segunda-feira, 13 de março de 2017

O Caminho da Beleza 17 - III Domingo da Quaresma

Muitos pensam de modo diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)

Não temos um só Pai? Não nos criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?

(Ml 2, 10)

III Domingo da Quaresma                 19.03.2017
Ex 17, 3-7                 Rm 5, 1-2.5-8                    Jo 4, 5-42


ESCUTAR

“Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?” (Ex 17, 3).

A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5).

“Dá-me de beber” (Jo 4, 7).


MEDITAR

O que farás, Deus, se eu morrer?
Eu sou teu cântaro (e se eu quebrar?)
Eu sou teu poço (e se eu estagnar?)
Sou teu hábito e teu ofício.
Sem mim perdes o teu sentido.

Sem mim não terás casa, onde
palavras, íntimas e quentes, te abriguem,
Cairá de teus pés cansados
a sandália macia que eu sou.

Teu grande manto te cairá.
Teu olhar, que minha face acolhe,
quente como um travesseiro,
virá de longe me procurar
e ao pôr do sol se aninhará entre
estranhas pedras.

O que farás, Deus? Tenho medo.

(Rainer Maria Rilke, O Livro de Horas).


ORAR

Nas Escrituras Sagradas, os poços e as fontes são lugares de reencontro e aliança entre os homens e Deus. Em todas as tradições religiosas, as águas são fonte de vida, meios de purificação e o seu aspecto inesgotável responde pela metáfora da abundância. No casamento, o êxtase é comparado ao beber da própria água: “Bebe a água de tua cisterna, bebe abundantemente de teu poço. Seja bendita a tua fonte, exulta com a esposa de tua juventude: cerva querida, gazela formosa, que suas carícias sempre te embriaguem, e constantemente te arrebate seu amor” (Pr 5, 15.18-19). O testemunho de Jesus nas suas andanças é ir ao encontro dos outros com a liberdade que brotava dentro dele como um rio de água viva. Jesus encontra a samaritana que cumpre a obrigação de buscar a água estagnada do poço. Jesus não condena a samaritana e faz com que descubra a alegria acima do prazer, o valor pessoal acima da beleza física e a dignidade acima da capacidade de seduzir. Mas como vivenciar o encontro pessoal com Jesus se nos contentamos com as informações pasteurizadas das redes sociais e não somos mais pessoas originais, mas empreendedores de nós mesmos? Se a nossa espiritualidade está abarrotada com as fáceis palavras dos livros de autoajuda e chamamos de meditação os mantras dos slogans religiosos que consumimos a torto e a direito? Somos a geração que foge dos encontros pessoais e mergulhamos no fast food religioso das palavras de efeito. O encontro com a samaritana desvela o longo processo ao qual devemos nos configurar e pelo qual passa o caminho da fé. A samaritana carrega uma angústia e quanto maior esta angústia maior é a sensação do vazio. Jesus quer aniquilar este vazio e se identifica com ela: está cansado e com sede. O diálogo de Jesus não é para vencer uma disputa, pois Deus não está na derrota do outro. Nesta derrota faz morada apenas o narcisismo de quem se toma com referência última de todas as coisas. Meditemos as palavras de Abbé Pierre: “a fraternidade não é outra coisa do que um deslumbramento partilhado”.


CONTEMPLAR

S. Título, c. 1996 Henning Christoph (1944-), Grimma, Alemanha. A foto está em Voodoo, Secret Power in Africa: Köln, Taschen, 1996, p.99.






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