quarta-feira, 12 de junho de 2019

O Caminho da Beleza 30 - Santíssima Trindade





Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)
 

 

Santíssima Trindade                16.06.2019
Pr 8, 22-31              Rm 5, 1-5                Jo 16, 12-15
 
ESCUTAR
Assim fala a sabedoria de Deus: “...eu era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença” (Pr 8, 30).
O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5).
 
“Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora” (Jo 16, 12).

MEDITAR
Alguns de nós acreditam que Deus é Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante.
(Julian de Norwich, 1342-1416, Reino Unido).
 
ORAR

        A festa da Santíssima Trindade não é uma simples formalidade nem uma representação dogmática. Ela nos convida a tentar viver e a nos insurgir contra uma certa insensibilidade em nós e em torno de nós à urgência de Deus e à envergadura do seu Mistério. Neste domingo, devemos entrar neste mistério adorável de saber que a dinâmica da Trindade é o Amor. É uma eterna comunicação, pois não existe nem um olhar-para-si, mas sempre e eternamente um olhar-para-o-outro. O Pai é um eterno olhar para o Filho assim como o Filho é um olhar eterno para o Pai e toda a Luz divina brota desta troca como a visibilidade de um dom eternamente realizado. Meditemos as palavras do dominicano Eckhart escritas no século XIV: “O Pai sorri para o Filho e o Filho sorri para o Pai e o sorriso faz nascer o prazer, o prazer faz nascer a alegria e a alegria faz nascer o amor”. Toda a alegria brota do dom nesta dança eterna em que qualquer posse é impossível, pois a grandeza consiste no dom de si mesmo. A vida de Deus é sempre uma vertiginosa troca, partilha e uma circulação infinita expressa no respirar do Pai, no sangue do Filho, na água e no fogo do Espírito. A vida da Trindade acontece em nós mesmos sem que a percebamos e nela “nem morte nem vida, nem anjos nem potestades, nem presente nem futuro, nem poderes nem altura nem profundidade, nem criatura alguma nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus Senhor nosso” (Rm 8, 38-39). É no silêncio que esta vida se manifesta, pois a alegria verdadeira começa quando, enfim, com os olhos fechados e os lábios cerrados percebemos a dinâmica amorosa do Pai, pelo Filho, no Espírito. Esta festa exige uma profunda revisão de vida e a perguntarmos sobre a esterilidade de um amor que se debruça sobre si mesmo e de um egoísmo que se idolatra. O Cristo nos revelou a Trindade para fazer surgir em nós uma liberdade total ante os olhos do egoísmo mortal que assola o mundo, aniquila as culturas, domina os mais fracos, corrompe os poderes civis e religiosos, e que, sobretudo, pela ganância, destrói a natureza criada para o bem de toda a humanidade por todos os séculos. Eis o mistério: Deus para nós, Deus em nós e Deus conosco.
 
(Matersol, 1999-, Brasil)
 
CONTEMPLAR
O Trio Três Dançarinos (Mason Kelly, Jenni Large e Georgia Rudd) 2015, Amber Haines, Companhia de Dança Dancenorth, Austrália.
 
 

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