Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XIX Domingo do Tempo Comum 11.08.2019
Sb 18, 6-9 Hb
11, 1-2.8-19 Lc 12, 32-48
ESCUTAR
A noite
da libertação fora predita a nossos pais para que, sabendo a que juramento
tinham dado crédito, se conservassem intrépidos (Sb 18, 6).
A fé é um
modo de já possuir o que ainda se espera, a convicção acerca de realidades que
não se veem (Hb 11, 1).
“Onde
está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Lc 12, 34).
MEDITAR
Abbá
Euloge, um dia, não conseguia esconder sua tristeza. – Por que estás triste,
Abbá?, perguntou-lhe um outro ancião. – Porque eu começo a duvidar da
inteligência dos irmãos a respeito das grandes realidades de Deus. Já é a
terceira vez que lhes mostrando uma peça de linho sobre a qual desenhei um
pequeno ponto vermelho, ao perguntar-lhes o que viam, todos me responderam: ‘um
pequeno ponto vermelho’ e jamais nenhum deles me respondeu que via uma peça de
linho”.
(Apoftegma dos Padres do Deserto, séculos
III ou IV)
ORAR
Vivemos na espera e no
desejo do retorno do Senhor, de sua justiça e de seu reino! Mas se ele deve
voltar triunfante e como um juiz no fim do mundo, como um ladrão ao fim de
nossa vida (a comparação é do Evangelho), Jesus vem também a cada dia, em
nossas almas, de uma maneira muito íntima e muito doce, como um amigo. E isso
nós sabemos bem. Quem não teve, nessa vida, seus momentos de luz e generosidade
relacionados às vezes a um período de sofrimento e de esforço? Quem não
conheceu, em seguida a uma oração, de uma verdadeira oração do coração, uma
espécie de certeza, de exaltação bem doce, de paz profunda, frutos das visitas
de Deus e isso mesmo no seio do sofrimento? Quem não escutou em si mesmo esta
voz, que é a de Deus e também da consciência, esta voz que, às vezes, se torna
surpreendentemente precisa ao nos exigir um sacrifício, um ato de generosidade
ou de perdão? Não, realmente, não estamos sós. Sem cessar, Jesus nos visita! Há
ainda mais. Conheceis o texto do Apocalipse em que se reconhece bem a mão de
São João, o discípulo que Jesus amava? O Senhor ali fala a seu discípulo, como
também à sua Igreja: “Eis que estou à porta e bato. Se alguém escuta a minha
voz e me abre, eu entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo”. Que
ternura nessas palavras! Jesus está à nossa porta e bate. Ele bate às vezes com
um toque bem pequeno e isso é suficiente para as almas fiéis e delicadas o reconhecerem
e lhe abrirem. Feliz o que sabe escutá-lo. Ele abrirá, ele receberá a visita
daquele que vem e eles cearão juntos, dessa ceia em que nosso hóspede traz
tudo, dessa ceia que é a travessia da amizade com Deus.
(Yves
Congar, 1904-1995, França)
CONTEMPLAR
Lá fora, s.d.,
Fan Ho (1931-2016), Hong Kong.
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