Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
XXIV Domingo do Tempo Comum
Eclo 27, 33-28, 9 Rm 14, 7-9 Mt 18, 21-35
“Se alguém guarda raiva contra o
outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão do seu semelhante,
como poderá pedir perdão dos seus pecados?” (Eclo 27, 3-4).
“Irmãos, ninguém dentre nós vive
para si mesmo ou morre para si mesmo. Se estamos vivos, é para o Senhor que
vivemos; se morremos, é para o Senhor que morremos. Portanto, vivos ou mortos,
pertencemos ao Senhor” (Rm 14, 7-8).
“Senhor, quantas vezes devo
perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não
te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt 18, 21-22).
MEDITAR
Nosso grande erro é tentar obter de cada um em particular as virtudes que ele não tem e negligenciar o cultivo das virtudes que ele possui.
(Marguerite Youcenar)
Todo grupo humano se enriquece na comunicação, na ajuda mútua e na solidariedade visando o bem comum: o desabrochar de cada um no respeito das diferenças.
(Françoise Dolto)
ORAR
Após
recomendar o amor fraterno como constitutivo da comunidade, Jesus convida os
seus discípulos para ir mais longe, até o perdão das ofensas, sem limites e sem
voltas. Setenta vezes sete é a vingança extrema citada nos velhos contos
épicos: “Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta e
sete” (Gn 4, 24). Pedro ainda não compreendera que o perdão não é um prêmio,
uma imposição, mas uma estupenda possibilidade; não um peso, mas uma
libertação. O perdão é uma inacreditável possibilidade que nos é oferecida de
fazer o mesmo gesto misericordioso e sem limites do Pai que zera todas as
contas e anula todas as dívidas. O perdão, e tão somente ele, nos garante a
certeza de virar a regra do jogo marcada pela ofensa, pela violência, pelo ódio
do adversário, pela vingança, pelo rancor e pelo ressentimento. Nem Pedro e nem
André, seu irmão, frequentaram a escola, pois desde cedo tiveram que aprender,
com o seu pai, o ofício de pescador. E Pedro só conseguiu contar até sete na
tentativa de regulamentar o perdão ao fixar um teto limite. Jesus lhe revela
que não há cifras para o amor, que não existe “a última vez”, mas somente
limites continuamente superáveis. “Sim, o amor é êxtase; êxtase não no sentido
de um instante de inebriamento, mas como caminho, como êxodo permanente do eu
fechado em si mesmo para sua libertação no dom de si e, precisamente dessa
forma, para o reencontro de si mesmo, mais ainda para a descoberta de Deus”
(Bento XVI, Deus Caritas Est). No
calendário cristão todo o dia é sempre dia de amar e de perdoar sem medidas. É
o momento de inverter as preocupações e perguntar quantas vezes fizemos danos
aos outros, pois também podemos ofender e escandalizar os nossos irmãos e
irmãs. Temos que aniquilar o perdão regulamentado porque ele é sempre de mão
única e um perdão de superioridade, de cima para baixo e, portanto, um perdão
sem as entranhas da compaixão. Pedro só descobriu o perdão quando se tornou um
devedor insolvente pela negação que fez de Jesus: “Não conheço este homem!” (Lc
22, 57). O perdão cristão, como a misericórdia do Pai, não entra em nenhuma
medida humana e, por isso, por mais que queiramos, será impossível tomar posse
dele e reservá-lo para nós. Que não sejamos nós a perguntar ao Cristo: quantas
vezes podemos ser generosos como fostes conosco?
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo
Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Emoção, 2015, Londres, Kevin
Mullins, Wiltshire, Inglaterra.
Que reflexão tocante. Faz muito bem a quem lê!
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