segunda-feira, 7 de abril de 2014

O Caminho da Beleza 21 - Domingo de Ramos da Paixão do Senhor

O Caminho da Beleza 21
Leituras para a travessia da vida


“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).

“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).


Domingo de Ramos da Paixão do Senhor             13.04.2014
Is 50, 4-7          Fl 2, 6-11           Mt 26, 14-27, 66    


ESCUTAR

“O Senhor Deus deu-me língua adestrada para que eu saiba dizer palavras de conforto à pessoa abatida; ele me desperta cada manhã e me excita o ouvido, para prestar atenção como um discípulo” (Is 50, 4).

“Jesus Cristo, existindo em condição divina, não fez do ser igual a Deus uma usurpação, mas ele esvaziou-se a si mesmo, assumindo a condição de escravo e tornando-se igual aos homens. Encontrado com aspecto humano, humilhou-se a si mesmo, fazendo-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Fl 2, 6-8).

“Senhor, nós nos lembramos de que quando este impostor ainda estava vivo, disse: ‘Depois de três dias eu ressuscitarei!’ Portanto, manda guardar o sepulcro até o terceiro dia para não acontecer que os discípulos venham roubar o corpo e digam ao povo: ‘Ele ressuscitou dos mortos!’ pois essa última impostura seria pior do que a primeira” (Mt 27, 63-64).


MEDITAR

“O Logos, que em si não podia morrer, assumiu um corpo que podia morrer, para oferecê-lo por todos. Após o pecado teríamos de alcançar de novo a graça, não de dentro, mas em união com o corpo. A redenção não é uma simples eliminação do pecado, mas acontece mediante uma superabundância de vida, mediante o sangue e o sacrifício deste Deus encarnado” (Atanásio de Alexandria).

“O engajamento de Deus pelo homem é tão definitivo que toda objeção contra a ordem do mundo e a Providência está reduzida ao silêncio. O Novo Testamento é um livro em que a alegria é capaz de abranger, novamente, mesmo o sofrimento mais extremo: o abandono de Deus por Deus” (Hans Urs Von Balthasar).


ORAR

            A existência de Jesus encontra a sua razão de ser no Sim prévio aos desígnios do Pai. Toda a sua vida e o seu empenho repousam sobre um pacto permanente entre Ele e o Pai. No entanto, ao chegar a hora esperada se produz a entrada nas trevas: a fonte paternal se cala; o Pai sempre presente se retira; sua luz se extingue e o Filho que carrega o pecado do mundo se vê abandonado. Paradoxalmente, somente alguém tão inseparavelmente próximo do Pai, como o Filho, expressão de uma presença e união indestrutíveis, pode experimentar tal abandono. Desde a ressurreição de Lázaro, os inimigos de Jesus decidiram a sua morte e Ele, que até então se esquivara do entusiasmo das massas, vai aceitar, deliberadamente, ser acolhido como um rei, um messias e um grande profeta. Ele quer se deixar reconhecer como tal, pois a sua hora soou: Ele é o Senhor e não há mais nada a perder. A mula era outrora a montaria dos chefes de Israel antes de Davi. Era a montaria do povo miúdo. Posteriormente, foi suplantada pelo cavalo que era a montaria dos ricos e o sinal do chefe militar. Jesus é um rei pacífico cujo reino não tem nenhuma pretensão de dominação. A multidão aclama Jesus, como o salmo 118 cantado na festa das Tendas que tem um significado messiânico: “Bendito em nome do Senhor aquele que vem! Nós vos abençoamos desde a casa do Senhor. O Senhor é Deus, ele nos ilumina. Ordenai uma procissão com ramos até os ângulos do altar. Tu és meu Deus, eu te dou graças, Deus meu, eu te exalto. Dai graças ao Senhor porque é bom, porque é eterna sua misericórdia” (Sl 118, 24-29). Os hosanas pedem e desejam que o Messias arme a sua tenda no meio do seu povo e o seu entusiasmo vinha dos que foram testemunhas da ressurreição de Lázaro. A multidão aclama aquele que venceu a morte. Na sua hora, Jesus é abandonado por seus discípulos que dormem. O único vínculo com o Pai, que persiste, está centrado no cálice: “Pai, se queres, afasta de mim este cálice. Mas não se faça a minha vontade e sim a tua” (Lc 22, 42). Este não-sim é todo o vínculo restante com o Pai. Um vínculo que, ao final, vivenciará somente na Cruz como abandono de Deus. Jesus deu um sentido à sua morte ao dizer que não havia maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos e se esta frase é verdadeira, então é imperativo que Ele morra. Três dias mais tarde esta mesma frase iluminará os peregrinos do caminho de Emaús: “Como sois insensatos e lentos para crer em tudo o que disseram os profetas! Não tinha o Messias de sofrer isso para entrar em sua glória?” (Lc 24, 25-26). E entrar na glória é revelar o amor de Deus. Neste domingo de Ramos, devemos ter a lucidez, como comunidade eclesial, que o pecado é essencialmente o medo do futuro e uma tentativa desesperada para impedir o seu advento. E o Cristo nos evoca, com a sua entrega de amor, que a libertação do pecado consiste em sermos fulminados pela coragem da esperança: “No mundo passareis tribulações; mas tende ânimo, pois eu venci o mundo” (Jo 16, 33).


CONTEMPLAR

A entrada de Cristo em Jerusalém, Jean-Hippolyte Flandrin, c. 1842, afresco, Igreja de Saint-Germain-des-Prés, Paris, França.







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