Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
XXVI Domingo do Tempo Comum
Ez 18, 25-28 Fl
2, 1-5 Mt 21, 28-32
ESCUTAR
“Quando um ímpio se arrepende da maldade que praticou
e observa o direito e a justiça, conserva a própria vida” (Ez 18, 27).
“Nada façais
por competição ou vanglória, mas, com humildade, cada um julgue que o outro é
mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro”
(Fl 2, 3-4).
“Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e
as prostitutas vos precedem no reino de Deus” (Mt 21, 31).
MEDITAR
Se eu fosse um demônio, para tentar a um grupo religioso sério, pedir-lhe-ia que criasse muitas leis e regras e que logo organizassem sua vida. Os membros desse grupo poderiam pensar que a observância destas leis é o caminho para servir a Deus, mas gradualmente Deus se retiraria. Logo após isto, em nome da busca da verdade, eles propagariam essas leis mediante palavras e ideias... tudo isso em nome de Deus. Pouco a pouco, eles mesmos tomariam o lugar de Deus.
(Shigeto Oshida)
ORAR
O profeta nos faz saber da nossa responsabilidade individual e cada um de nós é responsável pelo momento presente, dono do seu próprio destino e artífice do seu futuro. Se somos o que somos devemos a nós mesmos. Se não somos o que queríamos ter sido não é justo descarregar as culpas nos DNAs familiares. É muito cômodo responsabilizar a sociedade, as estruturas, o ambiente familiar e o sistema. Atualmente as pessoas não se arrependem nem do bem e nem do mal que fazem e continuam sem se perguntar sobre os conteúdos da vida e da direção que caminham. O Evangelho nos mostra dois filhos arrependidos. O primeiro não quis ir para vinha, mas depois foi; o segundo quis ir, mas não foi. A Igreja de hoje deve temer mais os consensos superficiais, as aprovações entusiastas, as declarações que nada custam e as aclamações hipócritas. Muita gente diz sempre Sim, em qualquer circunstância e em todas as partes, mas a sua prática é um redondo Não. Toda obediência ostensiva é suspeita, pois pode ser um recurso sutil para se esquivar das tarefas mais ingratas. Os aplausos dificilmente abrem para um compromisso concreto e silencioso. Nós, cristãos do século XXI, não inventamos absolutamente nada. Continuamos a viver numa sociedade e em igrejas nas quais cada um busca o próprio interesse e o próprio êxito; pisando uns sobre os outros para ascender em status e poder. A mensagem da parábola é clara: diante de Deus, o importante não é falar, mas fazer. O decisivo não é prometer ou confessar, mas cumprir a Sua vontade. A tradição rabínica repete: “Os justos dizem pouco e fazem muito; os ímpios dizem muito e não fazem nada”. Os escribas falam constantemente da Lei e o nome de Deus está sempre em seus lábios. Os sacerdotes do Templo louvam a Deus sem descanso e suas bocas estão cheias de salmos. Ninguém duvidaria de que estivessem fazendo a vontade do Pai. Mas as coisas não são sempre como parecem. Os cobradores de impostos e as prostitutas não falam a ninguém de Deus e Jesus tem compaixão para com eles. O Credo que pronunciamos repetitivamente é inócuo se vivemos sem compaixão. Nossos pedidos de paz e justiça são estéreis se nada fazemos para construir uma vida mais digna para todos. Nós, cristãos, construímos magníficos sistemas de pensamento para recolher a doutrina cristã com profundidade. No entanto, a verdadeira vontade do Pai é vingada pelos que traduzem em atos de compaixão o Evangelho de Jesus.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
O Bom
Samaritano,
1885, Ferdinand Hodler (1853-1918), óleo sobre tela, Museu de Arte Moderna de
Zürich, Suíça.