segunda-feira, 11 de maio de 2015

O Caminho da Beleza 25 - Ascensão do Senhor

O Caminho da Beleza 25
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).



Ascensão do Senhor                  17.05.2015
At 1, 1-11                  Ef 1, 17-23               Mc 16, 15-20


ESCUTAR

“Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu?” (At 1, 10).

“Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória que está na vossa herança com os santos” (Ef 1, 18).

“Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam” (Mc 16, 20).



MEDITAR

Não fiques imóvel
à beira do caminho,
não congeles a vida,
não ames com fastio,
não te salves agora,
não te salves nunca

Não te enchas de calma,
não reserves do mundo,
apenas um cantinho feliz,
não deixes cair pesadas
pálpebras como juízos definitivos,
não fiques sem lábios,
não durmas sem sonho,
não te penses sem sangue,
não te julgues sem tempo.

Mas se
apesar de tudo,
não podes evitar;
e congelas a vida,
e amas com fastio,
e te salvas agora,
e te enches de calma,
e reservas do mundo,
apenas um cantinho feliz,
e deixas cair pesadas pálpebras como juízos definitivos,
e te secas sem lábios,
e dormes sem sonho,
e te pensas sem sangue,
e te julgas sem tempo,
e ficas imóvel
à beira do caminho,
e te salvas;


então
não fiques comigo.

(Mario Benedetti)


ORAR

Nesta festa, os sentimentos são ambíguos: desilusão e espera; tristeza e alegria; decadência e consolo; cansaço e vontade de recomeçar. Sobretudo, domina uma pergunta de fundo: trata-se de uma conclusão ou um princípio? É preciso superar a catequese simplista e pueril que até hoje nos subjuga: Jesus veio ao mundo, permaneceu nele trinta e três anos, terminou sua missão com um incidente político, mas num final feliz voltou aos céus. Em suma, cumpriu a sua parte e agora cabe às igrejas assumir a parte que lhes cabe neste latifúndio até o Juízo Final quando serão julgadas pelo que fizeram na sua ausência. As coisas, infelizmente, não são tão lineares. Na trajetória cristã tudo aparece sob o signo da instabilidade e da imprevisibilidade. Somos herdeiros de uma fé vivida na obscuridade, mas com a certeza da ressurreição como sinal de que o mundo pode avançar, que as forças do mal podem ser derrotadas apesar das incertezas e contradições: tudo está cumprido e tudo está por se fazer. As rotas são inúmeras e diversas: um espiritualismo desencarnado, um apostolado burocrático e sem alma, uma missão fundamentalista e intolerante. No entanto, a beleza de ser cristão é a de que nada está decidido de antemão, pois existe um caminho para se inventar a cada dia entre certezas, ambiguidades e imprevistos que nos obrigam a uma permanente revisão de decisões e posições diante do mundo em que vivemos, existimos e somos.


CONTEMPLAR


O Ceifeiro e o Semeador, 1915, Charles Haslewood Shannon (1863-1937), óleo sobre tela, 101,2 cm x 106 cm, William Morris Gallery, Londres, Reino Unido.



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