segunda-feira, 16 de abril de 2012

O Caminho da Beleza 22 - III Domingo da Páscoa

O Caminho da Beleza 22
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



III Domingo de Páscoa                        22.04.2012
At 3, 13-15.17-19               1 Jo 2, 1-5                Lc 24, 35-48



ESCUTAR

“Vós rejeitastes o santo e o justo e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos, e disso nós somos testemunhas” (At 3, 14-15).

“Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um defensor: Jesus Cristo, o justo”(1 Jo 2, 1).

“Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?”. Deram-lhe um pedaço de peixe assado. Ele tomou e comeu diante deles” (Lc 24, 41-43).


MEDITAR

“A religião de Cristo não é a sobremesa após algum pão; pelo contrário, é ou o pão ou nada. As pessoas deveriam ao menos entender e admitir isso antes de se considerarem cristãs” (Dietrich Bonhoeffer).

“O cristianismo prega o valor infinito do que aparenta não ter valor e a inutilidade infinita do que aparenta ser valioso” (Chesterton).


ORAR

            Somente Deus pode inverter a história conduzida pelos homens. Este contraste está no anúncio de Pedro de que o povo rejeitou “o santo e o justo” e pediu a libertação de Barrabás; de que mataram o autor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos. O mesmo contraste esta na carta de João: temos, infelizmente, a possibilidade de pecar, mas ainda que pequemos teremos o Cristo como nosso defensor diante do Pai. Todas as leituras conduzem ao mesmo argumento: a exigência do arrependimento, a mudança radical de vida, o cumprimento da Palavra, a acolhida da Boa Nova e a certeza do perdão. Jesus conhece o coração dos seus discípulos e sabe que, na realidade, não acreditavam na sua Ressurreição, pois ao ouvirem a saudação de Paz “ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma”. Uma fé vaga e difusa, mascarada por uma vibração exagerada, não basta. Uma fé deste tipo pode dissimular o que de fato estamos vivendo: “eles não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos”. A fé no Ressuscitado é uma adesão a uma presença viva que pode ser revelada, explicada pelas Escrituras e pela memória das palavras de Jesus (Jo 2, 22). As coisas miraculosas podem atiçar o emocional, conduzir a visões extraordinárias, emitir sons de línguas estranhas, mas isto não quer dizer nada e pode nos iludir. A resposta de Abraão ao rico egoísta, que lhe havia pedido que enviasse o pobre Lázaro aos seus irmãos, é definitiva: “Se não escutam Moisés e nem os profetas, mesmo que um morto ressuscite, não lhe farão caso” (Lc 16, 31). Jesus não complica as coisas, conhece o nosso coração e mente e, por isso, basta que sejamos testemunhas da sua Morte e Ressurreição. Para nos fortalecer nesta empreitada, seremos conduzidos pelo Espírito que descerá sobre nós pela intercessão do próprio Jesus. Conduzido pelo Espírito, o cristão é convidado, pelo Ressuscitado, a escrever no seu dia a dia uma nova história. O Cristo não quer ser temido como um fantasma que assombra, mete medo e paralisa, pois a sua relação conosco sempre foi de amizade, de confidência, de paciência e de amor: “E no amor não há lugar para o temor” (1 Jo 4, 18). Quem teme nunca alcançará um amor perfeito. O amor desaloja do nosso interior o medo do castigo que tanta angústia nos causa. Este amor louco de Deus está sempre presente na comunidade cristã e na vida de cada um de nós. A todo e qualquer momento, podemos contar com este amor fiel e dele arrancar força e esperança. O nosso futuro não está escrito nas estrelas e nem depende da conjunção astral porque ele é construído em cada nova eucaristia como banquete fraterno, mas também como memorial da Morte e Ressurreição do Senhor. Crer significa aprender a ler os acontecimentos da vida como expressão dos passos de Deus, o passageiro misterioso que nos acompanha na travessia, que nos aponta o futuro que jamais será uma cópia ou uma repetição do passado. O Ressuscitado pode ser encontrado desde que queiramos, não desviemos o olhar e sejamos capazes de gestos concretos de compaixão: “Quem vos der de beber um copo d’água em meu nome não perderá a sua recompensa” (Mc 9, 41). Na páscoa cristã, o Ressuscitado, nosso advogado junto ao Pai, e o pecador convertido se cruzam e constituem a comunidade pascal. Uma pequena condição é necessária: que à liberdade da oferta divina corresponda a liberdade da aceitação humana. Meditemos o nosso sim cotidiano ao Ressuscitado nas palavras do teólogo de Lubac: “Todo problema da vida espiritual consiste no liberar o desejo da vida e transformá-lo em conversão radical, em metanóia, sem a qual não se entra absolutamente no Reino”. Deixemo-nos conduzir pelo Espírito que habita em nós como uma comunhão de mistérios, um encantamento de ternuras, que faz os que se amam olharem, não mais um para o outro, mas todos na mesma direção.


CONTEMPLAR

A Ressurreição, ícone russo do século XVI, Russian Museum, São Petersburgo, Rússia.


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