A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
III Domingo do
Advento 17.12.2017
Is 61,
1-2.10-11 1 Ts 5, 16-24 Jo 1, 6-8.19-28
ESCUTAR
Como a terra faz
brotar a planta e o jardim faz germinar a semente, assim o Senhor Deus fará
germinar a justiça (Is 61, 11).
Não apagueis o
espírito! Não desprezeis as profecias (1 Ts 5, 19-20).
“Eu sou a voz
que grita no deserto” (Jo 1, 23).
MEDITAR
Perguntaram a um
ancião: “Por que tenho medo quando vou ao deserto?”. “Porque até então vives
para ti mesmo”, respondeu o ancião.
(Padres do
Deserto, XXII, 2).
ORAR
O Grito se fez carne, finalmente, o
Grito em pessoa que rasga a história pelo meio. Jesus, o Grito de uma
extremidade a outra, desde o que ele certamente soltou, como todo homem, para
entrar no mundo, até aquele que soltou, como todo homem, para sair dele. É este que, nos dias de sua carne, com
violento clamor e lágrimas, dirigiu pedidos e súplicas àquele que podia
salvá-lo da morte, e sendo atendido em razão de seu amor, apesar de ser Filho,
aprendeu, por aquilo que sofreu, a obediência (Hb 5, 7-8). Na verdade, a manjedoura do Natal seria
infantil e franzina se não desse a ver, ou melhor, a escutar baixinho, em seu
ostensório de palha seca, o Grito capital, o Grito hospedeiro de todos os
gritos do homem, até os arrancados da dor, da violência sofrida e da sensação
do abandono. E pela hora nona, Jesus
clamou com um grande grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Mt
27, 46). Ainda que seja bem compreensível, a indignação que suscita no mundo
católico atual o ostracismo em que a manjedoura aqui e ali se encontra, não
deveria ser ela acompanhada de um exame de consciência? Decididamente, não temos
que nos censurar por ter feito do Natal algo tão pequeno? Não tornamos
silenciosa a manjedoura, distante dos gritos reais que soltam as crianças e os
homens? Teríamos falhado em nossa missão de fazer escutar naqueles que estão
longe, muito longe, cada vez mais longe, o Deus real, isto é, aquele que reúne,
em sua carne, todos os gritos do homem e que somos nós que os escutamos em seu
Nome? Porque se é verdade que Deus
conosco é seu Nome, como é que ele não gritaria também conosco? Não
precipitamos nós mesmos, com o tempo, o exílio, isso que hoje em dia perturba
as nossas boas consciências, inspirando o sentimento de uma religião que
excomunga a priori os gritos os mais
insolentes e poderosos do homem (aqueles de que os Salmos, todavia, estão
cheios)?
(François
Cassingena-Trévedy, monge beneditino do Mosteiro de Ligugé, Vienne, França)
CONTEMPLAR
Sahel: O Fim da Estrada - Refugiados no
campo de refúgio de Korem, 1984, Korem, Tigray, Etiópia, Sebastião Salgado
(1944-), Magnum Photos, do livro África (2007), Brasil.
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