Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
II Domingo da Páscoa 23.04.2017
At 2, 42-47 1 Pd 1, 3-9 Jo 20, 19-31
ESCUTAR
Todos
os que abraçavam a fé viviam unidos e colocavam tudo em comum (At 2, 44).
Em
sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos,
ele nos fez nascer de novo, para uma esperança viva (1 Pd 1, 3).
“Bem-aventurados
os que creram sem terem visto!” (Jo 20, 29).
MEDITAR
Ao
iniciar minha caminhada cometi quatro erros:
acreditei
que era eu quem o recordava,
o
conhecia,
o
amava e o procurava.
Quando
cheguei ao fim da jornada, vi que
sua
lembrança precedera a minha,
seu
conhecimento precedera o meu,
seu
amor chegara antes do meu,
e
ele me havia procurado antes,
para
que eu o procurasse.
(Al-Bistami,
Islã).
ORAR
Na
comunidade cristã o irmão não é somente o que compartilha a mesma fé, mas o que
participa e tem livre acesso aos nossos bens. Desta forma desaparece qualquer
discriminação econômica, pois a prática da partilha e da solidariedade aniquila
uma lógica patronal e privatista. A comunhão espiritual se expressa, de uma
maneira visível, na partilha dos bens materiais com os mais fracos e
necessitados. O evangelista nos apresenta uma comunidade em crise. Uma crise de
medo resolvida pela presença e o dom da paz do Ressuscitado. Crise de um discípulo
que não acredita. O Ressuscitado reaparece e não aponta Tomé com um dedo
ameaçador, mas aceita a sua condição imposta para crer. Nenhum dedo ameaçador
salvou ninguém e nunca constituiu um argumento convincente. Hoje, a dificuldade
para acreditar não vem da invisibilidade do Ressuscitado, mas da visibilidade
das igrejas e dos cristãos e de seus contra-testemunhos. A paz e a alegria se
expressam no sentimento de que o Vivente está com eles, fundido em suas vidas e
relações. A presença do Espírito é um dom de Jesus e tem uma profunda relação
com o perdão dos pecados expressos nas divisões, conflitos e violências que
causamos uns aos outros. O homem ofende a Deus quando faz dano a si mesmo e aos
outros. O pecado social denunciado pelos profetas com o passar do tempo ficou
reduzido apenas a uma ofensa individual a Deus que para ser perdoada deveria
ser submetida ao sacramento da penitência (Trento) e a confissão ficou restrita
a um ato judicial. Quem representa o Espírito não pode ter um poder judicial,
mas tão somente um poder misericordioso. Os cristãos aceitam o Vivente quando
são capazes de ver e tocar a dor humana de todos aqueles em que Deus está
presente. É nas chagas das vítimas que encontramos a fé em Deus, o Deus Pai do
Ressuscitado, o Vivente pelos séculos dos séculos. Como afirma o Papa Francisco:
“O que Jesus nos pede para fazer com nossas ações de misericórdia é aquilo que
Tomé havia pedido: entrar nas feridas. Só tocando as feridas, acariciando-as, é
possível adorar o Deus vivo no meio de nós”. A paz dada pelo Cristo
Ressuscitado não é a paz do mundo que é sempre precária, falsa e aparente, pois
se baseia nos medos recíprocos, nos equilíbrios de poder, na corrida armamentista,
na exploração e na repressão. O sacramento da penitência não pode ficar
reduzido a um rito privado do perdão. Possui uma dimensão eminentemente social
uma vez que na profundeza dos pecados pessoais e sociais imprime um dinamismo
de reconciliação social, de fraternidade entre as pessoas por meio da
reconciliação com Deus. O Vivente nos arranca de atitudes covardes, desencantos
e desesperanças. Uma Igreja encerrada em seus problemas é uma Igreja sem
horizontes e sem riscos. Uma Igreja estruturada no legalismo não é uma Igreja
impulsionada pelo Espírito de Jesus, pois o Evangelho nos coloca sempre olhando
para o futuro. O papa Francisco denuncia o legalismo clerical: “Deixai os
leigos trabalharem em paz, não os clericalizeis. O clericalismo é como o tango
que se dança em dois: o sacerdote que gosta de clericalizar e o leigo que pede
para ser clericalizado” (Retiro dos sacerdotes 12.6.2015).
CONTEMPLAR
S.
Título, 1998, Espanha, Stuart Franklin (1956-), Magnum Photos, Londres, Reino
Unido.
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