segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O Caminho da Beleza 38 - XIX Domingo do Tempo Comum

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

XIX Domingo do Tempo Comum                13.08.2017
1 Rs 19, 9.11-13                 Rm 9, 1-5                Mt 14, 22-33


ESCUTAR

Ouviu-se o murmúrio de uma leve brisa (1 Rs 19, 12).

Tenho no coração uma grande tristeza e uma dor contínua (Rm 9, 2).

“Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14, 27).


MEDITAR

Deu-me Deus o seu gládio, porque eu faça
A sua santa guerra.
Sagrou-me seu em honra e em desgraça,
Às horas em que um frio vento passa
Por sobre a fria terra.

Pôs-me as mãos sobre os ombros e doirou-me
A fronte com o olhar;
E esta febre de Além, que me consome,
E este querer grandeza são seu nome
Dentro em mim a vibrar.

E eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em minha face calma.
Cheio de Deus, não temo o que virá,
Pois, venha o que vier, nunca será
Maior do que a minha alma.

(Fernando Pessoa, Mensagem)


ORAR

O profeta Elias é um profeta fogoso: “Então levantou como fogo um profeta [Elias] cujas palavras eram fogo aceso” (Eclo 48, 1) e seu Deus era um fogo exterminador. Para ele Deus só podia ser um guerreiro que aniquilava os inimigos: 450 profetas de ídolos foram barbaramente degolados (1 Rs 18, 40). Mas, o deus que vence pela espada não é um verdadeiro Deus e, na hora do triunfo, Elias tem seus olhos cegados e sua mente aprisionada em seus próprios esquemas. Quando é perseguido, Elias tem a oportunidade de encontrar Deus e descobrir seu verdadeiro rosto. Não é no monte Carmelo, onde aconteceu o cruento desafio entre os fanatismos opostos, mas no monte Horeb e de uma maneira distinta da experimentada por Moisés. O Senhor é sempre novo e surpreendente e não faz reedições do passado. É o silêncio que entrega a Elias o verdadeiro Deus: “Depois do fogo, uma voz e um silêncio sutil”. O Senhor é silêncio, paz, intimidade e presença serena. Elias sai transformado e transfigurado em um ser pacificado. Agora poderá falar de Deus sem vociferar e invocar o fogo dos céus, pois descobrira que os relâmpagos da tempestade não traçam as linhas do rosto de Deus. O evangelista narra a tempestade em que Pedro afunda no mar. Aliás, uma coisa embaraçadora para um pescador profissional. Pedro falhou por estar com o corpo pesado, dominado pelo medo e pela sua ambição de se sobressair dos demais. Pedro foi puxado para baixo. Pedro afundou. Pedro não sabia que o segredo da leveza é a oração. Jesus em oração é esta sombra luminosa que avança sobre as águas ameaçadoras; que caminha sobre as ondas e desloca as montanhas. Ele é a voz do sutil silêncio. O pecado, o alvo errado dos homens, não pode atingir a brisa da tarde que é o próprio Deus caminhando com amor ao reencontro da sua Criação. Toda a narrativa do Evangelista é um símbolo da bondade apaixonada que paira sobre as águas e as trevas na busca incessante dos que sofrem e são atormentados; dos que se debatem na noite escura; dos que veem fantasmas, gritam de medo e se afundam na vida. Somos convidados a superar o simplismo, o fanatismo, a autopiedade farisaica, a superficialidade. Somos convidados a ser abertos, humildes, tolerantes, discretos e suaves como Deus na brisa. O Espírito de Jesus sempre será ouvido como um murmúrio: “Coragem! Sou eu. Não tenhais medo!”.


CONTEMPLAR

Sem Título, 2014, anônimo, Ijevsk, Rússia, http://fishki.net/1256374-makrofotografii-i-ne-ne-tolko.html








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