segunda-feira, 1 de abril de 2019

O Caminho da Beleza 20 - V Domingo da Quaresma


Já não quero dicionários consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.

(Carlos Drummond de Andrade)


V Domingo da Quaresma                    07.04.2019
Is 43, 16-21             Fl 3, 8-14                 Jo 8, 1-11


ESCUTAR

“Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 18-19).

Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente (Fl 3, 13).

“Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?” Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno” (Jo 8, 10-11).


MEDITAR

Os pecadores conhecem a Deus, os justos ainda O estão procurando.

(Cardeal Hans Urs Von Balthasar, 1905-1988, Suíça)


ORAR

            Lição de misericórdia. O erro era flagrante, impossível de negar. Aquela mulher nem chega a defender-se. Que faz Jesus? Começa impondo silêncio aos acusadores. Condena os acusadores. Não porque seja falsa a acusação, mas porque não são retos os seus motivos. “Diziam isso com intenção de experimentá-lo e de arranjar base para o acusar”. Não queriam a justiça... a justiça era apenas um pretexto. Afastando-se os acusadores, eis Jesus face a face com a culpada. O pecado em face de Deus. “Alguém te condenou? – Ninguém, Senhor. Nem eu te condenarei. Vai e não peques mais”. Sê misericordioso, tu também. Não desculpes o mal. Mas não julgues o pecador. “Quando teu irmão cometer um erro, repreende-o a sós”. Não faças de seu pecado um acontecimento público. Não exponhas seus erros. Não faças deles um processo escandaloso. Poupa-lhe, portanto, o brio. E a dignidade. Mesmo pecador, o homem conserva sua dignidade e continua estimável, em sua pessoa. Teu irmão culpado não desesperará do Amor se se sentir amado por ti. Fala-lhe fraternalmente. Não com piedade. A piedade se dirige ao que está abaixo de nós. O pecador tem mais necessidade de amor do que de piedade. E o verdadeiro perdão não se afasta do amor. Fala-lhe fraternalmente. Que sinta estares no mesmo nível, teu coração ao lado do seu. Fala-lhe humildemente. Sim, humildemente. Pois não sabes se o pecado que ele acaba de cometer, não o cometerás tu amanhã, ou dentro de uma hora... Mesmo decaído, teu irmão continua a pertencer à tua família... filho de Deus, como tu, filho de Deus em provação, filho ausente. Em excursão aos últimos limites de sua liberdade, conserva seu lugar – está vazio, mas ainda é seu – no coração do Pai. Como tu, está mergulhado na noite... Tu remas contra a maré, sabendo onde vais. Ele abandonou-se à correnteza. Mas não esqueças: ele ainda conserva – adormecidas, talvez, mas bem vivas – mil capacidades que são reservas para o futuro... Talvez no seu pecado e nas suas inquietações, seja mais reto do que tu em tua virtude demasiadamente tranquila. Quem sabe se aos olhos de Deus não é ele mais atraente, por sentir-se menor do que te sentes... Continua sendo teu irmão. Mesmo amando pouco, ainda é o bem-amado do Pai... Que seja muito amado por ti.

(Ludovic Giraud, França)


CONTEMPLAR

Marpessa e a Freira, 1987, Bagheria, Sicília, Ferdinando Scianna (1943-), Magnum Photos, Itália.




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