quinta-feira, 30 de junho de 2022

O Caminho da Beleza 32 - São Pedro e São Paulo

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

São Pedro e São Paulo             

At 12, 1-11                2 Tm 4, 6-8.17-18            Mt 16, 13-19

 

ESCUTAR

“O anjo tocou o ombro de Pedro, acordou-o e disse: ‘Levanta-te depressa!’” (At 12, 7).

“Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé” (2 Tm 4, 7).

“Tu és o Messias, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16).

 

MEDITAR

Nós devemos nos dar e só nos possuímos à medida do dom que fazemos de nós mesmos. Nós só nos expandimos na gratuidade. Nossa liberdade consiste precisamente viver desta gratuidade, a existir em ação de graças e a passar da servidão ao serviço (Jean-Guy Saint Arnaud).

 

ORAR

    A Igreja de Jesus, pobre e hospitaleira, nunca poderá estar aprisionada aos grilhões do poder, sejam os da perseguição ou os dos privilégios. Os mistérios foram e são revelados pelo Pai aos pequenos e não aos eruditos ou astutos. Pedro pertence à categoria dos simples seguidores que vivem com o coração aberto. É Jesus quem constrói a Igreja. Ela é sua e Jesus não a constrói sobre a areia. Pedro, como nós, será uma pedra nesta Igreja não por ter a solidez e a firmeza de temperamento. Pedro, honesto e apaixonado, é também inconstante e inconsistente. Seu poder repousa, simplesmente, sobre a sua fé em Cristo. Pedro é libertado da boca do leão, os dois sustentáculos do poder utilizados, em todo tempo, para a submissão de todos: o Estado e a Religião. Pedro exclama: “Agora eu sei, de fato, que o Senhor enviou o seu anjo para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava”. A Igreja de Jesus vive da sua dimensão peregrina diversa e plural. Uma Igreja que durante a sua existência enfrentará situações de dilaceramentos e que nelas forjar-se-á como uma Igreja solidária e portadora da paz para todos os que sofrem perseguição por amor à justiça. Paulo, o que vive na liberdade do Espírito, revela que a travessia é duelo: combater, completar a corrida e guardar a fé. É a de sermos testemunhas vivas de que, apesar de tudo, somos capazes de manter a lealdade à comunidade fraterna de Jesus na qual aquele que se perde é o que se encontra. O Concílio Vaticano II vai consagrar a Igreja do Serviço: “Nenhuma ambição terrestre move a Igreja. Com efeito, guiada pelo Espírito Santo, ela pretende somente uma coisa: continuar a obra do próprio Cristo, que veio ao mundo para dar testemunho da verdade, para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido” (Gaudium et Spes, 3). Devemos ter cuidado ao usarmos metáforas para a Igreja de Jesus, sobretudo a da barca. No final do livro de Atos, todos são salvos não por estarem protegidos na barca, mas pela partilha do pão abençoado na presença de todos, por todos comido e, por isso, animados, alimentados e saciados. A barca encalhou nas correntes de suas próprias âncoras e, ironia do destino, ficou presa em si e por si mesma (At 27, 41). A comunidade eclesial deve ser a comunidade concreta de homens e mulheres, a Igreja de Jesus, que vai ao encontro e ao diálogo com todos os outros homens e mulheres do mundo. Uma Igreja pobre, mas rica de compaixão que não faz nas barcas do poder a sua travessia para a vida eterna, pois o Senhor prevenira que destas barcas sobrarão apenas os pedaços espalhados pelo mar da história.

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Navegantes, Salvador, 1949, Pierre Verger (1902-1996), Galeria Fundação Pierre Verger, Salvador, Bahia.




quarta-feira, 22 de junho de 2022

O Caminho da Beleza 31 - XIII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XIII Domingo do Tempo Comum               

1Rs 19, 16.19-21                Gl 5, 1.13-18                       Lc 9, 51-62

 

ESCUTAR

“Vai e unge a Eliseu, filho de Safat, de Abel-Meula, como profeta em teu lugar” (1 Rs 19, 16).

“Mas, se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não seres consumidos uns pelos outros” (Gl 5, 15).

“As raposas têm tocas e os pássaros têm ninhos; mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lc 9, 58).

 

MEDITAR

Insegurança? É uma graça de fé. A mais desconfortável para aquele que pensa apenas em dormir. A mais adequada para a vigilância... A Cristo foi oferecido escolher entre duas estabilidades: o trono e a cruz. Cristo escolheu a cruz: fez dela o seu trono e o banco do seu reino. Infelizmente, no curso da história, a Igreja muitas vezes preferiu o trono. Especialmente depois que o edito de Constantino tornou a cruz mais difundida e o trono mais cúmplice (Christian de Chergé, monge trapista assassinado na Argélia, em 1996).

 

 ORAR

   As leituras deste domingo nos falam das exigências da vocação e a maior delas é a necessidade do desprendimento, da renúncia, do abandono das coisas e das pessoas queridas. Não existe resposta ao chamado para nos colocarmos à serviço do reino que não comporte dilacerações profundas. Toda chamada está sob o signo da urgência e “Deus é urgente sem pressa” (Guimarães Rosa). A frase de Jesus traduzida como “tomou a firme decisão” não tem a força do texto grego que diz, literalmente, “endureceu o seu rosto”. Mais do que expressar severidade, o rosto endurecido expressa determinação, vontade de chegar até a raiz das coisas apesar do preço a pagar: hostilidades e proscrição. Jesus manifesta, no seu semblante, a intrépida resolução de ir para Jerusalém. Jesus faz exigências extremas. A primeira, a disponibilidade para viver na insegurança: “As raposas têm tocas e os pássaros tem ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça”. A segunda, a ruptura com o passado: “Deixa que os mortos enterrem seus mortos, mas tu, vai anunciar o Reino de Deus”. A terceira, é uma decisão irrevogável: “Quem põe a mão no arado e olha para trás não está apto para o reino de Deus”. Nada de vacilos ou concessões. O compromisso é total, definitivo e se nutre de uma promessa e não de quimeras nostálgicas. Paulo nos exorta: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”. A liberdade é exigente porque o amor é exigente e o critério último que define as pessoas livres é o amor. No entanto, os abraços fraternos não anulam o costume de nos devorar, mutuamente, com murmúrios, rótulos e calúnias. O Papa Francisco sustenta: “As fofocas sempre vão sob a dimensão da criminalidade. Não existem fofocas inocentes e são elas que destroem a comunidade cristã”. Aos fanáticos da mortificação e jejum nunca é demais prevenir que é melhor comer carne e beber vinho do que comer, com calúnia e maledicência, a carne dos irmãos.

 (Manos da Terna Solidão)

 

 CONTEMPLAR

 S. Título, 2001, Richard Kalvar (1944-), Calendário Lavazza, 2001, “Friends & More”, fotos de Richard Kalvar e Martine Franck nos cafés de Paris, França.




quarta-feira, 15 de junho de 2022

O Caminho da Beleza 30 - XII Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XII Domingo do Tempo Comum                            

Zc 12, 10-11; 13, 1             Gl 3, 26-29             Lc 9, 18-24

 

ESCUTAR

“Derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração; eles olharão para mim” (Zc 12, 10).

“O que vale não é mais ser judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois um só em Jesus Cristo” (Gl 3, 28).

“Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9, 24).

 

MEDITAR

“Não é o heroísmo que será enaltecido, mas a oferenda obscura e aparentemente inútil de uma vida que não é senão o amor, sinal do amor de Deus em meio ao inferno que os homens, às vezes, sabem organizar” (Jean-Marie Lustiger, Cardeal Arcebispo de Paris).

“Peço a Deus que te esteja sempre presente. A todo instante. E que te ensine a gozares do Amor. Isto é de te deixares amar. Porque não sabemos como nos abrir às ternuras divinas.... e só Ele nos pode ensinar isso” (Madre Belém).

 

ORAR

Quando Jesus se afasta para orar sozinho, prepara sempre algo decisivo. Neste evangelho, a questão fundamental se refere à identidade de Jesus: “Quem diz o povo que eu sou?”. Esta pergunta prepara a verdadeira questão: “E vós quem dizeis que eu sou?”. Esta indagação será perturbadora em todos os tempos e lugares. O Cristo de Deus nos chama a segui-Lo e a assumir o sofrimento, a humilhação e a derrota. Este Ungido é motivo de escândalo, pois seu caminho não é triunfal, mas passa pela proscrição dos poderes civil-econômico, político e religioso. A condição do seu seguimento: a renúncia e a cruz. Jesus pode abrir exceções por amor, mas nunca faz concessões aos que decidem caminhar com Ele. É paradoxal perder a vida para ganhá-la. A alternativa entre “ganhar ou perder” é a alternativa entre interpretar a vida com o pressuposto das vantagens e dos interesses pessoais e a disponibilidade de fazer dela um dom para desperdiçá-la, como o Cristo, em favor dos outros. O cristão não é o herói do excepcional, do gesto virtuoso, mas o humilde portador de uma cruz ordinária e cotidiana feita de pequenas coisas nem sempre agradáveis. A verdade íntima do Evangelho é revelada: perder nossa vida por amor do Cristo é o que pode justificar cada renúncia nossa, é a verdadeira beatitude possível, aqui e agora. A cruz é tudo o que nos acontece e não podemos evitar. É tudo que desejaríamos que não nos acontecesse. A nossa cruz de cada dia, em alguns momentos mais aguda e dramática, não tem um sentido diferente do que teve para o Cristo. A cruz da Ressurreição nos chama a “cumprir em nós o que falta à paixão do Cristo’ (Cl 1, 24).

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

Foto do local onde tombou assassinada pelas costas com seis tiros, em 2005, aos 73 anos de idade, a irmã Dorothy Mae Stang, Anapu, Pará, Brasil.



quarta-feira, 8 de junho de 2022

O Caminho da Beleza 29 - Santíssima Trindade

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Santíssima Trindade               

Pr 8, 22-31              Rm 5, 1-5                Jo 16, 12-15

 

ESCUTAR

“Assim fala a sabedoria de Deus: O Senhor me possuiu como primícias de seus caminhos, antes de suas obras mais antigas; desde a eternidade fui constituída, desde o princípio, antes das origens da terra” (Pv 8, 22-23).

A tribulação gera a constância, a constância leva a uma virtude provada, a virtude provada desabrocha em esperança (Rm 5, 3-4).

“Tenho ainda muita coisa a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da verdade, ele vos conduzirá à plena verdade” (Jo 16, 12-13).

 

MEDITAR

“Alguns de nós acreditam que Deus é Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante” (Julian de Norwich).

“O amor é o único ímpeto que é suficientemente avassalador para nos forçar a deixar o confortável abrigo da nossa individualidade bem protegida, a pôr de lado a concha inexpugnável da autossuficiência e rastejar nus para a zona do perigo, lá para a frente, para o cadinho em que a individualidade se purifica para aparecer a personalidade” (Mark Patrick Hederman, OSB)

 

ORAR

       Neste domingo é preciso nos deixar envolver pelo ritmo terno deste dinamismo de amor no qual se concretiza o mistério: 1+1= 3. A reciprocidade entre o Eu do Pai e o Tu do Filho gera o Espírito de Liberdade e de Amor que nos faz comungar da intimidade entre o Pai e o Filho: “Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará é meu”. A Trindade nos desvela e comunica o ilimitado deste amor gerado, pois “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado”. A plena revelação da sabedoria de Deus é estar junto aos homens e mulheres no sofrimento e na doação até o fim para que possamos conhecer e enfrentar “as tramas do mundo”, pois a sabedoria penetra tudo como “um reflexo da luz eterna, espelho nítido da atividade de Deus e imagem de sua bondade” (Sb 7, 26). O mundo é a morada da Trindade, pois Deus no mundo e o mundo em Deus são a transfiguração do mundo pelo Espírito. Basta a nós sermos dóceis a esta dança trinitária que nos envolve e nos conduz. Basta deixar que ela abra nossos olhos, aponte-nos o caminho a seguir, acompanhe-nos com seus conselhos para que não aconteça de endurecermos a cabeça e o coração, insistindo em caminhar em sentido contrário ao que nos mostra a Trindade (cf. Sl 32). Somos chamados à explosão de Vida que emerge desta comunhão pessoal, trinitária e nupcial. A vida na Trindade nos faz conhecer o ódio – a falta de amor – que é o pecado com o Filho; a cegueira – a negação da fé – que é o pecado contra o Espírito; o desespero que é o pecado contra o Pai pela recusa do Infinito e pela escolha de se viver na asfixia do que é finito, limitado e sem horizontes. Paulo nos garante que o Espírito intercede em nosso favor, a todo tempo e a todo instante, pois circulando visceralmente nas nossas veias ama e se entrega à sua comunidade eclesial, como o amado se entrega à sua amada: “Beija-me com os beijos da sua boca” (Ct 1, 1). Jamais poderemos esquecer que é no silêncio de sua plenitude amorosa e do seu gozo infinito que o Pai, revelado pelo Filho, escuta o Espírito Santo “interceder em nosso favor com gemidos inefáveis” (Rm 8, 26). A dança da Trindade é como o êxtase dos noivos ao se entregarem, em mútua oferenda, para a realização plena de suas núpcias. Neste exato momento, único e intransferível, a vida ordinária se esgota, transformando-se no mistério extraordinário de ser e existir.

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

S. Título, 1977, affiche do Thèâtre de la Ville, Paris, França.




 

quarta-feira, 1 de junho de 2022

O Caminho da Beleza 28 - Pentecostes

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

Pentecostes           

At 2, 1-11                  1 Cor 12, 3b-7.13-13                    Jo 20, 19-23

 

ESCUTAR

“Todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua” (At 2, 6).

“A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum” (1 Cor 12, 7).

“E depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’” (Jo 20, 22).

 

MEDITAR

“Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a Terra, deveis embriagar-vos sem tréguas. Mas de quê? De vinho, de poesia ou de ternura, à vossa escolha. Mas embriagai-vos. E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a Deus, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio e Deus vos responderão: ‘São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de ternura, à vossa escolha’”.

(Charles Baudelaire)

 

ORAR

     Tentemos deixar fluir ao menos uma vez na vida o sopro do Espírito no meio e dentro de nós. Deixemos que sejam varridos das cabeças todos os símbolos do poder: coroas, solidéus, mitras com todas as máscaras e disfarces que ornam as liturgias do poder. Permitamos que o sopro arranque as páginas dos nossos códigos, que leve para o mais longe as sandices dos nossos discursos políticos, sociais e religiosos e assistamos o fogo se ocupar de queimá-los para que nunca mais pretendam dosificar a sua força. Com certeza, será um ganho para todos nós. Ele não sopra para garantir a ordem, para avalizar decisões que prejudiquem o Bem Comum e nem desempenha a função de juiz em nossos jogos com as regras determinadas por nós e para o nosso sucesso. Façamos, ao menos uma vez, com plena confiança no Espírito da Liberdade, a prova de acolher este mesmo Espírito como elemento perturbador, verdadeira inspiração, desmonte das regras fixadas de antemão e portador de coisas jamais vistas, ouvidas e experimentadas antes. Tenhamos a coragem de sermos habitados pelo vento e pelo fogo. É o Espírito de verdade que vem a nós e nos produz como homens e mulheres que não temem as travessias plurais da vida. O Ressuscitado abre o futuro, abre a porta e abre a esperança do possível. Pentecostes é a festa de todos os possíveis. O Espírito acende em nós uma paixão e uma nova criação nasce de um colossal incêndio que nos deixa enamorados e nos surpreende com as palavras apaixonadas que por falso pudor nunca nos permitimos, publicamente, dizer. O Espírito – vento e fogo – rompe os limites das alcovas e das salas e brinca, diverte-se e ri da nossa sisudez e pretensa seriedade. Vento e fogo são incontroláveis, imprevisíveis e a nova aliança que trazem nos faz orbitar fora de nós e encontrar os outros conhecidos e desconhecidos num abraço amoroso e livre. Os discípulos foram considerados embriagados, pois novamente despertavam entusiasmados para anunciar, em todas as línguas, as maravilhas do Senhor. Toda a tentativa de administrar a ação do Espírito e falar em seu nome será um contra senso. O Espírito de Jesus se encontra na oração, na solidariedade, no perdão, na palavra comprometida e na misericórdia que superam todas as fórmulas e as frases de conveniência, os conselhos moralizantes e as respostas pré-fabricadas. Jesus nos fala de um pecado contra o Espírito que nunca terá perdão. É a blasfêmia de conceder ao Espírito apenas um sussurro e uma sutil e vigiada fissura ao invés de janelas e portas abertas dos corações. O pecado irreparável é a pretensão de falar da coragem cristã e oferecer ao Espírito um pouco menos da metade de todo o resto que concedemos ao medo e a angústia. O pecado sem perdão é falar de Pentecostes sem nunca nos permitir experimentar e viver até as últimas consequências a sua embriaguez.

(Manos da Terna Solidão)

 

CONTEMPLAR

O Espírito Santo, 2012, Latimer Bowen (1950-), Abilene, Texas, Estados Unidos.