus, este dar-se gratuitamente, sem esperar recompensas, é a única medida que
conta para a salvação dos homens e das mulheres. Jesus não manteve distâncias
e, derrubando todas as barreiras, desprezou as fronteiras humanas fossem quais
fossem. “Onan, quando se deitava com Tamar, derramava o seu sêmen na terra” (Gn
38, 9). O onanismo da fé nos condena a almejar certezas definitivas, a violar a
ideia de comunhão e a ressaltar uma Igreja desencarnada que serve apenas para a
salvação das almas. O onanismo da fé
revela-se quando acreditamos e investimos no espetáculo público e televisivo de
nós mesmos, expresso na manipulação, no utilitarismo e na exploração
sentimentalista da fé, deitando por terra a potencialidade evangélica de honrar
compromissos que valem mais do que uma vida. Nesta nossa travessia não podemos
nos contentar com a autossatisfação de uma fé acomodada aos limites impostos
por nós mesmos. O Evangelho de Jesus nos oferece o paradoxo do risco, pois
confrontaremos o impossível e o inimaginável e, por esta razão, podemos dizer
sem nenhum medo que nos esterilize e sem nenhuma expectativa de recompensa pelo
que fizemos: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. Jesus nos
garante que para Deus nada é impossível. Tenhamos, pois, a humildade de
apresentar diante do seu altar a nossa fé e a fé das igrejas que, nestes
tempos, em que se agiganta o onanismo intimista do fastio, tem sido menor, bem
menor do que um grão de mostarda.
(Manos da Terna
Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Jesus lavando os pés
de Pedro, 1852-56, Ford Madox Brown (1821-1893), óleo sobre tela, 1168 x 1333 mm, Galeria Tate,
Londres, Reino Unido.
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