Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
IV Domingo da Quaresma 26.03.2017
1 Sm 16, 1.6-7 Ef 5, 8-14 Jo 9, 1-41
ESCUTAR
“Não
olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei.
Não julgo segundo os critérios do homem” (1 Sm 16, 6).
Vivei
como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se bondade, justiça e verdade (Ef 5,
8-9).
“Como
é que abriram os teus olhos?” (Jo 9, 10).
MEDITAR
Cada
um conhece a direção do lugar em que se esconde (Provérbio Bambara, Costa do Marfim).
ORAR
O olhar dos homens fica nas aparências. O olhar de
Deus penetra até sondar o coração e seus critérios de julgamento não são os
nossos: Ele aprecia o que para os homes carece de importância. No evangelho de
hoje prevalece o tema da luz. O cego de nascença estava condenado e era tratado
como um bode expiatório. Jesus não participa deste linchamento psicológico,
social e religioso e ao se declarar a Luz do Mundo, recria o gesto do Criador e
devolve a visão ao cego. A palavra de Jesus é uma palavra que não condena, mas
torna possível um futuro a ser inventado. Jesus reconcilia o homem consigo
mesmo ao lhe devolver a capacidade de olhar, de se projetar num futuro, pois
recuperada a visão ele recupera a palavra: “Só sei que eu era cego e agora
vejo”. Neste momento, o que era cego se torna responsável por si mesmo, nasce
como pessoa e recupera a sua liberdade diante da condenação por uma falta que
nunca cometera. Somos muitas vezes cegos, pois queremos ver tudo, falar sobre
tudo e desta maneira mergulhamos na estagnação do mundo. “O pior cego é o que
quer ver” (Guimarães Rosa), pois os que caminham na escuridão do breu acreditam
poder ver mais do que os outros. O fato culminante deste evangelho é o ato de
fé: “Eu creio, Senhor!”. A fé no Cristo é o transbordamento de um processo de
iluminação e despojamento. O cego é expulso da sinagoga e, neste momento,
reconhece o Cristo e realiza o seu ato de fé. Reconhecer o Cristo é estar livre
das amarras e armadilhas dos que nos privam da liberdade e querem ver as coisas
por nós e sonhar nossos sonhos. “Eu vim a este mundo para exercer um
julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos”.
Somos educados a ser bem vistos por todos e ser cegos diante de nós mesmos.
Crer no Cristo é luz para ver e liberdade para falar. Devemos nos libertar da
cegueira do egoísmo que nos torna infelizes e infelizes os outros. Nosso “eu”
não é o centro do mundo, mas a possibilidade de uma relação sempre aberta. A
Igreja de Jesus não precisa de fanáticos que defendam suas verdades de maneira autoritária, com uma linguagem vazia e de
frases feitas. Precisa de homens e mulheres de fé, atentos à vida e sensíveis
aos problemas dos outros. Homens e mulheres que buscam Deus e sejam capazes de
escutar os que sofrem por não poderem viver de maneira mais humana. “Não basta
sermos iluminados, devemos ser testemunhas da Luz” (Jo 1, 8).
CONTEMPLAR
S. Título, Jo Paul
Wallace, Londres, Reino Unido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário