Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
V Domingo da Quaresma
Is 43, 16-21 Fl 3, 8-14 Jo
8, 1-11
ESCUTAR
“Eis que farei coisas
novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 19).
“Uma coisa,
porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na
frente” (Fl 3, 13).
“Então Jesus
lhe disse: Eu também não te condeno. Podes ir e, de agora em diante, não peques
mais” (Jo 8,11).
MEDITAR
Tudo o que é votado à morte
vem terminar na minha vida; tudo o que se torna outono encalha na praia da
minha primavera; tudo o que se desfaz em podridão vem nutrir as minhas flores.
(Hans Urs von Balthasar)
ORAR
As leituras de hoje têm um tema em comum: Deus como produtor da
novidade. O Senhor é aquele que sempre faz uma coisa nova. E a novidade nunca
pode ser separada do risco. Não se dão explicações velhas para os novos
desafios: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” e nem
existe uma única e segura resposta que seja válida para todos os casos. Para
cada desafio existem várias respostas e elas sempre deverão ser dadas por
plenitude e nunca por carência. A resposta dada apressadamente e por carência
se converterá em fracasso, aumentará a desilusão e a angústia e poderá se
transformar num caminho sem volta. O Senhor mostra que o caminho se descobre
caminhando; sua revelação só chega quando nos colocamos em movimento nele e não
antes. Paulo reafirma esta dinâmica: “esquecendo o que fica para trás, eu me
lanço para o que está na frente” e a novidade é sustentada pela esperança e não
por uma entorpecida e restrita acomodação. É inútil parar para termos a certeza
de que estávamos caminhando assim como é inútil afirmar certezas para garantir
que acreditamos. O Senhor nos faz saber que a fé não se possui, mas que somos
possuídos e alcançados por Alguém. O Evangelho revela esta novidade por meio da
contraposição entre as exigências implacáveis da Lei e a estratégia de
misericórdia traçada por Jesus. Os acusadores negam à mulher a possibilidade de
um novo começar e querem, com pedras, não só sepultar o passado desta pecadora,
mas ela própria. Cristo, com seu perdão, liquida definitivamente o passado e
entrega à mulher um futuro imaculado a ser construído por ela mesma. O castigo
dos algozes se tornou estéril, pois a não condenação pelo Cristo reinventa a vida.
As frias exigências se gravam sobre a pedra, mas a misericórdia não está
escrita sobre nenhuma matéria dura. A nova lei – a do amor – se traça no
terreno maleável do coração, sobre a tenra e terna carne da terra. Resta apenas
matar a nossa curiosidade de saber o que escrevia Jesus, com o dedo, no chão do
Templo. Jesus escrevia a condenação aos escribas e fariseus e continua até hoje
escrevendo em silêncio aos moralistas de plantão que se evadem e se esquivam da
barbárie do mundo degenerado que construíram: “As prostitutas vos precedem no
Reino do meu Pai" (Mt 21, 31).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
A mulher apanhada em adultério, c.
1805, William Blake (1757-1827), pena e aquarela em grafite sobre papel, 35,6 x
36,8 cm, Museum of Fine Arts, Boston, Estados Unidos.
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