Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
Ascensão do Senhor 16.05.2021
At
1, 1-11 Ef 1, 17-23 Mc 16, 15-20
ESCUTAR
“Homens da Galileia, por que ficais aqui parados, olhando para o céu?” (At 1, 11).
O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer (Ef 1, 17).
“Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16, 15).
MEDITAR
O Deus desconhecido; não se sabe o que é Deus; ele não é nem luz, nem espírito, nem verdade, nem unidade, nem o que se nomina divindade, nem sabedoria, nem razão, nem amor, nem vontade, nem bondade, nem coisa nem não-coisa, nem Ser, nem Espírito. Ele é o que nem eu, nem você, nem nenhuma criatura jamais experimenta a não ser tornando-se o que ele é... É em você que Deus deve nascer.
(Angelus Silesius, 1624-1677, Polônia)
ORAR
A Ressurreição do Cristo nos faz pensar na primeira erupção de
um vulcão, sinal do fogo que devora as entranhas da terra. Com efeito, é bem
disso que se trata e de que a Páscoa é o sinal. Agora, nas profundezas mais
ocultas do mundo, arde o fogo de Deus cuja chama conduzirá todas as coisas à
incandescência bem-aventurada; agora, a partir do coração íntimo do mundo onde
sua morte lhe havia feito descer, forças novas, energias de um mundo
transfigurado, estão em trabalho; agora, no mais profundo de nossa realidade, a
vaidade, o pecado e a morte estão vencidos e apenas se deve escoar esse
“pequeno intervalo” de tempo a que chamamos de história após Jesus Cristo, para
que em toda parte, e não somente no corpo do Cristo, se manifeste o que
verdadeiramente ocorreu. Mais eis que: em razão de que sua obra salvadora,
redentora e transfiguradora não começou a operar na superfície, sobre os
sintomas, mas na raiz mais profunda, nosso olhar não ultrapassa o horizonte da
experiência e nos parece que nada se passou inteiramente; em razão de que a
onda de sofrimento e de pecado continua a se derramar ali onde estamos, nós
julgamos que sua fonte profunda não se esgotou; em razão de que as forças do
mal continuam a colocar sua marca sobre a face de nossa terra, nós concluímos
disso que o amor está morto no coração e na raiz de todas as coisas. Pois bem,
tudo isso é só aparência! Ah, mas por que é preciso que tomemos as aparências
pela realidade da vida? Ele ressuscitou porque conquistou e resgatou como nunca
por sua morte o cerne mais íntimo do que está na natureza terrestre. Mas isso
sem a destruir de tal modo que não a deixamos. Proclamar, como fazemos em nosso
Credo, que ele subiu aos céus e entrou na morada de Deus, significa dizer que
ele nos retira durante algum tempo o aspecto visível de sua humanidade
glorificada, mas sobretudo que não existe mais o abismo entre Deus e o mundo. O
Cristo está, de agora em diante, no coração de todas as coisas simples que
compõem a vida da terra, esta terra que nós não podemos deixar, porque ela é a
nossa mãe.
(Karl Rahner, 1904-1984, Alemanha)
CONTEMPLAR
Desejo, 2019, Ya Kuang, China.
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