A Palavra se fez carne e armou sua tenda
entre nós (Jo 1, 14).
IV Domingo do Tempo Comum
Dt 18, 15-20 1
Cor 7, 32-35 Mc 1,
21-28
ESCUTAR
“O Senhor teu Deus fará surgir para ti, da tua nação e
do meio de teus irmãos, um profeta como eu: a ele deverás escutar” (Dt 18, 15).
“Digo isto para o vosso próprio bem e não para vos
armar um laço. O que eu desejo é levar-vos ao que é melhor, permanecendo junto
ao Senhor, sem outras preocupações” (1 Cor 7, 35).
“Todos ficavam admirados com o seu ensinamento, pois
ensinava como quem tem autoridade, não como os mestres da Lei” (Mc 1, 22).
MEDITAR
Por que Jesus Cristo pode estar no interior de cada um de nós? Porque ele é vazio, vazio, vazio, radicalmente, deste eu possessivo do qual estamos todos doentes.
(Maurice Zundel)
O que dará o homem que tenha o valor da sua vida? Nada, se não for sua própria vida. A única coisa que poderíamos dar que tenha o valor de nossa vida é a nossa vida. E ter fé é acreditar que isto não é um suicídio.
(Cardeal Lustiger)
ORAR
O profeta é escolhido por
Deus para ser um homem da palavra. Ele não é alguém que escolhe uma carreira ou
profissão. Ele é responsável por uma mensagem que não é sua, mas também não é
um simples repetidor. O profeta é um provocador de crises e nos obriga a tomar
posição: “Eu mesmo pedirei contas a quem não escutar as minhas palavras que ele
pronunciar em meu nome”. É um homem condenado à fidelidade à Palavra de Deus. O
profeta, em todos os tempos, é dotado de olhos abertos ao invés do oportunismo;
de liberdade ao invés do servilismo e conformismo; de coragem ao invés do medo;
de inteligência ao invés da superficialidade; de paixão ao invés da indiferença
e de humildade ao invés da presunção e do protagonismo. O profeta só sabe a
autenticidade da sua vocação quando incomoda, cria opositores e recebe injúrias
mais do que privilégios. O médico Albert Schweitzer afirmava: “Se não dizeis
coisas que desagradam alguém não podereis afirmar que dissestes a verdade”.
Jesus testemunha de que não é a palavra que deriva da autoridade, mas a
autoridade que deriva da palavra. Uma palavra que não incomoda e nem provoca
reações é uma palavra emburrecida e, portanto, a verdadeira derrota da palavra.
A palavra de Deus não pode ser pretexto para se falar de outra coisa. As
igrejas abafam a Palavra quando valorizam os casuísmos, quando se imiscuem nas
disputas de poder que nada têm a ver com a mensagem original do Evangelho. Não
se pode falar de outra coisa quando se fala de Deus. Jesus testemunha que os
inimigos do homem são inimigos de Deus e que tudo o que ameaça a dignidade
humana constitui uma blasfêmia contra a glória de Deus. O homem, para Jesus, é
assunto de Deus. Jesus ensina com autoridade, quer que sejamos homens livres e,
por esta razão, homens de Deus, por isso expulsa os demônios interiores que nos
escravizam ainda que seja no dia sagrado do sábado. Os demônios são o caos
existente na fragmentação espiritual das pessoas e da sua autodestruição
contínua: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Viestes para nos destruir?” Jesus
tem a liberdade de infringir a regra sagrada quando se trata de libertar as
pessoas que sofrem. A comunidade eclesial deve cantar como a Esposa do Cântico
dos cânticos: “Ouvi, pois chegar meu amado saltando sobre os montes, pulando
pelas colinas!” (Ct 2, 8) e rezar com toda a Igreja: “Vem, Senhor Jesus” (Ap
22, 20). Vem nos arrebatar para além de nós mesmos, na casa paterna onde, no
banquete nupcial do Cordeiro, comeremos e beberemos Contigo.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe.
Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR