O Caminho da Beleza 32
Leituras para a travessia da vida
“A
beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de
nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus
porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca
do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando
recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha
íntima alegria” (Jr 15, 16).
“Não
deixe cair a profecia” (D.
Hélder Câmara, 1999, dias antes de sua passagem).
Solenidade de São Pedro e São
Paulo 01.07.2012
At 12, 1-11 2 Tm 4, 6-8.17-18 Mt 16, 13-19
ESCUTAR
“O anjo tocou o ombro de Pedro,
acordou-o e disse: ‘Levanta-te depressa!’. As correntes caíram-lhe das mãos. O
anjo continuou: ‘Coloca o cinto e calça tuas sandálias!’. Pedro obedeceu e o
anjo lhe disse: ‘Põe tua capa e vem comigo!’ (At 12, 7-8).
“Combati o bom combate, completei
a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que
o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia” (2 Tm 4,6-8.17-18).
“Então Jesus lhes perguntou: ‘E
vós, quem dizeis que eu sou?’. Simão Pedro respondeu: ‘Tu és o Messias, o Filho
do Deus vivo’ (Mt 16, 13-19).
MEDITAR
“Mais do que qualquer outro,
aquele que está animado de verdadeiro amor é engenhoso em descobrir as causas
de miséria, encontrar os meios de a combater e vencê-la resolutamente”(Paulo
VI, Populorum Progressio 75).
“Ao longo da história dos homens,
a boa criação de Deus foi coberta por um estrato maciço de escórias que torna,
senão impossível, de qualquer maneira difícil reconhecer nela o reflexo do
Criador. Quem, como cristão, crê no Espírito Criador, toma consciência do fato
de que não podemos usar e abusar do mundo e da matéria como um simples objeto
de nossa ação e da nossa vontade; que temos o dever de considerar a criação
como um dom que nos foi confiado não para a destruição, mas para que se torne o
jardim de Deus e assim um jardim do homem” (Bento XVI, Sermão de Pentecostes, 2006).
ORAR
A confissão de Pedro não exige nenhum cenário
particular, nenhuma instituição e nenhum templo: ela se faz na precariedade e
na urgência. Cesaréia está em todos os lugares em que a confissão se renova, muitas vezes até ao martírio e aí se encontra o lugar santo: “Tu
és o Cristo, o Filho do Deus vivo!”.
Jesus visita o mercado das nossas cristologias (e suas especulações)
sempre nos confrontando com a mesma pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu
Sou?”. A cristologia de Cesaréia
exige a teofania da Sarça Ardente: “Assim dirás aos israelitas: “Eu Sou”
me envia a vós” (Ex 3, 14). E Jesus Eu
Sou tem fome de recolher “o
fruto de lábios que confessam o seu nome”
(Hb 13, 15). Jesus Eu Sou não
quer uma Igreja que apenas O recite, mas que O confesse com palavras sempre
novas num testemunho claro e vivo deste acontecimento e encontro pessoal. A
confissão de Pedro não é uma lição de catecismo, mas um grito inspirado pelo
Espírito Santo: “Meu coração e minha carne são um grito para o Deus vivo” (Sl 83, 3). E Paulo reafirma: “Ninguém
pode dizer: Senhor Jesus! Se não é movido pelo Espírito Santo” (1 Cor 12, 3). A pergunta de Jesus
atravessa os séculos e nós temos que responder a ela, pois qualquer que seja a
nossa reação ela desvelará nossas convicções, nossos critérios de valor, nossa
esperança e o sentido que damos à nossa vida. As respostas são um eco do que
somos, da nossa dinâmica existencial, da medida dos nossos sofrimentos e da
intensidade das nossas esperas. Jesus rompe todas as regras e revela Deus como Nosso
Pai: “Porque não foi a carne e
sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu”. Nós ainda estamos reproduzindo as regras
de um jogo sócio-político-religioso que nos leva a perder de vista o Nosso
Pai e a colocar no seu lugar Mamon, devorador e sedento de sangue: dinheiro e poder. Jesus não suporta
nenhuma adesão à mentira deste mundo de aparências, daqueles que “gostam
de passear com longas túnicas, que os saúdem pela rua, dos primeiros assentos
nos templos e dos melhores lugares nos banquetes” (Mc 12, 39). Ele apela para que renunciemos a encerrar Deus num sistema
de crenças e disputas para nos abrirmos à miséria dos que são tidos e tratados
como pecadores. Jesus revela que o Amor é mais verdadeiro
do que todos os poderes da Terra, pois liga inseparavelmente os homens, uns aos
outros, e lhes concede a vida eterna. Nesta festa de hoje reconhecermos-nos católicos é vivermos o sentido literário de kath’holon – uns com os outros – ou seja, a comunhão universal do Reino.
Jesus de Nazaré ensina a viver na esperança de que, a todo momento, sob as suas
mãos os olhos dos cegos e os ouvidos dos surdos se abrirão e os mudos começarão
a falar para confessar, pelo
Espírito, a glória do Pai, do Nosso Pai! Não temos o direito de construirmos,
como cristãos, uma identidade a partir da negação e da exclusão dos outros, dos
diferentes de nós, para que não sejamos uma barca destroçada e encalhada nas
correntes de suas âncoras presa em si e por si mesma e com sua proa encravada e
imóvel (At 27, 41).
CONTEMPLAR