Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
XXIII Domingo do Tempo Comum 05.09.2021
Is
35, 4-7 Tg 2, 1-5 Mc 7, 31-37
ESCUTAR
Se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos (Is 35, 5-6).
A fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas (Tg 2, 1).
Olhando para o céu, suspirou e disse; “Efatá!”, que quer dizer “abre-te” (Mc 7, 31-37).
MEDITAR
O poder divino desceu à terra e revestiu-se de membros sensíveis, a fim de que a nossa fraqueza pudesse, tocando-lhe a humanidade, sentir a divindade. O surdo-mudo, curado por Cristo, sentiu dedos de carne tocarem-lhe os ouvidos e a língua; mas, quando pôde falar, quando seus ouvidos se abriram, ele atingiu, por meio desses dedos acessíveis aos sentidos, a inacessível divindade. O próprio artista que modelou seu corpo, que formou seus membros, viera a ele. Encontrara-o surdo. Com voz suave, sem dor, rompeu-lhe os ouvidos. Dessa garganta fechada, incapaz de emitir a voz, fez brotar o louvor Àquele que o curara.
(Santo Efrém, c. 306-373, Turquia)
ORAR
Olhemos de perto esse surdo-mudo trazido
a Jesus. Ele é surdo; não escuta, portanto, nada do que se diz a ele e do que se diz
ao redor dele. Inútil lhe falar. É colocado num canto e não se ocupam mais
dele. Pior, ele é mudo; articula provavelmente alguns sons, mas lhe é impossível
entrar em comunhão com seu meio. Ele está só com seu silêncio, encerrado em sua
enfermidade. Esse surdo-mudo, parece-me, é a imagem de numerosas pessoas que
terminam por se resignar à sua solidão por todos os tipos de razões
psicológicas, familiares ou sociais. Fala-se muito dos excluídos do que de
pessoas que, sem estar forçosamente na miséria, vivem curvadas sobre si-mesmas,
sem relações, sem amigos, sem família e mesmo sem trabalho. E esse surdo-mudo
me parece ser também a imagem do nosso mundo marcado pelo individualismo onde
cada um procura antes de tudo salvaguardar seus interesses ou seus privilégios,
ficando surdo a tudo o que não diz respeito a ele. E nós? Não temos tendência a
viver, às vezes, como surdos-mudos nos interessando apenas por nós mesmos?
Nossa fé nos diz, entretanto, que Deus fez o homem à sua imagem. Deus é
essencialmente comunhão, partilha. Nele próprio, Deus, Pai-Filho-Espírito, é
comunhão de vida e de amor... Tal é o desígnio de Deus: entrar em comunhão com
os homens a fim de que a humanidade inteira se torne um dia uma imensa comunhão
fraterna, em que não haverá mais nem párias nem abandonados e nem excluídos de
qualquer tipo. Como estamos longe disso! Logo, hoje, a cada um de nós, como ao
surdo-mudo, o Senhor diz: “Abre-te!”. Não fique encerrado em suas
preocupações pessoais, nem em suas relações habituais, nem em seu meio
social!... Que vossa Igreja se abra ela mesma a todos os grandes problemas
atuais: ao ecumenismo, ao diálogo com as outras religiões, aos divorciados recasados
que se sentem com frequência excluídos da Igreja, a todas as vítimas de uma
sociedade fria e sem coração. Nosso papel de cristãos é o de construir, com
todos os que nos cercam, comunhões abertas e acolhedoras aos outros, como Jesus
estava aberto e acolhedor a todos os que encontrava. Fiquemos especialmente
atentos aos feridos pela vida, aos que nunca têm a palavra e que ninguém
escuta, porque Deus, sim, os escuta.
(Bernard Prévost, 1913-?, França)
CONTEMPLAR
Compaixão, 2016, Goetz Burgdorf, Berlim, Alemanha. Descrição: a foto foi tirada em frente a uma igreja católica durante a missa. Mas mesmo após a missa, ninguém deu uma moeda a este homem. “Pedimos um pequeno presente! Grato!” é o que está escrito no cartaz ao chão.
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