Já não quero
dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem
se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol
dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
XII
Domingo do Tempo Comum 23.06.2019
Zc
12, 10-11; 13, 1 Gl 3, 26-29 Lc 9, 18-24
“Derramarei sobre a casa de Davi e
sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de oração” (Zc 12, 10).
Todos vós sois um só em Jesus Cristo
(Gl 3, 28).
“Se alguém me quer seguir, renuncie a
si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me” (Lc 9, 23).
Esse é justamente o tema maravilhoso
da Bíblia que assusta a tantos: que o único sinal visível de Deus no mundo seja
a cruz. Cristo não é arrebatado gloriosamente da terra para o céu, seu destino
é a cruz. E precisamente lá onde está a cruz está próxima a ressurreição. Onde
todos ficam desconsertados diante de Deus, onde todos se desesperam com Deus, é
exatamente lá que Deus está bem perto e Cristo está vivamente presente.
(Dietrich Bonhoeffer, 1906-1944,
Alemanha)
“Nenhum
de vós vive para si, e ninguém morre para si... quer vivamos, quer morramos,
pertencemos ao Senhor” (Rm 14, 7-8). Na morte de Cristo evidenciou-se mais
claramente que nem ele, o Messias, se pertence a si mesmo. Não há amor se não
houver capacidade de alguém se gostar gratuitamente. Não haverá comunidade cristã,
se ninguém renunciar a seus direitos de infindáveis litígios e acirradas
discussões. O pleno desabrochar da pessoa como pessoa supõe que alguém se
sacrifique generosamente por mim, que alguém confie em mim, me perdoe, me
suporte com magnanimidade, renuncie a si para me dar sua palavra, seu tempo,
sua atenção, sua estima... sem pagamento. A cruz que, ao exemplo do Cristo, é
entrega generosa pelo bem dos outros, é a mais direta liberação do nosso
egoísmo mortífero. Ela nos dá o coração de bondade e os sentimentos de respeito,
isto é, ela nos purifica. Não é a cruz que se opõe ao mundo moderno do
progresso. O que impossibilita o advento do mundo mais humano, mais justo e de
maior amor é sua gigantesca capacidade técnica de se fechar no egoísmo estreito
e mortal ou, em defesa do seu eu imaturo e inveterado, recorrer ao ódio e a
lutas fratricidas. Num mundo, onde o progresso é o único critério, cria-se um
homem-monstro, capaz de imolar os seus semelhantes julgados “inúteis” e “supérfluos”.
Não a cruz de desprezo, mas a cruz do Cristo, a cruz do serviço a nossos
irmãos, dá-nos força de imolarmos nossos próprios interesses para crescermos
todos juntos. Esta cruz não elimina nem resolve todos os problemas, mas nos
redime com eles.
(Emanuel Bouzon, 1933-2006, Brasil e Karl Romer, 1932-, Suíça)
(Emanuel Bouzon, 1933-2006, Brasil e Karl Romer, 1932-, Suíça)
No Quintal, México, 1936-7, Marcel Gautherot
(1910-1996), Instituto Moreira Salles, França/Brasil.
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