quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O Caminho da Beleza 46 - XXVII Domingo do Tempo Comum

Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).


XXVII Domingo do Tempo Comum                      

Hab 1, 2-3; 2, 2-4             2 Tm 1, 6-8.13-14             Lc 17, 5-10

 

ESCUTAR

“Quem não é correto vai morrer, mas o justo viverá por sua fé” (Hab 2, 4).

“Pois Deus não nos deu um espírito de covardia, mas de força, de amor e sobriedade” (2 Tm 1, 7).

“Assim também vós: quando tiverdes feito tudo o que vos mandaram, dizei: ‘Somos simples servos; fizemos o que devíamos fazer’” (Lc 17, 10).

 

MEDITAR

O Ocidental não aceita o ‘sofrimento’ como parte de sua vida e desse modo ele nunca pode retirar dele uma força positiva.

(Etty Hillesum)

Dai-me Senhor, a liberdade de aceitar as coisas que não posso mudar. Dai-me a coragem de mudar aquelas que posso mudar. Dai-me a sabedoria de distingui-las umas das outras.

(Friedrich Christoph Oetinger)

 

ORAR

     A fé cristã é um compromisso de transformação estrutural de um mundo marcado pela opressão. Esta revolução, pela fé, está simbolizada no Evangelho de hoje: “Se vós tivésseis fé, mesmo pequena como um grão de mostarda, poderíeis dizer a esta amoreira: ‘Arranca-te daqui e planta-te no mar”. A mínima fé torna possível o impossível, pois “nada é impossível para Deus” (Lc 1, 37). A fé testemunhada por Jesus não se reduz a piedosos conselhos e, muito menos, a um programa de vida virtuoso. Essa foi a medida utilizada pelos apóstolos ao pedirem uma recompensa pela vida virtuosa que acreditavam levar: ao pedirem o aumento de sua fé, faltou-lhes a humildade. Jesus, o Cristo, dá-se a si mesmo, pois, para Deus, este dar-se gratuitamente, sem esperar recompensas, é a única medida que conta para a salvação dos homens e das mulheres. Jesus não manteve distâncias e, derrubando todas as barreiras, desprezou as fronteiras humanas fossem quais fossem. “Onan, quando se deitava com Tamar, derramava o seu sêmen na terra” (Gn 38, 9). O onanismo da fé nos condena a almejar certezas definitivas, a violar a ideia de comunhão e a ressaltar uma Igreja desencarnada que serve apenas para a salvação das almas. O onanismo da fé revela-se quando acreditamos e investimos no espetáculo público e televisivo de nós mesmos, expresso na manipulação, no utilitarismo e na exploração sentimentalista da fé, deitando por terra a potencialidade evangélica de honrar compromissos que valem mais do que uma vida. Nesta nossa travessia não podemos nos contentar com a autossatisfação de uma fé acomodada aos limites impostos por nós mesmos. O Evangelho de Jesus nos oferece o paradoxo do risco, pois confrontaremos o impossível e o inimaginável e, por esta razão, podemos dizer sem nenhum medo que nos esterilize e sem nenhuma expectativa de recompensa pelo que fizemos: “Somos servos inúteis; fizemos o que devíamos fazer”. Jesus nos garante que para Deus nada é impossível. Tenhamos, pois, a humildade de apresentar diante do seu altar a nossa fé e a fé das igrejas que, nestes tempos, em que se agiganta o onanismo intimista do fastio, tem sido menor, bem menor do que um grão de mostarda.

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Jesus lavando os pés de Pedro, 1852-56, Ford Madox Brown (1821-1893), óleo sobre tela, 1168 x 1333 mm, Galeria Tate, Londres, Reino Unido.