A palavra de Deus é viva e eficaz e mais
cortante que espada de dois gumes (Hb 4, 12).
Sagrada
Família de Jesus, Maria e José 31.12.2017
Eclo 3,
3-7.14-17 Cl 3, 12-21 Lc 2, 22-40
ESCUTAR
A caridade feita
a teu pai não será esquecida (Eclo 3, 16).
Que a paz de
Cristo reine em vossos corações, à qual fostes chamados como membros de um só corpo
(Cl 3, 15).
“Agora, Senhor,
conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus
olhos viram a tua salvação” (Lc 2, 29).
MEDITAR
Eu sou livre,
devo sê-lo sempre mais, mas para ligar a minha liberdade a algo maior (mais
belo, mais justo, mais verdadeiro) do que ela. A liberdade se realiza à medida
que adere à verdade enquanto lógica da vida, e essa lógica da vida é a relação
harmoniosa. A liberdade se realiza aderindo à vida boa e à vida justa. É este o
porto no qual a liberdade deseja aportar. A liberdade se realiza no amor.
(Vito Mancuso)
ORAR
Simeão é um personagem visceral. Nós
o imaginamos quase sempre como um sacerdote ancião do Templo, embora o texto
não diga nada sobre isso. Simeão é um homem bom do povo, que guarda em seu
coração a esperança de ver um dia “o consolo” de que tanto precisa. “Conduzido,
pelo mesmo Espírito”, sobe ao templo no momento em que entram Maria, José e seu
menino Jesus. O encontro é comovente. Simeão reconhece no menino, trazido por
aquela pobre dupla de judeus piedosos, o Salvador que esperava há tantos anos.
O homem se sente feliz. E num gesto atrevido e maternal, “tomou-o em seus
braços” e com grande amor e carinho bendisse a Deus e aos pais. Sem dúvida, o
evangelista o apresenta como modelo: é assim que devemos acolher o Salvador.
Mas, de pronto, ele se dirige a Maria, seu rosto muda, e suas palavras não
pressagiam nada de tranquilizador: “uma espada te atravessará o coração”. Este
menino que tem em seus braços “será sinal de contradição”, fonte de conflitos e
enfrentamentos. Jesus fará que todos “ou caiam ou se levantem”. Uns o acolherão
e sua vida adquirirá uma dignidade nova, sua existência se encherá de luz e de
esperança. Outros o rechaçarão e sua vida se porá a perder, a recusa a Jesus
será a sua ruína. Diante de Jesus, “manifestar-se-ão claramente os pensamentos
de todos”. Ele desvelará o que há de mais profundo nas pessoas. A acolhida
deste menino pede uma mudança profunda. Jesus não vem trazer tranquilidade e
sim gerar um processo doloroso e conflitivo de conversão radical. Sempre é
assim, hoje também. Uma Igreja que leve a sério sua conversão a Jesus Cristo
não será nunca um espaço de tranquilidade, mas sim de conflito. Não é possível
uma relação mais vital com Jesus sem dar passos até níveis maiores de verdade,
e isto é sempre doloroso para todos. Quanto mais nos aproximamos de Jesus,
melhor veremos nossas incoerências e desvios, o que há de verdade ou mentira em
nosso cristianismo, o que há de pecado em nossos corações e estruturas, em
nossas vidas e teologias.
(José Antonio
Pagola).
CONTEMPLAR
Um menino olha de um abrigo temporário num
campo de refugiados Rohingya, 2014, Sittwe, Myanmar, Soe Zeya Tun, Agência
Reuters, Yangon, Myanmar.