Já não quero dicionários
consultados em vão. Quero só a palavra que nunca estará neles nem se pode
inventar. Que resumiria o mundo e o substituiria. Mais sol do que o sol dentro
do qual vivêssemos todos em comunhão, mudos, saboreando-a.
(Carlos Drummond de
Andrade)
Páscoa da Ressurreição 21.04.2019
At 10, 34.37-43 Cl 3, 1-4 Jo 20, 1-9
ESCUTAR
Ele andou por toda parte, fazendo o
bem e curando a todos os que estavam dominados pelo demônio, porque Deus estava
com ele (At 10, 38).
Vós morrestes e a vossa vida está
escondida, com Cristo em Deus (Cl 3, 1-4).
Entrou também o outro discípulo, que
tinha chegado primeiro ao túmulo. Ele viu e acreditou (Jo 20, 8).
MEDITAR
“Ele viu e acreditou”. O que ele viu
então? Nenhum objeto particular. É a ausência mesma que, plena de amor, se
transforma para ele na evocação de uma Presença. Jesus, aliás, havia prometido:
“Aquele que me ama será amado por meu Pai; e eu o amarei e me manifestarei a
ele” (Jo 14, 21).
(Enzo Bianchi, 1943-, Itália).
ORAR
A
fé em Jesus, ressuscitado pelo Pai, não brotou de maneira natural e espontânea
no coração dos discípulos: antes de encontrar-se com ele, pleno de vida, os
evangelistas falam, de sua desorientação, de sua busca em torno do sepulcro,
suas interrogações e incertezas. Maria de Magdala é o melhor protótipo do que acontece
provavelmente com todos. Segundo o relato de João, busca o crucificado em meio
às trevas, “quando ainda estava escuro” e, como é natural, busca-o “no
sepulcro”. Todavia não sabe que a morte havia sido vencida, por isso, o vazio
do sepulcro a deixa desconcertada. Sem Jesus, se sente perdida. A fé no Cristo
ressuscitado não nasce, tampouco, em nós hoje de forma espontânea ou só porque
desde crianças escutamos a catequistas e pregadores. Para nos abrirmos à fé na
ressurreição de Jesus, temos que fazer a nossa própria jornada: é decisivo não
esquecer de Jesus, amá-lo com paixão e buscá-lo com todas as nossas forças, mas
não no mundo dos mortos: aquele que vive, há que buscá-lo aonde há vida. Se
queremos encontrar com Cristo ressuscitado, cheio de vida e de força criadora,
temos de buscá-lo não em uma religião morta, reduzida ao cumprimento e à
observância externa de leis e normas, mas sim ali onde se vive segundo o
Espírito de Jesus, acolhido com fé, com amor e com responsabilidade por seus
seguidores. Devemos buscá-lo não entre cristãos divididos e que se enfrentam em
lutas estéreis, vazias de amor por Jesus e de paixão pelo Evangelho, mas sim
ali onde vamos construindo comunidades que coloquem o Cristo em seu centro,
porque sabem que “onde estão reunidos dois ou três em seu nome, ali ele está”.
Aquele que vive não o encontraremos em uma fé estancada e rotineira, gasta por
toda classe de tópicos e fórmulas vazias de experiências, mas sim buscando uma
qualidade nova em nossa relação com ele e em nossa identificação com seu
desígnio. Um Jesus apagado e inerte, que não enamora e nem seduz, que não toca
os corações nem contagia com sua liberdade, é um “Jesus morto”. Não é o Cristo
vivo, ressuscitado pelo Pai. Não é o que vive e que faz viver.
(José Antonio Pagola, 1937-, Espanha).
CONTEMPLAR
Sem Título,
Arpi (Arpad) Atilla Szasz, 1960-, Califórnia, Estados Unidos.
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