O Caminho da Beleza 21
Leituras para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne
harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e,
também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria
comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Domingo de Ramos da Paixão do Senhor 13.04.2014
Is 50, 4-7 Fl 2,
6-11 Mt 26, 14-27, 66
ESCUTAR
“O
Senhor Deus deu-me língua adestrada para que eu saiba dizer palavras de
conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para
prestar atenção como um discípulo” (Is 50, 4).
“Jesus
Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma
usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e
tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si
mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8).
“Senhor,
nós nos lembramos de que quando este impostor ainda estava vivo, disse: ‘Depois
de três dias eu ressuscitarei!’ Portanto, manda guardar o sepulcro até o
terceiro dia para não acontecer que os discípulos venham roubar o corpo e digam
ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos!’ pois essa última impostura seria pior do
que a primeira” (Mt 27, 63-64).
MEDITAR
“O
Logos, que em si não podia morrer, assumiu um corpo que podia morrer, para
oferecê-lo por todos. Após o pecado teríamos de alcançar de novo a graça, não
de dentro, mas em união com o corpo. A redenção não é uma simples eliminação do
pecado, mas acontece mediante uma superabundância de vida, mediante o sangue e
o sacrifício deste Deus encarnado” (Atanásio de Alexandria).
“O
engajamento de Deus pelo homem é tão definitivo que toda objeção contra a ordem
do mundo e a Providência está reduzida ao silêncio. O Novo Testamento é um
livro em que a alegria é capaz de abranger, novamente, mesmo o sofrimento mais
extremo: o abandono de Deus por Deus” (Hans Urs Von Balthasar).
ORAR
A existência de Jesus encontra a sua
razão de ser no Sim prévio aos
desígnios do Pai. Toda a sua vida e o seu empenho repousam sobre um pacto
permanente entre Ele e o Pai. No entanto, ao chegar a hora esperada se produz a
entrada nas trevas: a fonte paternal se cala; o Pai sempre presente se retira;
sua luz se extingue e o Filho que carrega o pecado do mundo se vê abandonado.
Paradoxalmente, somente alguém tão inseparavelmente próximo do Pai, como o
Filho, expressão de uma presença e união indestrutíveis, pode experimentar tal
abandono. Desde a ressurreição de Lázaro, os inimigos de Jesus decidiram a sua
morte e Ele, que até então se esquivara do entusiasmo das massas, vai aceitar,
deliberadamente, ser acolhido como um rei, um messias e um grande profeta. Ele
quer se deixar reconhecer como tal, pois a sua hora soou: Ele é o Senhor e não há mais nada a perder. A mula era
outrora a montaria dos chefes de Israel antes de Davi. Era a montaria do povo
miúdo. Posteriormente, foi suplantada pelo cavalo que era a montaria dos ricos
e o sinal do chefe militar. Jesus é um rei pacífico cujo reino não tem nenhuma
pretensão de dominação. A multidão aclama Jesus, como o salmo 118 cantado na
festa das Tendas que tem um significado messiânico: “Bendito em nome do Senhor
aquele que vem! Nós vos abençoamos desde a casa do Senhor. O Senhor é Deus, ele
nos ilumina. Ordenai uma procissão com ramos até os ângulos do altar. Tu és meu
Deus, eu te dou graças, Deus meu, eu te exalto. Dai graças ao Senhor porque é
bom, porque é eterna sua misericórdia” (Sl 118, 24-29). Os hosanas pedem e desejam que o Messias arme a sua tenda no meio do
seu povo e o seu entusiasmo vinha dos que foram testemunhas da ressurreição de
Lázaro. A multidão aclama aquele que venceu a morte. Na sua hora, Jesus é
abandonado por seus discípulos que dormem. O único vínculo com o Pai, que
persiste, está centrado no cálice: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice.
Mas não se faça a minha vontade e sim a tua” (Lc 22, 42). Este não-sim é todo o vínculo restante com o
Pai. Um vínculo que, ao final, vivenciará somente na Cruz como abandono de
Deus. Jesus deu um sentido à sua morte ao dizer que não havia maior prova de
amor do que dar a vida pelos amigos e se esta frase é verdadeira, então é
imperativo que Ele morra. Três dias mais tarde esta mesma frase iluminará os
peregrinos do caminho de Emaús: “Como sois insensatos e lentos para crer em
tudo o que disseram os profetas! Não tinha o Messias de sofrer isso para entrar
em sua glória?” (Lc 24, 25-26). E entrar na glória é revelar o amor de Deus. Neste
domingo de Ramos, devemos ter a lucidez, como comunidade eclesial, que o pecado
é essencialmente o medo do futuro e uma tentativa desesperada para impedir o
seu advento. E o Cristo nos evoca, com a sua entrega de amor, que a libertação
do pecado consiste em sermos fulminados pela coragem da esperança: “No mundo
passareis tribulações; mas tende ânimo, pois eu venci o mundo” (Jo 16, 33).
CONTEMPLAR
A entrada de Cristo em
Jerusalém, Jean-Hippolyte Flandrin, c. 1842, afresco, Igreja de Saint-Germain-des-Prés, Paris, França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário