segunda-feira, 26 de outubro de 2020

O Caminho da Beleza 50 - Todos os Santos e Santas

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


Todos os Santos e Santas                    01.11.2020

Ap 7, 2-4.9-14                    1 Jo 3, 1-3                Mt 5, 1-12

 

 ESCUTAR

 “Esses são os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7, 14).

 Caríssimos, vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados filhos de Deus! E nós o somos! (1 Jo 3, 1).

 “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5, 10).

 

 MEDITAR

 A santidade do cristão é medida também pela capacidade de comprometer-se com os problemas do próprio tempo, pela contribuição dada para a solução de tais problemas, pela lucidez demonstrada na decifração dos acontecimentos. Será reprovado se mostrar-se incapaz de fazer isto. Será considerado “um mistificador, um boneco, um que brinca de santo não conhecendo seu mister de homem”. E ainda: “O advogado do diabo de amanhã deverá aprofundar o exame e perguntar se a fé foi de fato tão heroica a ponto de dar a esse homem que espera desde o além o juízo da terra, a graça de compreender seu tempo, sua comunidade e de obrigá-lo a realizar certas escolhas” (A. Paoli).

 (Alessandro Pronzato, 1932-, Itália)

 

 ORAR

        “Uma multidão imensa de todas as raças, de todas as línguas...”. Quem são os membros desta população inumerável? A resposta do velho permite identificá-los: são os testemunhos que afrontaram a grande perseguição e que têm conseguido a vitória. São os que receberam a Palavra de Jesus e foram ao encontro do mundo para proclamá-la e prová-la e nele manifestar os sinais proféticos que a acompanham. O testemunho deles suscita a oposição dos poderosos que dominam este mundo; não obstante é preciso perseverar até o fim. Seu destino é seguir o caminho de Jesus na sua morte para desabrochar com ele na Ressurreição. Não se improvisa o testemunho. Só o conseguem aqueles que passaram por uma iniciação, uma purificação; aqueles que se lavaram com o Sangue do Cordeiro. É o sacrifício do Cristo que faz nascer um Povo de testemunho, ao mesmo tempo resultado e imitação da morte de Jesus Cristo. “Eles lavaram suas vestes e as tornaram alvas no Sangue do Cordeiro”. Conseguiram suas túnicas brancas graças à força do Sangue do Cristo que os leva a renovar, nos seus corpos, o Sacrifício do próprio Cristo. À primeira vista só os mártires formariam o Povo de Deus. Não parece, entretanto, que só poderiam seguir o caminho de Jesus, aqueles que se consumiram num martírio cruento. Todavia devemos admitir que o Povo de Deus encontra no martírio sua mais autêntica expressão e que seja marcado com o sinal do martírio em toda sua existência. Há ali algo que pode desconcertar os cristãos mais instalados de nosso tempo; isto, porém, não nos deve incitar a modificar as Escrituras. Seria melhor perguntarmos a nós mesmos se tanta tranquilidade, tanta segurança não são sinais de uma traição fundamental do Evangelho. Uma Igreja que não é mais testemunho, não é mais martírio, faz ainda parte do Povo de Deus, da multidão de testemunhas? Não é necessário que cada discípulo chegue ao martírio, mas é preciso que todos se comprometam com um testemunho coletivo que vê no martírio um dos seus mais perfeitos sinais. Não devemos procurar a conciliação com o mundo, mas aceitar o desafio.

 (Joseph Comblin, 1923-2011, Bélgica)

 

 CONTEMPLAR

 S. Título, 2019-20, Série Archives IV, Gerasimus Platanas (1982-), Corfu, Grécia.




segunda-feira, 19 de outubro de 2020

O Caminho da Beleza 49 - XXX Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXX Domingo do Tempo Comum              25.10.2020

Ex 22, 20-26                      1 Ts 1, 5-10              Mt 22, 34-40

 

ESCUTAR

Não oprimas nem maltrates o estrangeiro, pois vós fostes estrangeiros na terra do Egito (Ex 22, 20).

Vós vos tornastes imitadores nossos e do Senhor, acolhendo a Palavra com a alegria do Espírito Santo, apesar de tantas tribulações (1 Ts 1, 6).

“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento!” (Mt 22, 37).

 

MEDITAR

Deixe que o riso seja seu templo e você se sentirá em profundo contato com o divino.

(Osho, 1931-1990, Índia)

 

ORAR

            O amor de Deus não se ensina. Ninguém se prepara para gozar a luz, nem sobretudo para celebrar a vida. Ninguém jamais nos ensinou a amar os que colocamos no mundo ou os que criamos. Da mesma maneira, ou antes com mais forte razão, não é um ensinamento exterior que nos ensina a amar Deus. Na natureza mesma do homem se encontra inserida uma semente que contém nela o princípio desta atitude para amar. Essa semente, pela escola dos mandamentos de Deus, cabe ao homem recolhê-la, cultivá-la com zelo, nutri-la com cuidado e conduzi-la ao seu desabrochar, com a graça de Deus. Quando recebemos de Deus o mandamento do amor, nós possuímos já a faculdade natural de amar; nós já procuramos o que é belo. Ora, o que mais admirável do que a beleza divina? E qual desejo é tão ardente do que a sede provocada por Deus na alma purificada de todo vício e que brada com uma emoção sincera: “me desfaleço de amor”? (Ct 2, 5). Inefáveis e indescritíveis são os raios da beleza divina! A língua é impotente para expressá-la, o ouvido para entendê-la! O brilho da estrela da manhã, a claridade da lua, a luz do sol: tudo isso é indigno de representar a sua glória; e tudo isso em relação à verdadeira luz está mais afastado como a noite mais profunda está da mais pura luz do meio dia. Esta beleza é invisível aos olhos do corpo, mas cada vez que ela iluminou os santos em sua alma, ela deixou neles o aguilhão de um intolerável desejo, a ponto de exclamarem com David: “Minha alma tem sede do Senhor, forte e vivo” (Sl 42, 3). Nunca saciados de contemplar a beleza divina, eles suplicavam que fosse prolongada pela vida eterna a visão da magnificência de Deus. Não amar Deus é para a alma a maior privação, o maior de todos os males. Se a afeição das crianças por seus pais é um sentimento natural, não permaneçamos diante do Deus que nos criou como estranhos sem amor. Se a afeição e a amizade nos nascem espontaneamente por aqueles que nos fazem o bem, com mais forte razão para Deus cujas graças são para nós tão abundantes que seu número nos escapa, e tão imensas que uma só dentre elas é suficiente para nos tornar eternamente agradecidos. Assim se desenvolve em nós o amor de Deus e ao mesmo tempo em que ele nos leva à realização dos mandamentos do Senhor, ele tira por sua vez deles o seu existir e a sua perfeição.

(Basílio Magno, 330-379, Capadócia/Turquia)

 

CONTEMPLAR

Crianças e a Sumaúma I, 2010, Barcelos, Floresta Amazônica, Araquém Alcântara (1951-), Brasil.




quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Matersol 21 Anos de Fundação

A Comunidade dos Manos da Terna Solidão (Matersol) celebra hoje, 15 de outubro, festa de Santa Tereza d'Ávila, os seus 21 anos de fundação. Na Alegria e Ternura - Gaudium et Tenerum - nosso lema, somos gratos aos que nos incentivaram sem cessar nesta travessia: Dom Irineu Danelon, Dom Francisco Carlos da Silva, Dom Javier Arnedo, Dom Orani Tempesta, Dom Mauricio Grotto, Dom Fernando Panico, Dom Filippo Santoro, Dom Pedro Casaldáliga, Dom Pedro Fedalto, Dom Gregório Paixão e Dom José Antonio Peruzzo. A todos os Manos e Manas consagrados e, em memória, a Francisco Catão, Paulo Freire, Rubem Alves, Dom Affonso Gregory, Dom Moacyr Vitti, Dom Dirceu Vegini, Madre Belém, Iyá Stella de Azevedo, Madre Chantal e Irmã Martha. Com a lucidez do Papa Francisco caminhamos "como se víssemos o invisível" (Hb 11, 27):

 

"A ternura é o amor que se torna próximo e concreto. É um movimento que brota do coração e chega aos olhos, aos ouvidos e às mãos. A ternura é o caminho que percorreram os homens e as mulheres mais corajosos e fortes" (Encíclica Fratelli Tutti, 2020).

 

Imagem: "Acolhida" (detalhe), Matersol, 1983, Curitiba, Brasil.

 








segunda-feira, 12 de outubro de 2020

O Caminho da Beleza 48 - XXIX Domingo do Tempo Comum

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


XXIX Domingo do Tempo Comum             18.10.2020

Is 45, 1.4-6              1 Ts 1, 1-5                Mt 22, 15-21

 

ESCUTAR

“Eu sou o Senhor, não há outro” (Is 45, 6).

O nosso Evangelho não chegou até vós somente por palavras, mas também mediante a força que é o Espírito Santo; e isso com toda a abundância (1 Ts 1, 5).

“Dai, pois, a César o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” (Mt 22, 21).

 

MEDITAR

Deus continua derramando na humanidade sementes de bem. A recente pandemia nos permitiu resgatar e valorizar a tantos companheiros e companheiras de viagem que, no medo, reagiram doando a própria vida. Fomos capazes de reconhecer como nossas vidas estão tecidas e sustentadas por pessoas comuns que, sem dúvida alguma, escreveram os acontecimentos decisivos de nossa história compartilhada: médicos, enfermeiros e enfermeiras, farmacêuticos, empregados dos supermercados, pessoal da limpeza, cuidadores, motoristas, homens e mulheres que trabalham para proporcionar serviços essenciais e segurança, voluntários, sacerdotes, religiosas... compreenderam que ninguém se salva sozinho.

(Papa Francisco, 1936-, Encíclica Fratelli Tutti, Itália)

 

ORAR

     Os cristãos não se diferenciam dos outros homens nem pelo país, nem pela língua, nem pelas instituições. De fato, não moram em cidades próprias, nem empregam linguagem estranha, nem levam uma vida diferente. Não foi por imaginação ou complicadas elaborações que vieram ao conhecimento desta doutrina, nem se apoiam em dogmas humanos, como tantos outros. Moram em cidades gregas ou bárbaras, conforme o acaso os colocou; seguem os costumes do povo local em matéria de roupas e de alimentos e, quanto ao mais, manifestam seu admirável modo de viver e propõem ao consenso de todos o incrível estado de sua vida. Habitam em suas pátrias, mas como inquilinos; têm tudo em comum com os outros como cidadãos e tudo suportam como peregrinos. Todo país estrangeiro lhes é pátria e toda pátria, terra estrangeira. Casam-se como todo mundo e procriam, mas não rejeitam os recém-nascidos. Têm em comum a mesa, não o leito. Estão na carne, porém, não vivem segundo a carne. Moram na terra, mas têm no céu sua cidade. Obedecem às leis promulgadas, e com seu gênero de vida, ultrapassam as leis. Amam a todos e por todos são perseguidos. São ignorados e, no entanto, condenados; entregues à morte, dão a vida. Mendigos, enriquecem a muitos; tudo lhes falta e vivem na abundância. Vilipendiados e no meio das infâmias enchem-se de glória; cobertos de ignomínia, cresce sua reputação; por isso mesmo obtêm a glória. Destruída sua fama, a justiça dá-lhes testemunho. Repreendidos, bendizem. Tratados com desprezo, prestam honra. Ao fazerem o bem, são castigados como maus; punidos, alegram-se como se revivessem. [...] Numa palavra: o que é alma para o corpo, assim são no mundo os cristãos. A alma está em todas as partes do corpo; e os cristãos em todas as cidades do mundo. A alma está no corpo, mas não vem do corpo; os cristãos estão no mundo, mas não são do mundo. A alma invisível é guardada pelo corpo visível. Todos veem os cristãos, pois habitam no mundo, contudo, seu espírito é invisível.

(Carta a Diogneto, século 2).

 

CONTEMPLAR

O padre Júlio Lancellotti abraça Cassiano, que vive nas ruas de São Paulo, 2020, Wanezza Soares/El País, Brasil.