Muitos pensam de modo
diferente, sentem de modo diferente. Procuram Deus ou encontram Deus de muitos
modos. Nesta multidão, nesta variedade de religiões, só há uma certeza que
temos para todos: somos todos filhos de Deus. Que o diálogo sincero entre homens
e mulheres de diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça.
(Papa Francisco, 2016)
Não temos um só Pai? Não nos
criou um mesmo Deus? Por que trabalhamos tão perfidamente uns contra os outros?
(Ml 2, 10)
III Domingo da Quaresma 19.03.2017
Ex 17, 3-7 Rm 5, 1-2.5-8 Jo
4, 5-42
ESCUTAR
“Por
que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos
filhos e nosso gado?” (Ex 17, 3).
A
esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos
corações pelo Espírito Santo (Rm 5, 5).
“Dá-me
de beber” (Jo 4, 7).
MEDITAR
O
que farás, Deus, se eu morrer?
Eu
sou teu cântaro (e se eu quebrar?)
Eu
sou teu poço (e se eu estagnar?)
Sou
teu hábito e teu ofício.
Sem
mim perdes o teu sentido.
Sem
mim não terás casa, onde
palavras,
íntimas e quentes, te abriguem,
Cairá
de teus pés cansados
a
sandália macia que eu sou.
Teu
grande manto te cairá.
Teu
olhar, que minha face acolhe,
quente
como um travesseiro,
virá
de longe me procurar
e
ao pôr do sol se aninhará entre
estranhas
pedras.
O
que farás, Deus? Tenho medo.
(Rainer
Maria Rilke, O Livro de Horas).
ORAR
Nas Escrituras Sagradas, os poços e as fontes são
lugares de reencontro e aliança entre os homens e Deus. Em todas as tradições
religiosas, as águas são fonte de vida, meios de purificação e o seu aspecto
inesgotável responde pela metáfora da abundância. No casamento, o êxtase é
comparado ao beber da própria água: “Bebe a água de tua cisterna, bebe
abundantemente de teu poço. Seja bendita a tua fonte, exulta com a esposa de
tua juventude: cerva querida, gazela formosa, que suas carícias sempre te
embriaguem, e constantemente te arrebate seu amor” (Pr 5, 15.18-19). O
testemunho de Jesus nas suas andanças é ir ao encontro dos outros com a
liberdade que brotava dentro dele como um rio de água viva. Jesus encontra a
samaritana que cumpre a obrigação de buscar a água estagnada do poço. Jesus não
condena a samaritana e faz com que descubra a alegria acima do prazer, o valor
pessoal acima da beleza física e a dignidade acima da capacidade de seduzir.
Mas como vivenciar o encontro pessoal com Jesus se nos contentamos com as
informações pasteurizadas das redes sociais e não somos mais pessoas originais,
mas empreendedores de nós mesmos? Se a nossa espiritualidade está abarrotada
com as fáceis palavras dos livros de autoajuda e chamamos de meditação os
mantras dos slogans religiosos que consumimos
a torto e a direito? Somos a geração que foge dos encontros pessoais e
mergulhamos no fast food religioso
das palavras de efeito. O encontro com a samaritana desvela o longo processo ao
qual devemos nos configurar e pelo qual passa o caminho da fé. A samaritana
carrega uma angústia e quanto maior esta angústia maior é a sensação do vazio.
Jesus quer aniquilar este vazio e se identifica com ela: está cansado e com
sede. O diálogo de Jesus não é para vencer uma disputa, pois Deus não está na
derrota do outro. Nesta derrota faz morada apenas o narcisismo de quem se toma
com referência última de todas as coisas. Meditemos as palavras de Abbé Pierre:
“a fraternidade não é outra coisa do que um deslumbramento partilhado”.
CONTEMPLAR
S. Título, c. 1996 Henning Christoph (1944-), Grimma,
Alemanha. A foto está em Voodoo, Secret
Power in Africa: Köln, Taschen, 1996, p.99.
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