Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
V Domingo da Quaresma 07.04.2019
Is 43, 16-21 Fl 3, 8-14 Jo
8, 1-11
ESCUTAR
“Não relembreis coisas passadas, não
olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas e que já estão
surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 18-19).
Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo
o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente (Fl 3, 13).
“Mulher, onde estão eles? Ninguém te
condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também
não te condeno” (Jo 8, 10-11).
MEDITAR
Os pecadores conhecem a Deus, os
justos ainda O estão procurando.
(Cardeal Hans Urs Von Balthasar,
1905-1988, Suíça)
ORAR
Lição de misericórdia. O erro era
flagrante, impossível de negar. Aquela mulher nem chega a defender-se. Que faz
Jesus? Começa impondo silêncio aos acusadores. Condena os acusadores. Não
porque seja falsa a acusação, mas porque não são retos os seus motivos. “Diziam
isso com intenção de experimentá-lo e de arranjar base para o acusar”. Não
queriam a justiça... a justiça era apenas um pretexto. Afastando-se os
acusadores, eis Jesus face a face com a culpada. O pecado em face de Deus.
“Alguém te condenou? – Ninguém, Senhor. Nem eu te condenarei. Vai e não peques
mais”. Sê misericordioso, tu também. Não desculpes o mal. Mas não julgues o
pecador. “Quando teu irmão cometer um erro, repreende-o a sós”. Não faças de
seu pecado um acontecimento público. Não exponhas seus erros. Não faças deles
um processo escandaloso. Poupa-lhe, portanto, o brio. E a dignidade. Mesmo
pecador, o homem conserva sua dignidade e continua estimável, em sua pessoa.
Teu irmão culpado não desesperará do Amor se se sentir amado por ti. Fala-lhe
fraternalmente. Não com piedade. A piedade se dirige ao que está abaixo de nós.
O pecador tem mais necessidade de amor do que de piedade. E o verdadeiro perdão
não se afasta do amor. Fala-lhe fraternalmente. Que sinta estares no mesmo
nível, teu coração ao lado do seu. Fala-lhe humildemente. Sim, humildemente.
Pois não sabes se o pecado que ele acaba de cometer, não o cometerás tu amanhã,
ou dentro de uma hora... Mesmo decaído, teu irmão continua a pertencer à tua
família... filho de Deus, como tu, filho de Deus em provação, filho ausente. Em
excursão aos últimos limites de sua liberdade, conserva seu lugar – está vazio,
mas ainda é seu – no coração do Pai. Como tu, está mergulhado na noite... Tu
remas contra a maré, sabendo onde vais. Ele abandonou-se à correnteza. Mas não
esqueças: ele ainda conserva – adormecidas, talvez, mas bem vivas – mil
capacidades que são reservas para o futuro... Talvez no seu pecado e nas suas
inquietações, seja mais reto do que tu em tua virtude demasiadamente tranquila.
Quem sabe se aos olhos de Deus não é ele mais atraente, por sentir-se menor do
que te sentes... Continua sendo teu irmão. Mesmo amando pouco, ainda é o
bem-amado do Pai... Que seja muito amado por ti.
(Ludovic Giraud, França)
CONTEMPLAR
Marpessa e a Freira, 1987, Bagheria, Sicília, Ferdinando Scianna (1943-), Magnum Photos, Itália.
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