sábado, 27 de agosto de 2022

O Caminho da Beleza 40 - XXII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XXII Domingo do Tempo Comum             

Eclo 3, 19-21.30-31         Hb 12, 18-19.22-24          Lc 14, 1.7-14

 

ESCUTAR

É aos humildes que ele revela seus mistérios (Eclo 3, 20).

Mas vós vos aproximastes do monte Sião e da cidade do Deus vivo, a Jerusalém celeste (Hb 12, 22).

“Porque quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado” (Lc 14,11).

 

 MEDITAR

O mal do nosso tempo é a superioridade. Há mais santos do que nichos.

(Honoré de Balzac)

 

ORAR

     No banquete do Reino não sentarão os que praticam o carreirismo mais desenfreado, a vaidade mais descarada e a ostentação mais vergonhosa. Muito menos os que buscam as posições de privilégio e os que ostentam suas torpes autopromoções. No banquete do Reino será considerada a pequenez e a humildade valerá como a titulação mais acreditada. As precedências serão invertidas e sentarão à mesa os que nada têm para dar em troca, os pobretões que não nos garantem nenhuma vantagem social. Temos que nos acostumar a oferecer sem nada esperar e sem nada conceder aos interesses e vaidades. A hospitalidade oferecida aos segregados e proscritos constitui uma garantia para não sermos excluídos do Reino. Jesus apresenta duas dimensões que confrontaram os costumes religiosos de sua época: a humildade e a gratuidade do amor. A humildade cristã não é nos desprezar a nós mesmos e nem nos diminuir diante dos outros, pois isto pode ser uma forma de orgulho. A soberba e o orgulho são os maiores obstáculos para o amor. Jesus nos faz conhecer a chave de todo o seu discurso: “Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. Haverá uma recompensa divina de uma qualidade completamente diferente do que esperamos. A experiência cristã é, antes de tudo, compartilhar o amor que vem de Deus e que cumula de alegria e ternura o nosso coração. Jesus conhece a deplorável tendência de nos colocarmos acima de todos por querer simplesmente aparecer poderosos aos olhos dos outros. Jesus revela o sentimento louco de Deus que, no banquete do Reino, reserva os melhores lugares para os pobres e para os últimos: “Há últimos que serão primeiros e primeiros que serão os últimos” (Lc 13, 30).

(Manos da Terna Solidão/ Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

Cordeiro recém-nascido se aconchega com menino dormindo, 1940, Foto de Williams/Fox, Getty Images, Inglaterra.





quinta-feira, 18 de agosto de 2022

O Caminho da Beleza 39 - Assunção de Nossa Senhora

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Assunção de Nossa Senhora 

Ap 11, 19; 12, 1.3-6.10                1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56

 

ESCUTAR

“Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1).

“O último inimigo a ser destruído é a morte” (1 Cor 15, 26).

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” (Lc 1, 42).

 

MEDITAR

“Maria de Nazaré abandonando-se totalmente à vontade do Senhor, não foi de nenhuma maneira uma mulher passivamente submissa ou de uma religiosidade alienante, mas a mulher que não temia proclamar que Deus é aquele que eleva os humildes e oprimidos e derruba dos seus tronos os poderosos do mundo (Lc 1, 51-53)”.

(Groupe des Dombes)

 

ORAR

    Estamos a caminho para a ressurreição e não para a morte. O dom da vida eterna restitui à existência a sua dimensão de plenitude, resgatando-a da sua precariedade e limitação. O céu não é uma chantagem para adestrarmos meninos e meninas bem-comportados, mas uma possibilidade inaudita e um apelo à liberdade. Não devemos temer a morte, mas uma vida restrita e perdida com coisas irrisórias, sufocada por preocupações mesquinhas, sem ímpeto, sem élan, sem a descoberta de novas possibilidades. Hoje festejamos a festa do corpo, de um corpo destinado à imortalidade. Caem por terra os dualismos maniqueístas do corpo e alma, pois a corporeidade do homem – soma, psique e pneuma, corpo, alma e espírito – participam da glória. Hoje reafirmamos que o sentido do corpo nessa experiência do céu na terra é a oração. E orar significa desatar-se. Temos nossos corpos transformados pela Palavra do Senhor e transparentes de Deus. Devemos ser como Davi que dançava à frente da Arca da Aliança e não múmias que não rezam com o corpo sem permitir que os rostos se convertam em risos diante do Senhor. A Criação é fruto da dança maravilhosa do Senhor. João Batista dançou no ventre de Isabel quando se aproximou da presença do mistério escondido no ventre de Maria. A Arca da Aliança não aparece mais colocada no marco solene do templo, mas a caminho e em forma de uma mulher de carne e osso que leva um filho em seu ventre. Entre Maria e Isabel existe uma cumplicidade das entranhas e seus corpos, com os de seus filhos, são visibilidades e visões da transcendência. Deus tem pressa para encontrar o homem, encurta caminho e se faz transportar por uma peregrina da fé, desconhecida, pobre, humilde que, no seu silêncio, compreendeu que Deus tem pressa para entrar em sua casa. Maria se converte na imagem perfeita da humanidade divinizada. Meditemos as palavras do poeta: “Dançava para o escriba e o fariseu, mas não quiseram nem dançar e nem me seguir. Dançava para os pescadores, para Thiago e André, que me seguiram e entraram na dança. Dançava no dia de sábado e curei um paralítico e os justos disseram que era uma vergonha. Sepultaram o meu corpo acreditando que tudo acabara, mas eu sou a dança e dirijo sempre o baile. Guiarei a dança de vós todos em qualquer parte que vos encontreis. Quiseram eliminar-me, mas saltei mais acima porque sou a vida que não pode morrer e viverei em vós e vós vivereis em mim, porque Eu Sou: o Senhor da Dança” (Sidney Carter).

(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)

 

CONTEMPLAR

A Virgem em oração, 1640-50, Giovanni Battista Salvi da Sassoferrato (1609-1685), Roma, Itália,  National Gallery, Londres.




quinta-feira, 11 de agosto de 2022

O Caminho da Beleza 38 - XX Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XX Domingo do Tempo Comum                 

Jr 38, 4-6.8-10                 Hb 12, 1-4               Lc 12, 49-53

 

ESCUTAR

“Pedimos que seja morto este homem; ele anda com habilidade lançando o desânimo entre os combatentes que restaram na cidade e sobre todo o povo” (Jr 38, 4).

Irmãos, rodeados como estamos por tamanha multidão de testemunhas, deixemos de lado o que nos pesa e o pecado que nos envolve (Hb 12, 1).

“Eu vim para lançar fogo sobre a terra e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12, 49).

 

MEDITAR

Mas não podemos fazer um cristianismo um pouco mais humano – dizem – sem cruz, sem Jesus, sem despojamento? Dessa forma nos tornaríamos cristãos de pastelaria, como lindos bolos, como boas coisas doces! Muito lindos, mas não cristãos verdadeiros! (Francisco, A Igreja da Misercórdia).

 

ORAR

    A palavra profética quando não assegura bem-estar e incomoda os poderes é considerada subversiva e deve ser calada por todos os meios. O profeta é martirizado de um modo nada heroico: enfiado numa cisterna de lama fétida para ir afundando lentamente. A semente da Palavra estava para morrer se o rei não escutasse o conselheiro honesto e retirasse o profeta da fossa. O salmista canta: “De estercore elevat pauperum” [Tirou o pobre da m..., em tradução literal] (Sl 113, 7), pois o pobre liberto é a mais perfeita profecia de Deus. A Palavra desprezada, escarnecida, pisoteada, emerge novamente para abalar as consciências amortecidas. Se na cisterna a palavra é condenada a morrer de um modo ignominioso, é no fogo que ela é difundida. O homem da palavra deve abrigar o fogo em si mesmo, pois os inimigos poderão transformar em cinzas todos os livros sagrados, mas jamais apagarão o fogo da palavra atiçado no coração dos homens. Se a vida é fogo, aquele que anuncia a palavra é um apaixonado devorado por um fogo incontido. A causa do Evangelho não necessita de intelectuais pálidos de clergyman, nem burocratas cinzas e pregadores inofensivos. Uma palavra sem unção e nem vibração interior é uma palavra traída assim como uma verdade sepultada nas cinzas da rigidez é uma verdade ofendida. O Evangelho se difunde pelo contágio do fogo interior que não pode ser confundido com o calor dos spots dos shows televisivos. Jesus veio trazer uma fé que deve ser convertida em incêndio. Ser apaixonado significa padecer. O lenho da Cruz serve para queimar e não se deixar apagar. O cristianismo deve penetrar na injustiça do mundo e desvelar os que aceitam e os que não aceitam as consequências do amor. O conflito não nasce do Evangelho, mas da dureza do coração dos que o ouvem. Quem está próximo de Jesus está próximo do fogo. O cristianismo nos apela a viver nas situações-limite, como testemunha o Papa Francisco. O Concílio nos exorta a perscrutar os sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho para sermos capazes de oferecer repostas às grandes questões humanas a respeito do sentido da vida presente e futura. É preciso conhecer e compreender o mundo em que se vive, sua índole, muitas vezes dramática, suas expectativas e seus desejos (Gaudium et Spes 4).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

On the Edge, 2022, Jean Patrick Gras, Praia da Ferrugem, Santa Catarina, Brasil, direitos adquiridos de imagem do site surfmappers. 




quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O Caminho da Beleza 37 - XIX Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XIX Domingo do Tempo Comum               

Sb 18, 6-9                Hb 11, 1-2.8-19                  Lc 12, 32-48

 

ESCUTAR

“A noite da libertação fora predita a nossos pais para que, sabendo a que juramento tinham dado crédito, se conservassem intrépidos” (Sb 18, 6).

“A fé é um modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que não se veem” (Hb 11, 1).

“Porque onde está o vosso tesouro aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34).

 

MEDITAR

“Os nossos sonhos são demasiado pequenos e, se Deus os desfaz, é para que nos possamos aventurar no espaço mais vasto da sua Vida. Deus liberta-nos de pequenas ambições para que possamos aprender a ter uma esperança mais extravagante”.

(Timothy Radcliffe)

 

ORAR

     Nossos hinos de louvor a Deus não podem ser confundidos com os Te Deum entoados com excessiva frequência pelos tiranos nos seus regimes autoritários e nem deveríamos celebrar a missa em praça pública no aniversário das cidades destruídas pela corrupção dos seus governantes. Perdemos a denúncia profética e não temos autoridade religiosa para denunciar, como o papa Francisco, “os que exploram a pobreza dos outros, e para quem a pobreza dos outros é uma fonte de lucro” (Homilia em Lampedusa, 08.07.2013). A luz da Páscoa e a sua alegria brilham somente quando nenhum homem é pisoteado em sua dignidade e em sua liberdade. A vigilância, especialmente quando a noite parece que nunca vai terminar, se sustém pela esperança e exige: uma mentalidade de peregrinos, com nossos rins cingidos e lâmpadas acesas; a lucidez ante os perigos que nos ameaçam; uma fidelidade constante e uma grande sabedoria para aprender a ler os sinais, interpretar a mudança dos ventos e a coragem de responder aos novos desafios. O passado passou ainda que seja importante para nos fazer avançar cada vez mais. Recebemos em abundância para sermos ousados e não paralisados pelo medo. A fé é viver como se víssemos o invisível; como se possuíssemos o que não temos; como se apostássemos sobre o impossível. A fé não se encontra segura nos templos, nos palácios do governo, nas universidades, como um selo de garantia. A fé está em casa quando está em tendas cuja dinâmica é marcada pelo provisório e pelo transitório que respondem por uma peregrinação constante. Como afirma o cardeal Walter Kasper: “Deus se revela como Deus do caminho e como guia no percurso de uma história que não pode ser consolidada na partida, mas na qual Ele estará sempre presente de uma maneira imprevisível e na qual é sempre novamente o futuro de seu povo”. Os cristãos, ao invés de ficarem instalados, preferem a espera de contínuas e incômodas saídas para desafiadoras viagens. Os cristãos não se consideram depositários e guardiões dos pensamentos de Deus ou de uma doutrina sobre Deus, mas se sentem tocados por suas promessas. Por isso, debaixo de suas tendas não se preocupam em doutrinar-se, mas em contar estórias e causos de suas travessias. Peçamos também nós o perdão, como o Papa Francisco, “por termos nos acomodado, fechando-nos em nosso próprio bem-estar que leva à anestesia do coração”.

 (Manos da Terna Solidão)


CONTEMPLAR

Rebanho de Ovelhas, 2020, a árdua e empoeirada viagem das ovelhas em Bitlis, Turquia, F. Dilek Uyar, Sony World Photography Awards, Ancara, Turquia.