Os transbordamentos de amor acontecem
sobretudo nas encruzilhadas da vida, em momentos de abertura, fragilidade e
humildade, quando o oceano do amor de Deus arrebenta os diques da nossa
autossuficiência e permite, assim, uma nova imaginação do possível (Papa
Francisco).
V Domingo da Páscoa 02.05.2021
At
9, 26-31 1 Jo 3, 18-24 Jo 15, 1-8
ESCUTAR
Ela [a ecclesia] consolidava-se e progredia no temor do Senhor e crescia em número com a ajuda do Espírito Santo (At 9, 31).
Se o nosso coração nos acusa, Deus é maior que o nosso coração e conhece todas as coisas (1 Jo 3, 20).
“Todo ramo que em mim não dá fruto, ele o corta; e todo ramo que dá fruto, ele o limpa, para que dê mais fruto ainda” (Jo 15, 2).
MEDITAR
É frequente ver pessoas muito observantes da religião, mas que, ao mesmo tempo, se portam de maneira que tornam a vida impossível a muitas pessoas ou à sociedade, no caso de serem pessoas da política ou com cargos de certa importância em alguma instituição religiosa. Mas, em geral, é uma contradição com o Evangelho a fidelidade aos ritos da religião e, ao mesmo tempo, a infidelidade aos seres humanos com quem convivemos. Isso engana aos que se acreditam “crentes”, quando sua vida na realidade oculta um “ateísmo” mal dissimulado. Acredita-se mais na religião do que no Evangelho de Jesus.
(José Maria Castilho, 1929-, Espanha)
ORAR
Após a vida terrestre de Jesus e sua ressurreição, a vinha é
uma pessoa, é Jesus, o próprio Filho de Deus; ele é a verdadeira vinha na qual
todo o povo de Deus está corporalmente vivo. A identidade dos discípulos, dos
que estão no seguimento de Jesus, engajados totalmente em sua vida e em seu
destino, decorre também disso. Eles são os ramos e, como tal, devem permanecer ligados
à vinha para receber dela a seiva: não apenas é essa a condição necessária para
se produzir o fruto, mas é mesmo uma questão de vida ou de morte... Sim, o
discípulo de Jesus não é aquele que se limita a conhecer seu ensinamento, mas o
que permanece solidamente ligado a ele numa relação de amor, com um
comprometimento radical de toda sua vida. Jesus não é simplesmente um mestre
espiritual a se escutar, como existe em tantos diversos caminhos religiosos:
para sermos seus discípulos, para sermos cristãos, é preciso viver com ele. O
próprio Jesus define esta relação por meio do verbo “permanecer, habitar”: o
discípulo autêntico de Jesus é chamado a viver com ele com perseverança, até
estabelecer nele sua própria morada, a habitar em sua palavra (cf. Jo 14, 23-24)
e em seu amor (cf. 15, 9-10); até afirmar: “Não é mais eu que vivo, mas o
Cristo que vive em mim”! (cf. Gl 2, 20) ... Em compensação, sem esta circulação
de vida que desce do Pai em Jesus e de Jesus em nós, a vida cristã pode até se
desenvolver como uma prática religiosa, mas na verdade ela não é mais do que
uma pura “representação desse mundo” (1 Cor 7, 31). Todo cristão, portanto, é
advertido: sem esse vínculo pessoal com Jesus Cristo, “ele não pode fazer nada”
e não tem mesmo nada a ver com o Senhor Jesus! É esse justamente o caminho mais
comum para se tornarem hipócritas: dizer-se cristão sem o ser... Numa época em
que os “católicos praticantes” parecem dominar nossa Igreja, os que pretendem
combater por Jesus sem ser seus discípulos, é bom lembrar o que um Padre da
Igreja da importância de Santo Inácio de Antioquia ousou dizer, ao final de uma
longa vida, quando se preparava para o martírio: “Agora eu começo a ser
discípulo do Cristo”.
(Enzo Bianchi, 1943-, Itália)
CONTEMPLAR
Êxodo Lírico, 2012, Saul Landell, México.