Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
Celebração de Finados
Sb 3, 1-9 Ap
21, 1-7 Lc 7, 11-17
ESCUTAR
Os que nele confiam compreenderão a verdade, e os que
perseveram no amor ficarão junto dele (Sb 3, 9).
Eu vi um novo céu e uma nova terra. Pois o primeiro
céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21, 1).
Então, Jesus disse: “Jovem, eu te ordeno, levanta-te!”
O que estava morto sentou-se e começou a falar (Lc 7, 14-15).
MEDITAR
As pessoas não morrem: tornam a ficar encantadas.
(João Guimarães Rosa)
Eu sempre acreditei que o instante da morte é a norma e o fim da vida. Eu penso que para os que vivem como se faz necessário este é o instante em que, por uma fração infinitesimal de tempo, a verdade nua e crua, pura, certa e eterna entra na alma.
(Simone Weil)
ORAR
Um
provérbio africano diz: “A morte está nas dobras do nosso casaco”. Nesta vida
emprestada que vestimos, vivemos na ilusão da imortalidade e por isso
negligenciamos o cotidiano, as amizades, as relações humanas e cortejamos as
aparências e nos satisfazemos com a banalidade. Projetamos máscaras sobre
nossas visões de futuro e quando a morte nos surpreende, vertemos lágrimas de
crocodilo sobre uma vida que não soubemos descobrir, que não valorizamos o
suficiente e com a qual poderíamos ter tido trocas inesgotáveis. Neste momento
de perplexidade, descobrimos que ficamos rasos, pairando na superfície de nós
mesmos ao invés de mergulharmos na profundidade da realidade humana. O
Ressuscitado nos testemunha que atingimos as profundidades da vida quando
vivemos verdadeiramente as contradições do existir que nos apontam,
imediatamente, para a eternidade e para o infinito. É na realidade maravilhosa
de que Deus nos habita e de que Ele é a respiração da nossa liberdade que todas
as ternuras encontram a sua origem e sentido. Os nossos finados são a ferida
incurável da vida, pois nos escapam num aqui e agora intocável como as nossas
sombras. Outro provérbio da sabedoria africana reza: “A morte é sempre uma
coisa nova”, pois se morre uma única vez e de uma maneira absolutamente
singular. Nossos finados não estão num além, mas dentro de nós como o
próprio Deus. Devemos, se quisermos encontrá-los, interiorizar as nossas
existências num coração a coração com o Senhor para que possamos,
eternizados, contemplar os que nunca deixaremos de amar e com os quais podemos
sempre trocar a mesma respiração, sopro e alento de ternura, como nos momentos
supremos do aqui e agora que são o Deus Vivo em que tudo é Vida. Meditemos
as palavras do nosso poeta do amor e da vida: “Eu morro ontem, nasço amanhã.
Ando onde há espaço: - Meu tempo é quando” (Vinicius de Moraes, Poética I).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo
Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Menino Tucano - Pari, Cachoeira – AM, s.d., Araquém Alcântara (1951-), Brasil.