A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
I Domingo da Quaresma 18.02.2018
Gn 9, 8-15 1 Pd 3, 18-22 Mc 1, 12-15
ESCUTAR
“Eis que vou estabelecer minha aliança convosco e com vossa descendência,
com todos os seres vivos” (Gn 9, 9).
[Cristo] sofreu a morte na sua existência humana, mas recebeu nova vida
pelo Espírito (1 Pd 3, 18).
O Espírito levou Jesus para o deserto (Mc 1, 12).
MEDITAR
O Pastor amoroso perdeu o cajado,
E as ovelhas trasmalharam-se pela encosta...
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu...
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa, viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que existem, estão
presentes.
(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe entrou fresco nos
pulmões)
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor, uma liberdade no peito.
(Fernando Pessoa, 1888-1935)
ORAR
Convém lembrar como o
primeiro Adão foi expulso do paraíso para o deserto, para que tua atenção seja
atraída à maneira pela qual o segundo Adão voltou do deserto ao paraíso. Veja,
com efeito, como as primeiras sentenças, que haviam sido estabelecidas, são
negadas e como as boas ações divinas são restabelecidas, retomando seus
próprios traços. Adão vem de uma terra virgem, o Cristo da Virgem; aquele foi
feito à imagem de Deus, Este é a Imagem de Deus; aquele foi colocado acima de
todos os animais irracionais, Este acima de todos os seres animados; por uma
mulher veio o desatino, por uma virgem a sabedoria; a morte por uma árvore, a
vida pela Cruz. Um, desnudado do espiritual, é coberto pelo desfolhar de uma
árvore; o outro, despojado dos hábitos desse século, não tem mais desejo de uma
vestimenta corporal. Adão é expulso para o deserto, o Cristo vem para o
deserto. É porque Ele sabia onde encontrar o condenado que reconduziria ao
paraíso livre de sua falta; mas como ele não podia retornar para lá coberto
pelos hábitos deste mundo, uma vez que não se pode ser habitante do céu sem
estar despojado de toda falta, o homem velho retira-se, revestido do novo. Como
aquele que, desorientado, havia perdido no paraíso a rota que seguia, pode, sem
guia, encontrar no deserto a rota perdida? Sigamos, portanto, o Cristo,
conforme o que é escrito: “tu marcharás
em seguida ao Senhor teu Deus, a ele estarás ligado”. A quem me ligar senão
ao Cristo, como diz Paulo: “aquele que se
liga ao Senhor é só um espírito com Ele”. Sigamos, então, seus rastros e
nós poderemos retornar do deserto ao paraíso... É, portanto, de propósito, que
Jesus, cheio do Espírito Santo, é conduzido ao deserto para provocar o diabo.
Pois se não tivesse combatido, o Senhor não teria triunfado por mim. Ele o fez
no mistério para livrar este Adão do exílio; ele o faz como exemplo para nos
mostrar que o diabo odeia aqueles que se esforçam em fazer o melhor e que,
nesse caso, acima de tudo, é necessário cuidar que a fraqueza da alma não traia
a graça do mistério.
(Ambrósio de Milão, aprox. 334-397)
CONTEMPLAR
Muro da Separação em El Paso, 2011, Texas, Estados
Unidos, Paolo Pellegrin (1964-), Magnum Photos, Roma, Itália.
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