Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
XXIV Domingo do Tempo Comum 12.09.2021
Is
50, 5-9 Tg 2, 14-18 Mc 8, 27-35
ESCUTAR
O Senhor abriu-me os ouvidos; não lhe resisti nem voltei atrás (Is 50, 5).
A fé, se não se traduz em obras, por si só está morta (Tg 2, 17).
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga” (Mc 8, 34).
MEDITAR
O grande milagre, tão grande que a gente não o vê, por estar perto demais dos olhos, é: a vida que se renova sob a fé em Cristo; a vida que sempre cria nova coragem e que não desanima nunca; vida que aguenta perseguição, que chega a morrer, mas que ressuscita sempre; vida que renova os outros pela simples presença; vida que confunde por causa da sua grande riqueza, apesar da pobreza em que se vive. Este é o milagre, ambulante e contínuo, provocado pela ação do Espírito, presente na vida dos homens.
(Carlos Mesters, 1931-, Países Baixos)
ORAR
A tentação é grande de gritar por injustiça, de dizer que Deus
exige muito de nós, que nossa cruz é mais pesada que a dos outros. Uma velha
história conta a revolta semelhante de um homem simples e sincero. O anjo o
conduz então a uma porção de cruzes de diferentes tamanhos e lhe propõe escolher
uma delas. O homem procura a mais leve e percebe justamente que era a sua! O
homem nunca é tentado para além de suas forças. Deus nos apoia nesse momento
decisivo. Ele espera de nossa fé um ato viril, a plena e consciente aceitação
de nosso destino; ele pede que o assumamos livremente. Ninguém pode fazê-lo em
nosso lugar, nem mesmo Deus. A cruz é feita de nossas fraquezas e de nossas
quedas; ela é construída por nossos impulsos ofegantes e, sobretudo, por nossas
trevas profundas onde se move a surda resistência e se encrusta a inconfessável
e cúmplice torpeza. Enfim, ela é carregada de toda complexidade que, nesse
momento preciso, é o nosso eu autêntico. Ora, “Ame teu próximo, como a ti
mesmo” (Mt 19, 19) comporta um certo amor a si mesmo: é o apelo a amar
nossa cruz. Isso talvez signifique o ato mais difícil: aceitar-se tal como é.
Sabemos que os seres mais orgulhosos, os mais sedentos de amor-próprio, são os
que, precisamente, se sentem mal consigo mesmo, os que, veladamente, não se
suportam. Esse momento infinitamente grave do encontro consigo mesmo exige um
desnudar-se, a visão imediata e total de si em seus contornos mais ocultos...
No momento da penosa solidão, só a humildade profunda nos vem em auxílio.
Reconhecendo a impotência radical do humano natural, ela instiga o homem a
depositar inteiramente seu ser ao pé da cruz e, então, subitamente, o Cristo
suporta este peso esmagador em nosso lugar: “Aprendei de mim que meu jugo é
suave e meu fardo é leve” (Mt 11, 30).
(Paul Evdokimov, 1901-1970, Rússia)
CONTEMPLAR
Dignidade, 2020, Abdulmonan Eassa (1995-), Siena International Photo Awards 2020, Agence France Press, Damasco, Síria.
Esse comentário do frei Carlos Mesters sobre as cruzes para nossa escolha me acompanha desde menino, quando, aos 7 anos, em 1942, me preparava para a primeira comunhão ...
ResponderExcluirdesculpem-me; o comentário não é do frei Carlos, mas de Paul Evdokimov.
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