segunda-feira, 20 de março de 2017

O Caminho da Beleza 18 - IV Domingo da Quaresma

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)

IV Domingo da Quaresma                  26.03.2017
1 Sm 16, 1.6-7                    Ef 5, 8-14                Jo 9, 1-41


ESCUTAR

“Não olhes para a sua aparência nem para a sua grande estatura, porque eu o rejeitei. Não julgo segundo os critérios do homem” (1 Sm 16, 6).

Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se bondade, justiça e verdade (Ef 5, 8-9).

“Como é que abriram os teus olhos?” (Jo 9, 10).


MEDITAR

Cada um conhece a direção do lugar em que se esconde (Provérbio Bambara, Costa do Marfim).


ORAR

O olhar dos homens fica nas aparências. O olhar de Deus penetra até sondar o coração e seus critérios de julgamento não são os nossos: Ele aprecia o que para os homes carece de importância. No evangelho de hoje prevalece o tema da luz. O cego de nascença estava condenado e era tratado como um bode expiatório. Jesus não participa deste linchamento psicológico, social e religioso e ao se declarar a Luz do Mundo, recria o gesto do Criador e devolve a visão ao cego. A palavra de Jesus é uma palavra que não condena, mas torna possível um futuro a ser inventado. Jesus reconcilia o homem consigo mesmo ao lhe devolver a capacidade de olhar, de se projetar num futuro, pois recuperada a visão ele recupera a palavra: “Só sei que eu era cego e agora vejo”. Neste momento, o que era cego se torna responsável por si mesmo, nasce como pessoa e recupera a sua liberdade diante da condenação por uma falta que nunca cometera. Somos muitas vezes cegos, pois queremos ver tudo, falar sobre tudo e desta maneira mergulhamos na estagnação do mundo. “O pior cego é o que quer ver” (Guimarães Rosa), pois os que caminham na escuridão do breu acreditam poder ver mais do que os outros. O fato culminante deste evangelho é o ato de fé: “Eu creio, Senhor!”. A fé no Cristo é o transbordamento de um processo de iluminação e despojamento. O cego é expulso da sinagoga e, neste momento, reconhece o Cristo e realiza o seu ato de fé. Reconhecer o Cristo é estar livre das amarras e armadilhas dos que nos privam da liberdade e querem ver as coisas por nós e sonhar nossos sonhos. “Eu vim a este mundo para exercer um julgamento, a fim de que os que não veem vejam e os que veem se tornem cegos”. Somos educados a ser bem vistos por todos e ser cegos diante de nós mesmos. Crer no Cristo é luz para ver e liberdade para falar. Devemos nos libertar da cegueira do egoísmo que nos torna infelizes e infelizes os outros. Nosso “eu” não é o centro do mundo, mas a possibilidade de uma relação sempre aberta. A Igreja de Jesus não precisa de fanáticos que defendam suas verdades de maneira autoritária, com uma linguagem vazia e de frases feitas. Precisa de homens e mulheres de fé, atentos à vida e sensíveis aos problemas dos outros. Homens e mulheres que buscam Deus e sejam capazes de escutar os que sofrem por não poderem viver de maneira mais humana. “Não basta sermos iluminados, devemos ser testemunhas da Luz” (Jo 1, 8).


CONTEMPLAR

S. Título, Jo Paul Wallace, Londres, Reino Unido.


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