segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

O Caminho da Beleza 03 - III Domingo do Advento

A palavra de Deus é viva e eficaz e mais cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).


III Domingo do Advento                     17.12.2017
Is 61, 1-2.10-11                  1 Ts 5, 16-24                       Jo 1, 6-8.19-28

ESCUTAR

Como a terra faz brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará germinar a justiça (Is 61, 11).

Não apagueis o espírito! Não desprezeis as profecias (1 Ts 5, 19-20).

“Eu sou a voz que grita no deserto” (Jo 1, 23).


MEDITAR

Perguntaram a um ancião: “Por que tenho medo quando vou ao deserto?”. “Porque até então vives para ti mesmo”, respondeu o ancião.

(Padres do Deserto, XXII, 2).


ORAR

            O Grito se fez carne, finalmente, o Grito em pessoa que rasga a história pelo meio. Jesus, o Grito de uma extremidade a outra, desde o que ele certamente soltou, como todo homem, para entrar no mundo, até aquele que soltou, como todo homem, para sair dele. É este que, nos dias de sua carne, com violento clamor e lágrimas, dirigiu pedidos e súplicas àquele que podia salvá-lo da morte, e sendo atendido em razão de seu amor, apesar de ser Filho, aprendeu, por aquilo que sofreu, a obediência (Hb 5, 7-8).  Na verdade, a manjedoura do Natal seria infantil e franzina se não desse a ver, ou melhor, a escutar baixinho, em seu ostensório de palha seca, o Grito capital, o Grito hospedeiro de todos os gritos do homem, até os arrancados da dor, da violência sofrida e da sensação do abandono. E pela hora nona, Jesus clamou com um grande grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt 27, 46). Ainda que seja bem compreensível, a indignação que suscita no mundo católico atual o ostracismo em que a manjedoura aqui e ali se encontra, não deveria ser ela acompanhada de um exame de consciência? Decididamente, não temos que nos censurar por ter feito do Natal algo tão pequeno? Não tornamos silenciosa a manjedoura, distante dos gritos reais que soltam as crianças e os homens? Teríamos falhado em nossa missão de fazer escutar naqueles que estão longe, muito longe, cada vez mais longe, o Deus real, isto é, aquele que reúne, em sua carne, todos os gritos do homem e que somos nós que os escutamos em seu Nome? Porque se é verdade que Deus conosco é seu Nome, como é que ele não gritaria também conosco? Não precipitamos nós mesmos, com o tempo, o exílio, isso que hoje em dia perturba as nossas boas consciências, inspirando o sentimento de uma religião que excomunga a priori os gritos os mais insolentes e poderosos do homem (aqueles de que os Salmos, todavia, estão cheios)?

(François Cassingena-Trévedy, monge beneditino do Mosteiro de Ligugé, Vienne, França)


CONTEMPLAR


Sahel: O Fim da Estrada - Refugiados no campo de refúgio de Korem, 1984, Korem, Tigray, Etiópia, Sebastião Salgado (1944-), Magnum Photos, do livro África (2007), Brasil.



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