A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
X Domingo do Tempo Comum 10.06.2018
Gn 3, 9-15 2 Cor 4, 13-5, 1 Mc
3, 20-35
ESCUTAR
O Senhor Deus chamou Adão, dizendo: “Onde estás?” E ele
respondeu: “Ouvi tua voz no jardim e fiquei com medo, porque estava nu; e me
escondi” (Gn 3, 9-10).
Voltamos nossos olhares para as coisas invisíveis e não para
as coisas visíveis. Pois o que é visível é passageiro, mas o que é invisível é
eterno (2 Cor 4, 18).
Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram para
agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si (Mc 3, 21).
MEDITAR
O trágico paradoxo do cristianismo está no fato de que saiu
vitorioso da época das perseguições para terminar preso dos pequenos burgueses
e reduzir-se quase unicamente à falsidade e à hipocrisia.
(Tatiana Goricheva, 1947-, São Petersburgo, Rússia)
ORAR
Jesus
“estava fora de si”. Em certo sentido, eles têm razão. É o Espírito que, uma
vez mais, colocou-o “para fora”, tornou-o “desequilibrado”. Não sei se hoje há
muitos cristãos que, imitando o modelo de Cristo, mereçam o qualificativo de
“loucos” e despertem preocupação nos notáveis. Muitos cristãos, pelo contrário,
não estão dispostos de nenhuma maneira a permanecer “fora”. Fora das modas, das
ideologias, da competição louca, das operações mais vantajosas, da mentalidade
corrente, da vaidade, do protagonismo, das medidas de bom senso. Aceitar o
espírito de Cristo significa, necessariamente, estar “fora de si”, fora dos
cálculos, das prudências, dos medos, das diplomacias, das hipocrisias, das
táticas humanas. A blasfêmia contra o Espírito, um pecado que “nunca será
perdoado”, me parece que é precisamente, além da recusa consciente da luz, a
recusa da loucura, que é um componente essencial da santidade a que todos somos
chamados. A blasfêmia contra o Espírito Santo é a pretensão de seguir a Cristo
sem “perder a cabeça” (Cura D’Ars). Blasfêmia contra o Espírito é a presunção
de mudar o mundo, de se meter a influir na realidade, com “racionalidade”, sem
ser sinal de contradição, sem aparecer (ao menos um pouco) louco. A loucura
deveria ser um carisma essencial em uma Igreja que pretenda ser fiel mais ao
paradoxo evangélico do que ao tratado de “boas maneiras”. Sem loucura o
cristianismo se reduz à ética, ou pior, ao moralismo, a rubricas litúrgicas ou
pietistas, a compromissos sociais integrados à cultura dominante. Não foram os
grandes pecadores que crucificaram a Cristo, mas sim homens medíocres,
burocratas cobertos de oficialidade, funcionários diligentes do aparato,
guardiões solícitos e míopes da ortodoxia, que não podiam tolerar que ele
permanecesse “fora” da família, “fora” das tradições consolidadas, “fora” das
relações de força. Devemos nos convencer que só os loucos nos salvarão. Ou
seja, aqueles que destruam as falsas harmonias, que não aceitem as acomodações
bem montadas e as partilhas vantajosas, que arrebentem os parâmetros mundanos.
O louco por Cristo não está isolado, ele se mescla com as pessoas, frequenta o
mercado, se mete por todos os lados. Mas, ao mesmo tempo, resulta inatingível,
imprevisível, incontrolável, insólito (e insolente), não programável.
(Alessandro Pronzato, 1932-, Itália)
CONTEMPLAR
S. Título, 1980, hospital psiquiátrico em San
Clemente, Itália, Raymond Depardon (1942-), do livro “Manicomio”, Magnum
Photos, França.
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