terça-feira, 18 de setembro de 2018

O Caminho da Beleza 44 - XXV Domingo do Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).

XXV Domingo do Tempo Comum               23.09.2018
Sb 2, 12.17-20                    Tg 3, 16-4, 3                       Mc 9, 30-37


ESCUTAR

Os ímpios dizem: “Armemos ciladas ao justo, porque sua presença nos incomoda” (Sb 2, 12).

Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más (Tg 3, 16).

“Pegou uma criança, colocou-a no meio deles e, abraçando-a, disse: “Quem acolher em meu nome uma destas crianças é a mim que estará acolhendo” (Mc 9, 36-37).


MEDITAR

A amizade é um nome sagrado, é uma coisa santa; ela nunca se entrega senão entre pessoas de bem e só se deixa apanhar pela mútua estima... Não pode haver amizade onde está a crueldade, onde está a deslealdade, onde está a injustiça; e entre os maus, quando se ajuntam há conspiração, não companhia; eles não se entre amam, mas se entre temem; não são amigos, mas cúmplices.

(Étienne de La Boétie, 1530-1563, França)


ORAR

        Jesus toma então uma criança, coloca-a no meio, abraça-a, e fazendo isso ele a envolve e a cerca de todas as partes. E eis essa criança por assim dizer no meio de Jesus. Feliz criança que ali, entregue, resplandece de repente em meio a esta túnica sem costura (Jo 19, 23) que cheira – como dizer? – a terra, a maresia, a neve e a sol (Mt 17, 2)! Eu gritei de alegria à sombra de suas asas, exclama o salmista (Sl 62, 8) e Paulo, em seguida, em outro Testamento: Vós que fostes batizados no Cristo, vos revestistes de Cristo (Gl 3, 27). Mas Jesus tomaria uma criança se não se encontrasse ele mesmo em meio às crianças, se as crianças não estivessem em seu habitat natural, se ele não tivesse uma porção de crianças à sua mão? Essa facilidade lhe vem evidentemente da autorização inteiramente exorbitante que fez: Deixai que as crianças venham a mim: não as impeçais, porque o Reino de Deus pertence aos que são como elas (Mc 10, 14). Com Jesus Cristo que deixa vir, que deixa acontecer o que não cessamos de interromper (e até de assassinar em nós mesmos), a infância não é apenas mais um capítulo do Evangelho: ela é o Evangelho mesmo. Alguns a compreenderam perfeitamente, entre outros, Charles Péguy: “Porque há na criança, diz Deus, por que há na criança uma graça única. Uma inteireza, uma primogenitura total. Uma origem, um segredo, uma fonte, um ponto de origem. Um começo por assim dizer absoluto. As crianças são criaturas novas”. Jesus, em seus próprios termos, não diz outra coisa. Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos. O último. Novissimus quer dizer, literalmente, o mais novo. Jesus não induz a nenhuma regressão, ele não chancela nenhuma nostalgia: ele encontra um mistério. Jesus só nos convida a nos assemelharmos às crianças devido a semelhança que a aptidão delas ao silêncio, ao deslumbramento, ao abandono, à brincadeira, mantém com aqueles que abrem o acesso ao Reino; ele nos faz crescer na direção para a qual as crianças, na doce graça de sua condição contingente, não são mais do que as indicadoras. A criança – a mesma de Jesus em questão – não é nem o imperfeito do homem, nem sua miniatura, nem sua prehistória, mas seu cerne; não o seu anterior, mas seu íntimo: esse centro que, durante toda sua vida, ele entrevê e em direção ao qual, valente, ele se esforça por se aproximar. Essa infância é de ordem escatológica. Ela está por vir. Tomando uma criança, ele a colocou no meio... A equação que se pode extrair desses dois versos paralelos é tão evidente quanto elementar: no horizonte do gesto feito por Jesus, mais profético do que afetuoso, a Criança é o próprio Reino. Novissimus. Absolutamente novo. Amém.


(François Cassingena-Trévedy, 1959-, França)


CONTEMPLAR

Meninas na Missa, 2003, Igreja Católica Notre Dame do Haiti, Miami, Flórida, da série Haiti/ Little Haiti, Bruce Weber (1946-), Pensilvânia, Estados Unidos.




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