Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
III Domingo da Páscoa 30.04.2017
At 2,
14.22-33 1 Pd 1, 17-21 Lc 24, 13-35
ESCUTAR
“E agora,
exaltado pela direita de Deus, Jesus recebeu o Espírito Santo que fora
prometido pelo Pai e o derramou, como estais vendo e ouvindo” (At 2, 33).
Se
invocais como Pai aquele que, sem discriminação, julga a cada um de acordo com
as suas obras, vivei então respeitando a Deus durante o tempo de vossa migração
neste mundo (1 Pd 1, 17).
“Não
estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos
explicava as Escrituras?” (Lc 24, 32).
MEDITAR
Tristeza
é aboio de chamar o demônio (João Guimarães Rosa).
ORAR
Os
dois discípulos no caminho de Emaús são o símbolo de todos nós. Estamos
informados de tudo e apesar disto somos incapazes de entender, interpretar e
compreender o seu significado. O Cristo se apresenta como “desinformado”, mas é
Ele quem explica o sentido do que se passou. Desvela as Escrituras, revela-se a
Si mesmo e, finalmente, é reconhecido no gesto de partir o pão. A liturgia da
Palavra não é, simplesmente, preparatória da liturgia eucarística. As duas são
manifestações plenas do mistério do Cristo. Quase sempre narramos de cor a travessia
de Jesus: uma narrativa obscura e sem luz. Uma leitura à margem da luz da
ressurreição transforma esta travessia numa grande ilusão. No caminho, o Cristo
os escuta a falar unicamente de sua morte e como tudo acabara depois dela.
Jesus havia imaginado seus discípulos não se lamuriando, mas plenos de vida,
contagiando de paz cada casa, aliviando o sofrimento, curando os males e
anunciando a todos que Deus está próximo e se preocupa conosco. O Cristo sempre
nos oferece mesas de fraternidade onde damos graças pela vida e pela força do
Espírito que nos conduz. Os discípulos de Emaús caminham com ar entristecido,
sem meta e sem objetivo, pois sua esperança se apagara e seu caminho é fugidio.
Nós também temos informações sobre as Escrituras que não nos servem de nada
porque ainda citamos os evangelhos como uma coisa passada: “Naquele tempo...”
Temos escrito doutrinas, encíclicas, cartas pastorais, exortações e estudos
eruditos sobre Jesus, mas falta a experiência viva de Alguém que nos faz arder
os corações: O Vivente. Não basta assistir as missas e ler os textos bíblicos
de qualquer maneira. Os discípulos de Emaús não leem um texto, mas escutam a
voz do Ressuscitado. Não celebram uma liturgia aprisionada às rubricas, mas se
sentam à mesa como amigos e juntos descobrem que é o próprio Jesus, o Cristo
Ressuscitado que os alimenta. O caminho de Emaús é o caminho da nossa fé, uma
fé que deve se converter numa fé pascal que nos faz saber que encontraremos o
Cristo nos acontecimentos cotidianos por meio da sua Palavra esclarecedora e na
fração do pão que chega à sua plenitude nos encontros fraternos iluminados pelo
Espírito de Jesus.
CONTEMPLAR
Partilha, 2017, Manos da Terna Solidão,
foto de ostensório sobre escultura de Alfi Vivern, Curitiba, Paraná, Brasil.