segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O Caminho da Beleza 45 - XXVI Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXVI Domingo do Tempo Comum             01.10.2017
Ez 18, 25-28                       Fl 2, 1-5                   Mt 21, 28-32


ESCUTAR

“Quando um justo se desvia da justiça, ele pratica o mal e morre” (Ez 18, 26).

Cada um julgue que o outro é mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também do que é do outro (Fl 2, 3-4).

“Em verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no reino de Deus” (Mt 21, 31).


MEDITAR

Depois que dizemos Sim a Deus, só nos resta dizer Amém!

(Paulo Botas, mts)


ORAR

A lógica do sistema nos faz pensar que o que somos devemos a nós mesmos e quando isso não acontece descarregamos as nossas culpas sobre a nossa árvore genealógica. É cômodo responsabilizar a sociedade, as estruturas e o sistema pelo que não conseguimos por falta de nosso empenho pessoal. O profeta adverte que sempre haverá uma possibilidade de arrependimento e de uma mudança de orientação de nossa existência. Os que não se arrependem de uma coisa nem de outra continuarão caminhando sem jamais se perguntar sobre a razão de sua vida. Continuamos a repetir o que passou e nos omitimos de inventar um outro presente e um novo futuro. A maior loucura é ver o mundo como ele é não como deveria ser. Há os que decidem a vida e avançam e os que deixam que a vida decida por eles e se enraízam numa falta de liberdade. O evangelho nos revela o arrependimento dos filhos. Um se arrepende do Sim e não vai e o outro se arrepende do Não e vai. Está em jogo o sentido da obediência: uns são rebeldes por amor e outros fiéis por desafeto. Há os poucos disciplinados e descarados, substancialmente desobedientes, mas animados por um amor real. Temos que temer nas nossas igrejas os do consenso superficial, das aprovações entusiastas, das declarações fervorosas que nada custam, das aclamações que só comprometem a boca. Os aplausos fecham o discurso e o interrompem, mas dificilmente abrem a um compromisso concreto e silencioso. Mil palavras, centenas de documentos, planos de pastoral e declarações solenes não fazem um Sim. A bênção do Senhor dada por um batizado vale tanto quanto a de um purpurado clerical que concede às ostentações dos políticos que alimentam, como na igreja de Filipos, as rivalidades, as discórdias, a mentalidade de clã e o cultivo das glórias pessoais. A essência da vida cristã é a de não se pertencer mais. É dizer, ao inspirar, “Seja feita” e, ao expirar, “A sua vontade”. O Cristo sabe o que é melhor para nós, basta que nos coloquemos disponíveis. A tradição rabínica nos exorta: “Os justos falam pouco e fazem muito. Os ímpios falam muito e nada fazem”. A quem pode interessar o credo que professamos se vivemos sem compaixão e ocupados com o nosso bem-estar? De que adiantam os pedidos dirigidos a Deus para que traga paz e justiça, se nada fazemos para construir uma vida digna como Ele deseja para todos? A obediência querida por Deus não é a submissão cega da nossa capacidade de decidir. A obediência querida por Deus significa a proximidade com os outros, a eliminação da vanglória, do próprio interesse e do gosto do poder. Recebemos de Deus uma missão de diaconia e de serviço. Devemos nos perguntar no mais fundo de nós: de quantos sepulcros caiados, de aparente obediência, nascem o vazio, a morte e a podridão? É preciso ter a coragem, como o Cristo, de sujar as mãos, de se arriscar na busca de novos valores mais próximos da liberdade, do amor e da felicidade humana.


CONTEMPLAR

Menino de boné na fila de identidade, 1981, Patrick Zachmann (1955-), Magnum Photos, Choisy-le-Roi, França.





segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O Caminho da Beleza 44 - XXV Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXV Domingo do Tempo Comum               24.09.2017
Is 55, 6-9                 Fl 1, 20-24.27                    Mt 20, 1-16


ESCUTAR

Meus pensamentos não são como os vossos pensamentos, e vossos caminhos não são como os meus caminhos (Is 55, 8).

Pois, para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro (Fl 1, 21).

“Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?” (Mt 20, 15).


MEDITAR

O sábio disse
À amendoeira:
Fala-me de Deus.
E a amendoeira floriu.

(Poema anônimo, Abadia de Sylvanès, França)


ORAR

Tudo se joga num instante. Os convites, paradoxalmente, são novos e os mesmos a cada novo momento. Se não estivermos atentos, podemos faltar ao encontro marcado e decisivo nas nossas vidas. Este é o momento favorável e pode não existir outro. Não nos é concedido pedir um tempo para considerarmos a oferta, pois Deus está no instante-que-passa (Ecl 3, 15). Os caminhos do Senhor nunca coincidem, rigorosamente, com os nossos. Existe sempre uma distância que se mede pela escala do Infinito. Descobrir Deus é se desembaraçar dos nossos pesos e medidas; da nossa miserável contabilidade e de nossos critérios de julgamento. Os que chegam por último percebem o mesmo que os primeiros. Pensar em Deus significa renunciar aos nossos pensamentos sobre Ele. A deformação da imagem de Deus é o perigo que correm as pessoas religiosas. “Peçamos a Deus, que nos livre de Deus”, já dizia Mestre Eckhart. Quando nos convertemos não encontramos, automaticamente, Deus. O encontro é sempre com um Deus Escondido e que permanece Escondido para que possamos buscá-Lo. O encontro com Deus se faz pelos olhos do coração. Deus nos desconcerta e nos escandaliza. Diante Dele, não conta nem a questão do mérito, nem da quantidade ou qualidade do trabalho; nem muito menos do prêmio de produção ou a eleição do operário padrão. O chamado para o trabalho na vinha é graça e o prêmio é um dom. A alegria de Deus é dar sem medida. Aceitamos com tranquilidade os dogmas proclamados pelas igrejas, mas a generosidade de Deus cria problemas a ponto de ser, para muitos, um obstáculo para a fé e um perigo para a moral. A generosidade de Deus não é uma debilidade do Seu coração. Fomos educados a aplaudir a severidade de Deus, mas não a sua benevolência. A parábola obriga a nos perguntar sobre nossas reações diante das atitudes surpreendentes e escandalosas de Deus. O coração de Deus é tão profundamente bondoso que privilegia os últimos, os mais desgraçados e os que a lógica dos homens despreza. A solução da crise que vivemos virá, não da riqueza, mas da bondade. Quando formos verdadeiramente sensíveis aos sofrimentos dos menores entre nós.


CONTEMPLAR


Mina de Ouro de Serra Pelada, 1986, do livro “Trabalhadores”, Sebastião Salgado (1944-), Minas Gerais, Brasil.



segunda-feira, 11 de setembro de 2017

O Caminho da Beleza 43 - XXIV Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXIV Domingo do Tempo Comum             17.09.2017
Eclo 17, 33-28,9               Rm 14, 7-9              Mt 18, 21-35


ESCUTAR

Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura? Se não tem compaixão do seu semelhante, como poderá pedir perdão dos seus pecados? (Eclo 27, 3-4).

Irmãos, ninguém dentre nós vive para si mesmo ou morre para si mesmo (Rm 14, 7).

“Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes?” (Mt 18, 21).


MEDITAR

Perdoar a uma cascavel: exercício de santidade.

(João Guimarães Rosa)


ORAR

Quando colocamos a questão, “Quantas vezes devo perdoar?”, impomos um limite à misericórdia de Deus. Para evitar esta desgraça espiritual, devemos perguntar, “Quantas vezes posso perdoar?”, e assim colocaremos nossos corações na mesma sintonia do coração de Deus. Podemos perdoar infinitas vezes como são infinitos os perdões de Deus. Não devemos pensar como Pedro, que tem as chaves para atar e desatar, em termos de dever e de obrigação. O perdão não é um mandato compulsório, nem um dever, uma imposição, mas uma estupenda e surpreendente possibilidade. Não é uma obrigação, mas um gesto gratuito e fora de todas as regras. O perdão é a capacidade de mudar as regras do jogo em que a bola envenenada da ofensa e da violência, atirada em direção ao adversário, tem a força acentuada pelo ódio, pela vingança, pelo rancor e pelo ressentimento. O perdão rompe o cerco sufocante, dilata os espaços e produz o insólito: inaugura um novo modo de viver e olhar o outro. É interdito a nós introduzir números nos registros da misericórdia e fixar datas especiais no calendário do amor. Nunca existirá uma última vez, pois em assuntos do perdão existem apenas limites a serem, continuamente, superados. Para Jesus, terminou o tempo das contas e das dosificações penais. O perdão para ser produzido deve ser repartido e participado com os outros, como se fosse um pão. O perdão, como o amor, não termina nunca e não se interrompe. A glória de Deus é perdoar e nisto se resume todo o cristianismo. Não devemos ter medo de perdoar muito, pois o que damos aos outros é a justa medida do que receberemos de Deus. Não podemos ser servos sem entranhas que anulam a compaixão por não querer ouvir os chamados de perdão. No entanto, devemos gravar em nossos corações e mentes a regra de ouro do poeta: “Quem não pede perdão não é nunca perdoado”.


CONTEMPLAR


Um homem norte-coreano acena sua mão enquanto seu parente sul-coreano chora, 2010, Monte Kungang, Coréia do Norte, foto de Kim Ho-Young, Agência Reuters, Coreia do Sul.



segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O Caminho da Beleza 42 - XXIII Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XXIII Domingo do Tempo Comum            10.09.2017
Ez 33, 7-9                Rm 13, 8-10                       Mt 18, 15-20


ESCUTAR

“Quanto a ti, filho do homem, eu te estabeleci como vigia para a casa de Israel. Logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu os deves advertir em meu nome” (Ez 33, 7).

Irmãos, não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo, pois quem ama o próximo está cumprindo a lei (Rm 13, 8).

“Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo, mas em particular, a sós contigo! Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão” (Mt 18, 15).


MEDITAR

Morte vela sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi, memória não morrerá

Vulto negro em meu rumo vem
Mostrar a sua dor plantada nesse chão
Seu rosto brilha em reza, brilha em faca e flor
Histórias vem me contar

Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar

Precisa gritar sua força êê irmão, sobreviver
A morte inda não vai chegar,
se a gente na hora de unir, os caminhos num só,
não fugir e nem se desviar...

Morte vela sentinela sou
Do corpo desse meu irmão que já se foi
Revejo nessa hora tudo que aprendi, memória não morrerá

Longe, longe, ouço essa voz
Que o tempo não vai levar

(Milton Nascimento)


ORAR

Temos aprendido que ter dívidas é algo a ser evitado a qualquer preço. As dívidas de dinheiro devem ser pagas pontualmente, caso contrário, pagaremos com juros e correção. Mas, as dívidas de amor jamais estarão saldadas de uma vez por todas. Seremos sempre, como cristãos, devedores do amor. O amor é um crédito que os outros exibem diante de nós sempre e em todos os lugares. Sempre deveremos amor aos outros e isto não é nada de extraordinário, porque são as leis do Reino de Deus. O profeta nos convida a ser sentinelas e a falar a verdade. O sentinela não considera valor o número da conta bancária, o cartão de crédito e nem o cargo que se ocupa nas hierarquias civis e religiosas. O sentinela sabe que o bem precioso a ser defendido é o amor. O sentinela é o guardião do seu irmão e para isto exerce a correção fraterna. Ele não é um espião, nem um policial do outro. A correção fraterna exige o abandono de toda a atitude de superioridade. Não se deve dizer: “Olha o que você faz”, mas “Olha o que somos capazes de fazer”. A presença de Deus atua onde existe uma presença fraterna e verdadeira. O evangelho oferece a régua e o compasso: o pecado não é nem culpa, nem mancha e nem ofensa a Deus. O pecado é a ofensa a nós mesmos e o mal que nos fazemos uns aos outros. O perdão do pecado se obtém mediante a mútua reconciliação dos que se ofenderam. Se não houver perdão recíproco não há perdão de Deus. Se Jesus está presente na comunidade, já não precisamos ir sempre aos templos, aos lugares especiais para encontrá-Lo. Vamos encontrá-Lo na oração comunitária, no abraço fraterno e na busca de erradicar o mal da nossa sociedade e suas expressões coroadas pela alienação religiosa.


CONTEMPLAR

Sem Título, Ralph Gibson (1939-)?, Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos.