Como se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
Santo Estêvão, Diácono e Protomártir
At 6, 8-10; 7, 54-59 Mt 10, 17-22
ESCUTAR
Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou, dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito” (At 7, 59).
“Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas” (Mt 10, 17).
MEDITAR
Quando Deus chama um homem para ser profeta, ordena-lhe que vá e morra!
(Dietrich Bonhöeffer)
ORAR
Neste dia seguinte do nascimento de Emannuel, a liturgia da Igreja nos coloca diante da única certeza que temos: a de que o verdadeiro seguimento do Cristo nos conduzirá inevitavelmente ao martírio, pois o “o discípulo não está acima do mestre nem o servo é maior que o seu Senhor” (Mt 10, 24). Estevão denunciava no Templo e diante do Sumo sacerdote: “Duros de cabeça, incircuncisos de coração e ouvidos, resistindo sempre ao Espírito! Sois como vossos pais. A qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Mataram os que profetizavam a vinda do Justo, esse mesmo que agora traístes e assassinastes! Vós, que recebestes a lei por ministério de anjos, e não a observastes” (At 7, 51). O contraponto desfila ante os nossos olhos. Estevão, pleno do Espírito Santo, tem a visão do céu aberto e o seu corpo nu, “templo do Espírito Santo”, é apedrejado com as pedras caídas no entorno do Templo. As vestes de Estevão são deixadas aos pés de Saulo, raízes de ódio e intolerância, que com seus olhos, voltados para o chão, rastreiam os discípulos do Ressuscitado. Devemos responder ao questionamento sob quais poderes colocaremos nossas vidas. Sob o poder do amor, que nos leva a reconhecer no outro amado um ser divino? Ou sob o poder do medo que nos faz erigir o outro em Deus? Esta escolha decidirá sobre o céu ou o inferno em que vamos mergulhar as nossas existências e travessias. Todo elo de amor possui a força de libertar, confirmar, expandir, tanto nós quanto os outros. Ao contrário, todo grilhão de medo, humilha, diminui e reduz à servidão os que se aproximam de nós. O amor enriquece, o medo devasta. O primeiro desmoronamento das nossas certezas é aquele da religião oficial. Os discípulos de Jesus se extasiavam diante do Templo: “Mestre, olha que pedras e que construções!” (Mc 13, 1) assim como nós nos deslumbramos diante dos nossos monumentos, da organização institucional e do tesouro cultural acumulado pelas igrejas no decorrer dos séculos. Bastaria, no entanto, um pouco de atenção para descobrir a fragilidade e a caduquice de toda esta petrificação da vida religiosa. Por mais poderosas que possam ser as escarpas e as muralhas erguidas pelo medo, pela mentira e pela hipocrisia, será impossível fazer escoar nelas a fé, pois o Deus de Jesus Cristo não arquiteta o seu poder pelo aviltamento dos outros. O Evangelho de hoje nos garante outra certeza: quando estivermos numa situação-limite e totalmente atônitos, o Espírito de Deus falará sempre através do nosso ser mais íntimo, pois somos os seus indestrutíveis templos espirituais. A identidade entre Jesus e Estevão se perpetua no momento extremo da entrega: “Pai, em tuas mãos entrego o meu Espírito” (Lc 23, 46) e “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”. Restar-nos-á a justiça das palavras de Jesus: “Vês esses grandes edifícios? Pois desmoronarão, sem que fique pedra sobre pedra” (Mc 13, 2).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
O corpo ensanguentado de Dom Oscar Romero jaz no solo da capela assistido por monjas do hospital, 24 de março de 1980, autor da foto não identificado, San Salvador, El Salvador.
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