O Caminho da Beleza 14
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
II Domingo da Quaresma 24.02.2013
Gn 15, 5-12.17-18 Fl 3, 17- 4,1 Lc 9, 28b-36
ESCUTAR
“E, conduzindo-o para fora,
disse-lhe: Olha para o céu e conta as estrelas, se fores capaz! E acrescentou:
Assim será tua descendência” (Gn 15, 5).
“Há muitos por aí que se
comportam como inimigos da cruz de Cristo. O fim deles é a perdição, o deus
deles é o ventre, a glória deles está no que é vergonhoso. Apreciam só as
coisas terrenas! Nós, ao contrário, somos cidadãos do céu” (Fl 3, 18-19).
“Jesus levou consigo Pedro, João
e Tiago, e subiu à montanha para orar. Enquanto orava, seu rosto mudou de
aparência e sua roupa ficou branca e brilhante” (Lc 9, 28-29).
MEDITAR
“Devemos saber enfrentar o medo.
Se paramos ou voltamos atrás estamos perdidos. Devemos discernir o momento em
que contamos somente com as nossas próprias forças. Se esquecermos a confiança
em Jesus estamos perdidos, assim como, se esquecermos a misteriosa atração que
nos conduz a escolher um engajamento, uma pessoa, uma amizade ou quem motivou
uma promessa. A vida se joga na confiança e o medo e a confiança não caminham
juntos” (Cardeal Martini).
“As mãos que ajudam são mais
sagradas que os lábios que rezam” (Madre Teresa de Calcutá).
ORAR
Os textos
deste domingo descrevem a trajetória essencial da história da salvação. Tudo se
inicia com a aliança feita com Abrão e esta aliança será renovada e
radicalmente transformada por Jesus, o Filho escolhido do Pai. Os apóstolos
poderão ver, por um instante, a glória de Jesus, o Salvador esperado que
“transformará o nosso corpo humilhado, tornando-0 semelhante ao seu corpo
glorioso”. Os textos são uma revelação, um tirar o véu do que é o desígnio
salvífico de Deus: a revelação de um Deus fiel; a revelação da divindade de
Jesus e de seu mistério pascal; a revelação do mistério do homem, peregrino na
terra, mas, ao mesmo tempo, cidadão do céu. A aliança com Abrão se faz com um
ritual truculento do Oriente Médio, o de passar pelos animais cortados pelo
meio, pelos pássaros pequenos, para advertir que a mesma sorte trágica terá
quem transgredir as cláusulas do pacto. O Senhor se compromete neste pacto,
pois é o único a passar no meio dos animais e das aves estendidas para acentuar
a absoluta gratuidade da Sua iniciativa. O Senhor promete um filho aos anciãos
Abrão e Sara, mas, por enquanto, devem se contentar com um símbolo: uma
quantidade infinita de estrelas. O Senhor promete ainda uma terra aos seus
descendentes, mas, por enquanto, Abrão continuará sendo nômade, estrangeiro na
terra em que pisa. A prova para Abrão é ter nas mãos, não a realidade, mas uma
palavra que a garante. A fé, quando autêntica, deve atravessar, precisamente, o
terreno áspero da prova. O evangelho da Transfiguração revela que ninguém pode
inventar para si mesmo um caminho privado que evite o caminho do Calvário.
Jesus transfigurado será dentre em pouco o Cristo desfigurado da Paixão para
ser, novamente, o Jesus transfigurado da Ressurreição. Uma Igreja que não
aceita esta travessia – da transfiguração à desfiguração – para encontrar o
Cristo Ressuscitado, será apenas uma Igreja deslumbrada com seu próprio
estômago. Uma Igreja que fabrica e vende ilusões de que podemos participar do
triunfo do Ressuscitado e que considera ultrapassada a realidade da Cruz. Uma
Igreja centrada no legalismo como solução de facilidade e segurança mais do que
nas ásperas exigências do Cristo de amar e de perdoar. Neste dia devemos
perguntar no mais íntimo de nós: “Qual é o nosso Deus? A quem amamos e
servimos?”, pois dependendo da resposta saberemos onde está o nosso tesouro,
pois aí estará o nosso coração (Lc 12, 34).
CONTEMPLAR
Noite estrelada sobre o Ródano, Vincent Van Gogh, 1888, óleo sobre
tela, 72,5 cm x 92cm, Museu d’Orsay, Paris, França.
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