O Caminho da Beleza 24
Leituras para a
travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele que reúne harmonicamente
diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do belo e, também, ao mesmo
tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que cria comunhão’, ‘uma
beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu
prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia” (D. Hélder Câmara,
1999, dias antes de sua passagem).
III Domingo da Páscoa 04.05.2014
At 2, 14.22-23 1 Pd 1, 17-21 Lc 24, 13-35
ESCUTAR
“Deus,
em seu desígnio e previsão, determinou que Jesus fosse entregue pelas mãos dos
ímpios, e vós o matastes, pregando-o numa cruz” (At 2, 23).
“Sabeis
que fostes resgatados da vida fútil herdada de vossos pais não por meio de
coisas perecíveis, como prata ou o ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo,
como de um cordeiro sem mancha nem defeito” (1 Pd 1, 18-19).
“Não
estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos
explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
MEDITAR
“Devemos
acolher com hospitalidade o Cristo presente no forasteiro para que no dia do
julgamento Ele não nos ignore como estrangeiros, mas nos receba como irmãos em
seu Reino” (São Gregório Magno).
“Pouco
tempo depois vieram as famílias da vizinhança chorar conosco; famílias
expulsas, na neve, em pleno inverno: eram as férias de Natal. A casa estava
cheia de jovens. Eu havia procurado todo o dia e não encontrei nenhum lugar
para alojar uma família. Então, à tarde, eu retirei o Santíssimo Sacramento da
pequena peça aquecida que servia de capela e o coloquei no celeiro onde não
havia fogo. E lá, onde havia fogo, coloquei as camas das crianças e dos pais.
Os rapazes e as moças me disseram: ‘Padre, isto não é conveniente! Onde rezarás
a missa amanhã?’. E eu respondi: ‘Eu creio com toda a força da minha fé que o
Amor infinito tornou-se homem, tornou-se pão e lá na hóstia consagrada, com uma
fé inteligente, sei que não é na hóstia que Jesus tem frio esta noite. Ele tem
frio nas mãos e nos pés destas pequenas crianças, e se amo, são estes que
sofrem que devo colocar onde há fogo’” (Abbé Pierre).
ORAR
Quando o Ressuscitado nos deseja a paz não quer
dizer que devemos estar tranquilos, mas que devemos abrir os olhos para fazer
novas todas as coisas (Ap 21, 5) e não correr o risco de voltar atrás. A
palavra profética faz uma reviravolta em nossos corações e nos obriga a uma
mudança radical no modo de valorizar os nossos atos. Nós nos assemelhamos aos
discípulos de Emaús: estamos muito bem informados das últimas notícias e o
Cristo parece estar desinformado e com a necessidade de ser atualizado. Temos
uma dificuldade, e nem fazemos nenhum esforço, para compreender e interpretar o
significado das coisas que acontecem. Jesus, antes de ser reconhecido ao partir
o pão, revela as Escrituras e revela-se a si mesmo. A páscoa não é um relato de
uma grande ilusão nem uma estória a ser contada e recontada. A fé não recobre
as lacunas da nossa intuição ou da nossa experiência e muitas vezes nos
perdemos na proliferação dos nossos conceitos. Os discípulos tinham uma
abundante informação sobre Jesus: suas lembranças históricas e o relato das
mulheres e, no entanto, foram incapazes de reconhecer o Vivente ao seu lado caminhando
com eles. Os discípulos haviam perdido a fé e a esperança. Mortos, marchavam com um Vivo; mortos,
marchavam com a Vida ainda que seus corações não houvessem ainda retornado à
vida. Para eles Jesus estava morto e ponto final: “Pena que tenha terminado assim”.
Quando Jesus os reencontra haviam perdido o caminho. Apesar de que tudo
houvesse sido dito sobre o sofrimento, a morte e a ressurreição, eles haviam
perdido a memória sobre tudo que acontecera. Não lhes ardia mais o coração,
pois perderam a intimidade com Jesus vivo. E quando perdemos esta intimidade
tudo se torna inútil. Estavam sem esperança, sem meta e nem objetivo, porque
Jesus havia desaparecido de suas vidas. Jesus sempre nos alcança, não só quando
O buscamos, mas, sobretudo, quando fugimos da vida em comunhão e nos isolamos
dos outros. Neste reencontro, Jesus nos envia novamente cheios de vida, para
contagiar com a paz cada casa, aliviar o sofrimento e anunciar que Deus está
próximo e se preocupa conosco. O
Ressuscitado torna possível esta passagem da não-fé à fé no decorrer de uma
refeição partilhada. São três as
conversões no caminho de Emaús: a da tristeza em alegria; a da obscuridade à
luz e a conversão à vida comunitária: “Voltaram para Jerusalém, onde
encontraram os onze reunidos com os outros”. O Ressuscitado se revela na
hospitalidade e a partilha do pão torna o Vivente presente e permite a fé nascer.
Meditemos as palavras de Agostinho de Hipona: “Acolha o estrangeiro, se queres
reconhecer o Salvador. Isto que a dúvida fez perder, a hospitalidade resgatou.
O Senhor manifestou a sua presença na partilha do pão”.
CONTEMPLAR
Os discípulos de Emaús, hoje, Yara
Martins Oliveira, 2002, acrílico sobre tela, 30 cm x 140 cm, Curitiba, Brasil.