terça-feira, 5 de junho de 2018

O Caminho da Beleza 29 - X Domingo Tempo Comum


A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).




X Domingo do Tempo Comum                     10.06.2018
Gn 3, 9-15               2 Cor 4, 13-5, 1                 Mc 3, 20-35


ESCUTAR

O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” E ele respondeu: “Ouvi tua voz no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; e me escondi” (Gn 3, 9-10).

Voltamos nossos olhares para as coisas invisíveis e não para as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é eterno (2 Cor 4, 18).

Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si (Mc 3, 21).


MEDITAR

O trágico paradoxo do cristianismo está no fato de que saiu vitorioso da época das perseguições para terminar preso dos pequenos burgueses e reduzir-se quase unicamente à falsidade e à hipocrisia.

(Tatiana Goricheva, 1947-, São Petersburgo, Rússia)


ORAR

            Jesus “estava fora de si”. Em certo sentido, eles têm razão. É o Espírito que, uma vez mais, colocou-o “para fora”, tornou-o “desequilibrado”. Não sei se hoje há muitos cristãos que, imitando o modelo de Cristo, mereçam o qualificativo de “loucos” e despertem preocupação nos notáveis. Muitos cristãos, pelo contrário, não estão dispostos de nenhuma maneira a permanecer “fora”. Fora das modas, das ideologias, da competição louca, das operações mais vantajosas, da mentalidade corrente, da vaidade, do protagonismo, das medidas de bom senso. Aceitar o espírito de Cristo significa, necessariamente, estar “fora de si”, fora dos cálculos, das prudências, dos medos, das diplomacias, das hipocrisias, das táticas humanas. A blasfêmia contra o Espírito, um pecado que “nunca será perdoado”, me parece que é precisamente, além da recusa consciente da luz, a recusa da loucura, que é um componente essencial da santidade a que todos somos chamados. A blasfêmia contra o Espírito Santo é a pretensão de seguir a Cristo sem “perder a cabeça” (Cura D’Ars). Blasfêmia contra o Espírito é a presunção de mudar o mundo, de se meter a influir na realidade, com “racionalidade”, sem ser sinal de contradição, sem aparecer (ao menos um pouco) louco. A loucura deveria ser um carisma essencial em uma Igreja que pretenda ser fiel mais ao paradoxo evangélico do que ao tratado de “boas maneiras”. Sem loucura o cristianismo se reduz à ética, ou pior, ao moralismo, a rubricas litúrgicas ou pietistas, a compromissos sociais integrados à cultura dominante. Não foram os grandes pecadores que crucificaram a Cristo, mas sim homens medíocres, burocratas cobertos de oficialidade, funcionários diligentes do aparato, guardiões solícitos e míopes da ortodoxia, que não podiam tolerar que ele permanecesse “fora” da família, “fora” das tradições consolidadas, “fora” das relações de força. Devemos nos convencer que só os loucos nos salvarão. Ou seja, aqueles que destruam as falsas harmonias, que não aceitem as acomodações bem montadas e as partilhas vantajosas, que arrebentem os parâmetros mundanos. O louco por Cristo não está isolado, ele se mescla com as pessoas, frequenta o mercado, se mete por todos os lados. Mas, ao mesmo tempo, resulta inatingível, imprevisível, incontrolável, insólito (e insolente), não programável.

(Alessandro Pronzato, 1932-, Itália)


CONTEMPLAR

S. Título, 1980, hospital psiquiátrico em San Clemente, Itália, Raymond Depardon (1942-), do livro “Manicomio”, Magnum Photos, França.




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