Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
XIX Domingo do Tempo Comum 13.08.2017
1 Rs 19, 9.11-13 Rm 9, 1-5 Mt 14, 22-33
ESCUTAR
Ouviu-se
o murmúrio de uma leve brisa (1 Rs 19, 12).
Tenho
no coração uma grande tristeza e uma dor contínua (Rm 9, 2).
“Coragem!
Sou eu. Não tenhais medo!” (Mt 14, 27).
MEDITAR
Deu-me
Deus o seu gládio, porque eu faça
A
sua santa guerra.
Sagrou-me
seu em honra e em desgraça,
Às
horas em que um frio vento passa
Por
sobre a fria terra.
Pôs-me
as mãos sobre os ombros e doirou-me
A
fronte com o olhar;
E
esta febre de Além, que me consome,
E
este querer grandeza são seu nome
Dentro
em mim a vibrar.
E
eu vou, e a luz do gládio erguido dá
Em
minha face calma.
Cheio
de Deus, não temo o que virá,
Pois,
venha o que vier, nunca será
Maior
do que a minha alma.
(Fernando
Pessoa, Mensagem)
ORAR
O profeta Elias é um profeta fogoso: “Então
levantou como fogo um profeta [Elias] cujas palavras eram fogo aceso” (Eclo 48,
1) e seu Deus era um fogo exterminador. Para ele Deus só podia ser um guerreiro
que aniquilava os inimigos: 450 profetas de ídolos foram barbaramente degolados
(1 Rs 18, 40). Mas, o deus que vence pela espada não é um verdadeiro Deus e, na
hora do triunfo, Elias tem seus olhos cegados e sua mente aprisionada em seus
próprios esquemas. Quando é perseguido, Elias tem a oportunidade de encontrar
Deus e descobrir seu verdadeiro rosto. Não é no monte Carmelo, onde aconteceu o
cruento desafio entre os fanatismos opostos, mas no monte Horeb e de uma maneira
distinta da experimentada por Moisés. O Senhor é sempre novo e surpreendente e
não faz reedições do passado. É o silêncio que entrega a Elias o verdadeiro
Deus: “Depois do fogo, uma voz e um silêncio sutil”. O Senhor é silêncio, paz,
intimidade e presença serena. Elias sai transformado e transfigurado em um ser
pacificado. Agora poderá falar de Deus sem vociferar e invocar o fogo dos céus,
pois descobrira que os relâmpagos da tempestade não traçam as linhas do rosto
de Deus. O evangelista narra a tempestade em que Pedro afunda no mar. Aliás,
uma coisa embaraçadora para um pescador profissional. Pedro falhou por estar
com o corpo pesado, dominado pelo medo e pela sua ambição de se sobressair dos
demais. Pedro foi puxado para baixo. Pedro afundou. Pedro não sabia que o
segredo da leveza é a oração. Jesus em oração é esta sombra luminosa que avança
sobre as águas ameaçadoras; que caminha sobre as ondas e desloca as montanhas.
Ele é a voz do sutil silêncio. O pecado, o alvo errado dos homens, não pode
atingir a brisa da tarde que é o próprio Deus caminhando com amor ao reencontro
da sua Criação. Toda a narrativa do Evangelista é um símbolo da bondade
apaixonada que paira sobre as águas e as trevas na busca incessante dos que
sofrem e são atormentados; dos que se debatem na noite escura; dos que veem
fantasmas, gritam de medo e se afundam na vida. Somos convidados a superar o
simplismo, o fanatismo, a autopiedade farisaica, a superficialidade. Somos
convidados a ser abertos, humildes, tolerantes, discretos e suaves como Deus na
brisa. O Espírito de Jesus sempre será ouvido como um murmúrio: “Coragem! Sou
eu. Não tenhais medo!”.
CONTEMPLAR
Sem Título, 2014,
anônimo, Ijevsk, Rússia, http://fishki.net/1256374-makrofotografii-i-ne-ne-tolko.html
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