O Caminho da Beleza 47
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
ESCUTAR
“‘Agora estou convencido de que não há outro Deus em toda a terra,
senão o que há em Israel! Por favor, aceita um presente de mim, teu servo’.
Eliseu respondeu: ‘Pela vida do Senhor, a quem sirvo, nada aceitarei’” (2 Rs 5,
15).
“A Palavra de Deus não está algemada” (2 Tm 2, 9).
“E este era um samaritano. Então Jesus perguntou: ‘Não foram dez os
curados?’”(Lc 17, 17).
MEDITAR
“Damos graças por este Deus que não esmaga nunca, não
se impõe, não julga e nunca rejeita ninguém (...) Damos graças a este Deus
porque Ele é um Deus de relação e de comunhão e não um todo-poderoso solitário
e distante. Ele é na sua própria natureza acolhida e dom; partilha e comunhão”
(Pierre Claverie).
“Não é preciso agir visando a uma recompensa, nem ter em vista o que
se poderia obter ou ganhar, mas é preciso agir somente por amor da virtude.
Pois quanto mais se está esvaziado, mais se está pleno” (Mestre Eckhart).
ORAR
O evangelho narra que nove leprosos permaneceram curados, mas somente um, o samaritano,
foi capaz do reconhecimento, da fé e da ação de graças e por isso foi salvo. A memória faz parte integrante
da gratuidade e fazer memória ao Cristo é proclamar que não se pode algemar a
Palavra e nem o seu dom. A fé ignora fronteiras porque a graça de Deus é para
todos e somente os mesquinhos de coração se esforçam em confiná-la. Naamã, o
sírio, acreditava que somente na terra santa de Israel era possível adorar e
dar graças a Deus e, por esta razão, pede a Deus para levar “a terra que dois
jumentos podem carregar”, pois somente assim poderia “celebrar”. Para Jesus, a
oração é possível em qualquer parte e em qualquer lugar do mundo. A comunhão
com Deus passa por meio da fé e mais nada. O importante é cultivar no terreno
tenro do coração a dimensão do reconhecimento. O cristão não é o que pede
graças ou recebe graças: o cristão é o que dá
graças por reconhecer o dom e a dádiva gratuita de Deus. O cristão é o
oposto do indivíduo que reivindica, reclama e exige. O cristão tem o sentido da
dívida com Deus e experimenta a vida como um doar e não como um tomar.
A ação de graças não se esgota na oração, mas na alegria de viver. A piedade
extremada pode dar a impressão de que estamos participando nos funerais dos
dons de Deus. A melhor maneira de “dar graças a Deus” é celebrar a vida. A
gratidão é uma restituição que continua, é uma troca que não almeja alcançar a
igualdade. A gratidão é aceitar com alegria que nossa vida está ligada ao Outro
e a tantas outras vidas. O cristão e os de boa-vontade sabem que não existe uma
coisa pior do que não ter nada para pedir: é não ter nada pelo que dar graças,
agradecer.
CONTEMPLAR
Cura dos dez leprosos,
Anônimo, 1035-1040, Codex Aureus Epternacensis, Nuremberg,
Germanisches Nationalmuseum, Alemanha.
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