Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
XXVI Domingo do Tempo Comum 01.10.2017
Ez 18, 25-28 Fl 2, 1-5 Mt 21, 28-32
ESCUTAR
“Quando
um justo se desvia da justiça, ele pratica o mal e morre” (Ez 18, 26).
Cada
um julgue que o outro é mais importante e não cuide somente do que é seu, mas também
do que é do outro (Fl 2, 3-4).
“Em
verdade vos digo que os cobradores de impostos e as prostitutas vos precedem no
reino de Deus” (Mt 21, 31).
MEDITAR
Depois
que dizemos Sim a Deus, só nos resta dizer Amém!
(Paulo
Botas, mts)
ORAR
A lógica do sistema nos faz pensar que o que somos
devemos a nós mesmos e quando isso não acontece descarregamos as nossas culpas
sobre a nossa árvore genealógica. É cômodo responsabilizar a sociedade, as
estruturas e o sistema pelo que não conseguimos por falta de nosso empenho
pessoal. O profeta adverte que sempre haverá uma possibilidade de
arrependimento e de uma mudança de orientação de nossa existência. Os que não
se arrependem de uma coisa nem de outra continuarão caminhando sem jamais se
perguntar sobre a razão de sua vida. Continuamos a repetir o que passou e nos
omitimos de inventar um outro presente e um novo futuro. A maior loucura é ver
o mundo como ele é não como deveria ser. Há os que decidem a vida e avançam e
os que deixam que a vida decida por eles e se enraízam numa falta de liberdade.
O evangelho nos revela o arrependimento dos filhos. Um se arrepende do Sim e não vai e o outro se arrepende do Não e vai. Está em jogo o sentido da
obediência: uns são rebeldes por amor e outros fiéis por desafeto. Há os poucos
disciplinados e descarados, substancialmente desobedientes, mas animados por um
amor real. Temos que temer nas nossas igrejas os do consenso superficial, das
aprovações entusiastas, das declarações fervorosas que nada custam, das
aclamações que só comprometem a boca. Os aplausos fecham o discurso e o
interrompem, mas dificilmente abrem a um compromisso concreto e silencioso. Mil
palavras, centenas de documentos, planos de pastoral e declarações solenes não
fazem um Sim. A bênção do Senhor dada
por um batizado vale tanto quanto a de um purpurado clerical que concede às
ostentações dos políticos que alimentam, como na igreja de Filipos, as
rivalidades, as discórdias, a mentalidade de clã e o cultivo das glórias
pessoais. A essência da vida cristã é a de não se pertencer mais. É dizer, ao
inspirar, “Seja feita” e, ao expirar,
“A sua vontade”. O Cristo sabe o que
é melhor para nós, basta que nos coloquemos disponíveis. A tradição rabínica
nos exorta: “Os justos falam pouco e fazem muito. Os ímpios falam muito e nada
fazem”. A quem pode interessar o credo que professamos se vivemos sem compaixão
e ocupados com o nosso bem-estar? De que adiantam os pedidos dirigidos a Deus
para que traga paz e justiça, se nada fazemos para construir uma vida digna
como Ele deseja para todos? A obediência querida por Deus não é a submissão
cega da nossa capacidade de decidir. A obediência querida por Deus significa a
proximidade com os outros, a eliminação da vanglória, do próprio interesse e do
gosto do poder. Recebemos de Deus uma missão de diaconia e de serviço. Devemos
nos perguntar no mais fundo de nós: de quantos sepulcros caiados, de aparente
obediência, nascem o vazio, a morte e a podridão? É preciso ter a coragem, como
o Cristo, de sujar as mãos, de se arriscar na busca de novos valores mais
próximos da liberdade, do amor e da felicidade humana.
CONTEMPLAR
Menino de boné na fila de
identidade, 1981, Patrick Zachmann (1955-), Magnum Photos, Choisy-le-Roi,
França.