O
Caminho da Beleza 15
Leituras
para a travessia da vida
“O conceito de sabedoria é aquele
que reúne harmonicamente diversos aspectos: conhecimento, amor, contemplação do
belo e, também, ao mesmo tempo, uma ‘comunhão com a verdade’ e uma ‘verdade que
cria comunhão’, ‘uma beleza que atrai e apaixona’” (Francisco).
“Quando recebia tuas palavras, eu as
devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não deixe cair a profecia”
(D. Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
VIII
Domingo do Tempo Comum 02.03.2014
Is 49,
14-15 1 Cor 4, 1-5 Mt 6, 24-34
ESCUTAR
“Disse Sião: ‘O Senhor abandonou-me, o Senhor
esqueceu-se de mim!’” (Is 19, 14).
“Portanto, não quereis julgar antes do tempo. Aguardai
que o Senhor venha. Ele iluminará o que estiver escondido nas trevas e manifestará
os projetos dos corações” (1 Cor 4, 5).
“Portanto, não vos preocupeis com o dia de amanhã,
pois o dia de amanhã terá suas preocupações! Para cada dia bastam seus próprios
problemas” (Mt 6, 34).
MEDITAR
“Quem, alguma vez em sua vida, experimentou a
misericórdia de Deus, dali por diante só desejará servir. O soberbo trono de
juiz já não o atrai. Prefere ficar embaixo, junto com os miseráveis e os
pequenos, pois foi lá que Deus o encontrou” (Dietrich Bonhoeffer).
“Quem são os
que honram a Deus? São os que deixam totalmente a si mesmos e, de modo algum,
nada buscam do que é seu em nenhuma coisa, seja o que for, grande ou pequeno;
não veem nada abaixo nem acima de si, nem ao seu lado nem em si mesmos; que não
procuram bem, honra, conforto, prazer, utilidade, nem interioridade, nem
santidade, nenhuma recompensa nem mesmo o reino dos céus e que se tornaram
exteriores a tudo isso, a tudo que é seu. Dessas pessoas Deus recebe honra. E
elas honram a Deus, no sentido próprio, dando a Deus o que é de Deus” (Mestre
Eckhart).
ORAR
As leituras de hoje nos
oferecem três imagens de Deus: mãe, pai e juiz. A afirmação de Sião é, muitas
vezes, a nossa dúvida: “O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim”?. A
resposta que recebemos é a comoção, o estremecimento e o sobressalto das
entranhas de Deus como o de uma memória materna: “Acaso pode a mulher
esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre?”.
A memória de Deus são entranhas de misericórdia. E a sua Palavra está empenhada
“Eu não me esquecerei de ti”. No evangelho, o Cristo nos garante que não
devemos nos preocupar com as coisas futuras que ainda não existem. Temos que
viver o hoje que contém o que passou e nos projeta para o que há de vir. Nos
dias de hoje, nossa preocupação com o que haveremos de comer se reduz à
quantidade de gordura que pode aumentar o nosso colesterol. A preocupação com o
que haveremos de vestir se restringe a saber o que escolheremos entre as opções
oferecidas pelas lojas e pelo nosso guarda-roupa. E, quando estamos longe de
casa, as estrelas que nos preocupam não são as do céu, que quase nunca vemos,
mas as das portas dos hotéis. As frases do evangelista não são considerações
poéticas para acalentar suspiros. Seremos desafortunados se nos fecharmos à
possibilidade de experimentar a solicitude e a generosidade do Pai. Tendo tudo
e até demais nos privamos da serenidade que só pode gozar quem se confia total
e unicamente a Deus. Talvez o mais sábio seja acrescentar hoje ao “não vos
preocupeis” um “não vos compliqueis”. Este trecho do Evangelho não é
particularmente difícil, só é difícil quando a nossa fé é frágil e resistimos a
uma entrega confiante aos desígnios de Deus. Jesus nos convida sempre a ter a
coragem de arriscar, experimentar, confiar e crer. Jesus nos assegura: “Buscai
em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas vos
serão dadas por acréscimo”. Temos um Pai e isto deve nos bastar, pois Ele nos
julga com misericórdia e “iluminará o que estiver escondido nas trevas e
manifestará os projetos dos corações”. Esta é a mística cristã: não uma
experiência estática e privilegiada, mas a plena maturidade da fé. Mais do que
nunca, Dominus providebit, o Senhor
proverá!
CONTEMPLAR
Deus
criando as estrelas, Sanno di Pietro,
início do século XV, iluminura, 22,5 x 19,5 cm, Museu Marmottan, Paris, França.