O Caminho da Beleza 22
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
Páscoa da Ressurreição 20.04.2014
At 10, 34a.37-43 Cl 3, 1-4 Jo 20, 1-9
ESCUTAR
“E
Jesus nos mandou pregar ao povo e testemunhar que Deus o constituiu Juiz dos
vivos e mortos” (At 10, 42).
“Pois
vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo, em Deus. Quando
Cristo, vossa vida, aparecer em seu triunfo, então vós aparecereis também com
ele, revestidos de glória” (Cl 3, 3-4).
“Ele
viu e acreditou. De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura,
segundo a qual ele devia ressuscitar dos mortos” (Jo 20, 8-9).
MEDITAR
“Toda
história da salvação poderia ser descrita como um drama de amor, como um imenso
Cântico dos cânticos. Porém é menos a noiva que procura o noivo que o Deus fiel
que procura seu povo adúltero, que procura a humanidade que se desviou dele;
ele a procura para ‘lhe falar ao coração’ e reconduzi-la ao seu primeiro amor.
Na Páscoa, as bodas são consumadas e no Ressuscitado é a humanidade inteira e o
cosmos que se encontram secretamente recriados e transfigurados: o corpo do
Ressuscitado é vida pura e não esta mistura de vida e de morte, esta ‘vida
morte’ que chamamos de vida” (Atenágoras de Constantinopla).
“Se
olharmos nossa vida nesta luz, se nós pensarmos que somos chamados pelo Amor a
ser o Templo de Deus, o Santuário do Espírito e o Corpo de Jesus, teremos,
frente a nós mesmos, uma atitude de respeito que fará de nós o altar, o
tabernáculo onde Deus se revela, onde Deus manifesta Sua vida, transfigurando a
nossa para que a nossa comunique a Sua” (Maurice Zundel).
ORAR
Em
Atos, o discurso de Pedro é pronunciado na casa de Cornélio, centurião romano e
pagão. O evangelho começara a ultrapassar as fronteiras de Israel e Pedro,
contrariando a sua educação e as suas certezas, decide batizar um pagão. A última
frase de Pedro é vital nesta sua nova compreensão da realidade espiritual do
Evangelho: “Todo aquele que crê em Jesus recebe, em seu nome, o perdão dos
pecados”. Se, no início, a salvação fora anunciada a Israel, doravante basta
crer em Jesus, o Cristo, para receber o perdão dos pecados, ou seja, entrar na
Aliança com Deus. A liturgia da Igreja, neste domingo de Páscoa, nos faz ouvir
um texto tardio após a Ressurreição do Cristo, para nos fazer compreender, de
uma vez por todas, a razão da vinda do Cristo entre nós: “Eu nasci, para isso
vim ao mundo, para testemunhar a verdade. Quem está a favor da verdade escuta a
minha voz” (Jo 18, 37). Todos podem ouvir e compreender esta Voz. A
ressurreição de Jesus não é como o ressurgimento de Lázaro no mesmo corpo conhecido
pelas suas irmãs e vizinhos e para um resto de vida que teria o seu término.
Lázaro, ao ser trazido de volta à vida, saiu todo atado nas faixas mortuárias.
Seu corpo estava ainda prisioneiro dos grilhões do mundo, pois não era ainda um
corpo ressuscitado. Ninguém viu o Senhor ressuscitando. O que Madalena, Pedro e
João viram foram os sinais e as aparições do Ressuscitado. Não foram os olhos
do corpo que O viram, mas os olhos dos seus corações iluminados pelo amor e
pela fé. Maria Madalena assistirá a primeira aurora desta nova humanidade que
as trevas não puderam impedir. João sabe que as faixas de linho no chão são a
prova de que Jesus está, doravante, livre da morte, pois estas faixas que O
imobilizaram simbolizavam, a passividade da morte. Seu corpo ressuscitado não
conhece e nem experimenta mais nenhum entrave ou limite. Diante destas faixas
abandonadas e inúteis, João “viu e acreditou”. A última frase do evangelho de
hoje é espantosa: “De fato, eles ainda não tinham compreendido a Escritura, segundo
a qual ele devia ressuscitar dos mortos”. Foi preciso esperar a ressurreição
para que os discípulos compreendessem o mistério do Cristo, suas palavras e
suas atitudes. É a ressurreição do Cristo que ilumina todas as Escrituras e as
torna luminosas. A nossa fé deverá ser alimentada sem nenhuma prova material,
além do testemunho das comunidades cristãs que a sustentaram sempre. O desafio
é encontrar a força, como Pedro e João, de ler em nossas vidas e na vida do
mundo todos os sinais cotidianos da Ressurreição. O Papa Bento XVI nos exorta:
“Quando alguém experimenta na sua vida um grande amor, conhece um momento de
‘redenção’ que dá um sentido novo à sua vida” (Spe Salvi 26). O Espírito nos foi dado para que a cada “primeiro
dia da semana” renovemos a gostosura de amar e ser amado e, fulminados pela
Esperança, possamos correr, com todos nossos irmãos e irmãs, filhos do mesmo
Pai, ao reencontro misterioso do Ressuscitado.
CONTEMPLAR
A Caminho para a Páscoa, Qu Qianmei,
2008, óleo sobre tela, Pequim, China.
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