segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Caminho da Beleza 41 - XXIII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 41
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


XXIII Domingo do Tempo Comum            06.09.2015
Is 35, 4-7                 Tg 2, 1-5                   Mc 7, 31-17


ESCUTAR

Dizei às pessoas deprimidas: “criai ânimo, não tenhais medo!” (Is 35, 4).

Meus irmãos, a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado não deve admitir acepção de pessoas (Tg 2, 1).

“Ele tem feito bem todas as coisas: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar” (Mc 7, 37).


MEDITAR

O amor de Deus nos rodeia por todas as partes. Seu amor é a água que bebemos e o ar que respiramos e a luz que vemos... Nos movemos dentro do seu amor como o peixe na água. E estamos tão perto Dele, tão embebidos em seu amor e em seus dons (nós próprios somos um dom dele) que não nos damos conta disso (Ernesto Cardenal).

A sangria da Amazônia já chega ao extremo e a criação de Deus geme no estertor da morte (Bispos dos Regionais Norte I e II da CNBB).


ORAR

Deus plantou um jardim e nós o transformamos numa terra queimada, um solo árido. Secaram as flores, desapareceu o verde e o ar é irrespirável. Além da tragédia ecológica, os homens e mulheres estão enfermos, feridos e debilitados na sua esperança. O papa Francisco exorta: “Apesar disso, Deus, que deseja atuar conosco e contar com a nossa cooperação, é capaz também de tirar algo de bom dos males que praticamos” (L. S. 80). Deus coloca, novamente, mãos à obra e anuncia pelo profeta que “se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos (...) assim como brotarão água no deserto e jorrarão torrentes no ermo. A terra árida se transformará em lago e a região sedenta em fontes de água”. Jesus nos cura da surdez para que não nos refugiemos em isolamentos e nos deixemos alcançar pelo grito do pobre, do oprimido e do desesperado: “Eu ouvi o clamor do meu povo” (Ex 3, 7ss). A surdez como pecado é não ouvir nossos outros irmãos e irmãs porque nossos ouvidos estão tapados pelos ídolos do poder e da riqueza. Só sabemos ouvir a nós mesmos. Para que brote a fonte de água no deserto do mundo de hoje, é necessário que a comunidade eclesial rompa a crosta de desumanidade e faça circular, em profundidade, uma mensagem de vida, de paz e de misericórdia. O papa Francisco nos faz saber que “Deus não tem medo das coisas novas! É por isso que está sempre a nos surpreender, a abrir nossos corações e a nos guiar por caminhos inesperados”.


CONTEMPLAR


As folhas de bananeira produzem guarda-chuvas perfeitos, Sebastião Salgado (1941-), Amazonas, Contact Press Images, 2014, in http://www.washingtonpost.com/wp-srv/special/world/yanomami/.



segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O Caminho da Beleza 40 - XXII Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 40
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXII Domingo Tempo Comum                    30.08.2015
Dt 4, 1-2.6-8           Tg 1,17-18.21-22.27         Mc 7, 1-8.14-15.21-23


ESCUTAR

“Nada acrescenteis, nada tireis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo” (Dt 4, 2).

Sede praticantes da palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos (Tg 1,22).

“O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior” (Mc 7,15).


MEDITAR

O desafio que hoje se nos apresenta é responder adequadamente à sede de Deus de muitas pessoas, para que não tenham de ir apagá-la com propostas alienantes ou com um Jesus Cristo sem carne e sem compromisso com o outro. Se não encontram na Igreja uma espiritualidade que os cure, liberte, encha de vida e de paz, ao mesmo tempo em que os chame à comunhão solidária e à fecundidade missionária, acabarão enganados por propostas que não humanizam nem dão glória a Deus (Francisco, bispo de Roma e servo de Deus).

A simples administração eclesiástica é insuficiente para realizar a missão da Igreja: é hora de as comunidades cristãs viverem uma “conversão pastoral”, marcada pelo testemunho (Francisco Catão).


ORAR

O agir cristão deve considerar as três conexões existentes no interior do Evangelho. A primeira é que não se permite uma escuta descompromissada. A Palavra dá um sentido novo à vida e determina uma mudança radical na aceitação da nossa existência. A Palavra confinada ao âmbito do sagrado; cristalizada numa prática religiosa episódica e que não atinge o espaço “profano” do viver, é uma Palavra morta. Uma Palavra que não determina um compromisso concreto é uma Palavra que nos condena. Devemos escutar e cumprir. A segunda é com a humanidade: “A religião pura e sem mancha diante do Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações”. Não basta nos sentirmos em dia com Deus mediante a prática cultual e religiosa. É urgente prolongar o serviço do templo numa liturgia da solidariedade, da fraternidade, da justiça e da misericórdia que se celebra ao longo do caminho. Testemunho que encontrei Deus se tenho a coragem de encontrar o irmão. Se rompermos esta íntima relação, a fé padecerá da deformação do intimismo, do espiritualismo desencarnado e do legalismo intolerante. A terceira dá-se entre o coração e a prática exterior. O Senhor não se contenta com a fachada porque faz a diagnose do coração. Jesus se refere ao coração como a fonte das ações. É no coração que amadurecemos as convicções profundas, as decisões fundamentais e as orientações da existência. O externo deve ser a expressão do que cresceu no íntimo do coração e não máscara, camuflagem e aparência. Deus está próximo quando a sua Palavra anima as ações, impulsiona-nos a encontrar o próximo e está semeada no coração. Quando simplesmente se dá escuta, culto e forma ao exterior, com certeza, o Senhor está em outra parte.


CONTEMPLAR

Madre Teresa de Calcutá, novembro de 1960, imagem: Keystone, Getty Images, Veja, veja.abril.com.br, 24/01/2014.





segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Caminho da Beleza 39 - XXI Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 39
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XXI Domingo do Tempo Comum                23.08.2015
Js 24, 1-2.15-18                Ef 5, 21-32              Jo 6, 60-69


ESCUTAR

“Se vos parece mal servir ao Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir” (Js 24, 15).

“Irmãos, vós que temeis a Cristo, sede solícitos uns para com os outros” (Ef 5, 21).

“Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” (Jo 6, 60).


MEDITAR

Há homens que lutam um dia e são bons; há outros que lutam um ano e são melhores; há os que lutam muitos anos e são muito melhores; mas há os que lutam toda a vida e estes são os imprescindíveis (Bertold Brecht).

Os pecadores conhecem a Deus, os justos continuam a procurá-Lo (Hans Urs von Balthasar).


ORAR

O desafio colocado para nós é o da escolha precisa a quem pretendemos servir. E o exercício cotidiano e necessário da liberdade nos conduz à decisão existencial mais profunda entre servir ao Senhor ou aos ídolos do poder, da aparência e do dinheiro. A Palavra de Jesus sempre provoca uma crise em cadeia. As multidões se afastam Dele, bruscamente, por verem interrompidos, sem piedade, os seus sonhos de grandeza. Os discípulos murmuram depois de O terem escutado e consideram sua Palavra inaceitável. Neles se difunde a desilusão, o temor e o desejo da deserção. Jesus não está preocupado com a quantidade nem com uma adesão superficial. Jesus sempre nos indaga: “Vós também vos quereis ir embora?” A sua palavra não espera aplausos nem negociações, pois o compromisso deve ser sem condições. O passo decisivo em sua direção chega por meio de uma palavra desafiadora e não por raciocínios convenientes. Somente uma linguagem firme e excessivamente dura pode forçar nossas resistências e derrubar os muros dos nossos medos. A palavra de Deus alcança sua finalidade, não quando está de acordo com os nossos desejos, mas quando descobrimos que Deus não pensa como nós. Paulo nos exorta a amar a Igreja apesar de tudo. A igreja é santa, mas feita de pecadores e não podemos confundir a Igreja dos nossos sonhos com a Igreja fundada por Cristo e sobre Cristo. A Igreja revela, mas também esconde Deus; manifesta-O, mas em certos momentos O obscurece; apresenta-O, mas às vezes O afasta. Não devemos nos esquecer que os sonhadores de uma pureza idealista da Igreja são inimigos do Reino (A. Maillot).


CONTEMPLAR

A Negação de Pedro, 2005, Michael D. O’Brien (1948-), acrílico em cartão duro, 60 x 60 cm, coleção privada, Ontario, Canadá.






segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Caminho da Beleza 38 - Assunção de Nossa Senhora

O Caminho da Beleza 38
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Assunção de Nossa Senhora             16.08.2015
Ap 11,19;12, 1.3-6.10                  1 Cor 15, 20-27                  Lc 1, 39-56


ESCUTAR

E ela deu à luz um filho homem, que veio para governar todas as nações com cetro de ferro (Ap 12, 5).

O último inimigo a ser destruído é a morte (1 Cor 15, 26).

“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre!” (Lc 1, 42).


MEDITAR

A única propriedade de Deus é a desapropriação... Se Deus é verdadeiramente essa desapropriação infinita, essa liberdade total em relação a si, ele não poderia desejar na Criação a não ser seres livres (Maurice Zundel).

O Abbá Poemen dizia: todas as provas que se precipitarem sobre você podem ser suplantadas pelo silêncio (Thomas Merton).


ORAR

O poeta se refere a Maria como “a catedral do grande silêncio” (David Turoldo) e reafirma o Evangelho que nos apresenta Maria de Nazaré como uma criatura do silêncio que escolhe não aparecer em primeiro plano. Sua presença está sob o signo da discrição. A Mãe desaparece totalmente no Filho: “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2, 5). O evangelho está mais pontuado pelo silêncio de Maria do que por palavras e aparições. Sua figura não é chamativa porque seus contornos se esboçam na ilimitada transparência do silêncio. Não temos o direito, sob hipótese nenhuma, de reduzir Maria a um rumor ensurdecedor para agregar as pessoas. O Concílio Vaticano II advertia que devemos nos “abster tanto do falso exagero quanto da estreiteza do espírito” para evitar a instrumentalização, as retóricas e os sentimentalismos (Lumen Gentium 67). Maria não necessita de sinais mirabolantes, pois confia na Palavra, abandona-se e se declara disponível. Seu silêncio expressa plenitude. A devoção à Virgem é autêntica se nos faz frequentar o terreno profundo da interioridade, da meditação, da contemplação, do compromisso concreto e da cotidianidade do mistério. Devemos, para não cair num fragoroso vazio, identificar-nos com o silêncio de Maria e termos a lucidez de que aplaudir não significa escutar. No silêncio, Deus emerge e voltamos a perceber a sua voz. Maria nos faz saber que Jesus não prega uma religião para mentalidades infantis nem para incorrigíveis entusiastas. Jesus não é um pregador sombrio, um profeta tristonho. Sua história começa com a infindável alegria de sua mãe: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador”.


CONTEMPLAR

Madona e o Menino, 1907, Marianne Stokes (1855-1927), têmpera sobre painel, 80 x 60 cm, Wolverhampton Museum and Art Gallery, Wolverhampton, Reino Unido.







segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Caminho da Beleza 37 - XIX Domingo do Tempo Comum

O Caminho da Beleza 37
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



XIX Domingo Tempo Comum                      09.08.2015
1 Rs 19, 4-8             Ef 4, 30-5,2                        Jo 6, 41-51


ESCUTAR

“Levanta-te e come! Ainda tens um caminho longo a percorrer” (1 Rs 19, 7).

Toda amargura, irritação, cólera, gritaria, injúrias, tudo isso deve desaparecer do meio de vós, como toda espécie de maldade (Ef 4, 31).

“E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo” (Jo 6, 51).


MEDITAR

Não é a religiosidade o que faz a verdade ou a mentira de uma vida humana, mas sim a autenticidade dessa mesma vida. “Em Espírito e verdade deseja o Pai ser adorado”, recordava Jesus a Samaritana, junto ao poço de Jacó (Jo, 4, 23) (Pedro Casaldáliga).

Perdi meu coração no empoeirado caminho deste mundo; mas tu o tomaste em tuas mãos... Meus desejos espalharam-se em mil pedaços; mas tu os recolheste e os reuniste em teu amor. E enquanto eu vagava de porta em porta, cada passo meu estava me conduzindo a teu portal (Rabindranath Tagore).


ORAR

O caminho da vida cristã está salpicado de crises: o cansaço, o desânimo e a ira que nos impedem de viver no amor. Consentimos nos pecados contra o amor que entristecem o Espírito. Somos levados a murmúrios de reclamação por sermos incapazes de entender os desígnios do Pai. Queremos um Deus fora do mundo e que não se intrometa na nossa ordem das coisas. Perdemos a dimensão da hospitalidade do coração. O Cristo hospeda a Palavra sem murmurar e hospeda o irmão, generosamente. Pedro nos exorta: “Exercei a hospitalidade, uns para com os outros, sem murmuração” (1 Pd 4, 9). A tentação do cansaço e do desânimo pode nos bloquear e nos fazer desejar a morte por nos sentirmos inúteis. Procuramos um lugar, um refúgio onde possamos recostar o próprio cansaço. Ao perder o dinamismo vital, não temos impulso para mais nada salvo o desejo de nos deixar levar pelas veredas do cotidiano. Não decidimos mais nada e deixamos que as coisas decidam por nós. E, como Elias, clamamos: “Agora basta, Senhor!” e nos resignamos com a mediocridade, a facilidade, a indiferença e a frieza. No entanto, o Senhor não deixa morrer o sonho e nem que durmamos em paz. E nos faz saber que estamos cansados não pelo que fizemos, mas pelo que deixamos de fazer; pelos sonhos que adiamos e pelos caminhos que não percorremos. Movimentamo-nos muito, mas não caminhamos. Jesus é o pão da Vida e o caminho. Alimentamo-nos do pão para continuar o caminho que também se converte em nosso alimento: “Caminhante não há caminho, faz-se caminho ao andar” (Aníbal Machado). Escutemos a voz do Senhor que não nos deixa dormir: “Ainda tens um caminho longo a percorrer”.


CONTEMPLAR


Elias tocado por um Anjo, 1958, Marc Chagall (1887-1985), Biblia Series, The Jewish Museum, New York, Estados Unidos.