Já não quero
dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem
se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol
dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
Santíssima
Trindade 16.06.2019
Pr
8, 22-31 Rm 5, 1-5 Jo 16, 12-15
Assim fala a sabedoria de Deus: “...eu
era seu encanto, dia após dia, brincando, todo o tempo, em sua presença” (Pr 8,
30).
O amor de Deus foi derramado em
nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5).
“Tenho ainda muitas coisas a
dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora” (Jo 16, 12).
MEDITAR
Alguns de nós acreditam que Deus é
Todo-Poderoso e que pode fazer tudo, e que Deus é Todo-Sabedoria e sabe como
fazer tudo. Mas que Deus é Todo-Amoroso e quer amar tudo, aqui nós nos
contemos. E essa ignorância atrapalha a maioria dos amantes de Deus, como eu
vejo (...) Deus quer ser pensado como nosso Amante.
(Julian de Norwich, 1342-1416, Reino
Unido).
A
festa da Santíssima Trindade não é uma simples formalidade nem uma
representação dogmática. Ela nos convida a tentar viver e a nos insurgir contra
uma certa insensibilidade em nós e em torno de nós à urgência de Deus e à envergadura do seu Mistério. Neste domingo,
devemos entrar neste mistério adorável de saber que a dinâmica da Trindade é o
Amor. É uma eterna comunicação, pois não existe nem um olhar-para-si,
mas sempre e eternamente um olhar-para-o-outro. O Pai é um eterno olhar
para o Filho assim como o Filho é um olhar eterno para o Pai e toda a Luz
divina brota desta troca como a visibilidade de um dom eternamente realizado. Meditemos as palavras do dominicano
Eckhart escritas no século XIV: “O Pai sorri para o Filho e o Filho sorri para
o Pai e o sorriso faz nascer o prazer, o prazer faz nascer a alegria e a
alegria faz nascer o amor”. Toda a alegria brota do dom nesta dança eterna em que
qualquer posse é impossível, pois a grandeza consiste no dom de si mesmo. A
vida de Deus é sempre uma vertiginosa troca, partilha e uma circulação infinita
expressa no respirar do Pai, no sangue do Filho, na água e no fogo do Espírito.
A vida da Trindade acontece em nós mesmos sem que a percebamos e nela “nem morte nem vida, nem anjos nem potestades,
nem presente nem futuro, nem poderes nem altura nem profundidade, nem criatura
alguma nos poderá separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus Senhor
nosso” (Rm 8, 38-39). É no silêncio que esta vida se manifesta, pois a
alegria verdadeira começa quando, enfim, com os olhos fechados e os lábios
cerrados percebemos a dinâmica amorosa do Pai, pelo Filho, no Espírito. Esta
festa exige uma profunda revisão de vida e a perguntarmos sobre a esterilidade
de um amor que se debruça sobre si mesmo e de um egoísmo que se idolatra. O
Cristo nos revelou a Trindade para fazer surgir em nós uma liberdade total ante
os olhos do egoísmo mortal que assola o mundo, aniquila as culturas, domina os
mais fracos, corrompe os poderes civis e religiosos, e que, sobretudo, pela
ganância, destrói a natureza criada para o bem de toda a humanidade por todos
os séculos. Eis o mistério: Deus para nós, Deus em nós e Deus conosco.
(Matersol, 1999-, Brasil)
CONTEMPLAR
O Trio Três Dançarinos (Mason Kelly, Jenni Large e Georgia
Rudd) 2015, Amber Haines, Companhia de Dança Dancenorth, Austrália.
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