O Caminho da Beleza 18
Leituras para a travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
V Domingo da Quaresma 25.03.2012
Jr 31, 31-34 Hb 5, 7-9 Jo 12, 20-33
ESCUTAR
“Não será mais necessário ensinar seu próximo ou seu irmão, dizendo: ‘Conhece o Senhor!’. Todos me reconhecerão, do menor ao maior deles, diz o Senhor, pois perdoarei a maldade, e não mais lembrarei o seu pecado” (Jr 31, 34).
“[Cristo] mesmo sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele sofreu” (Hb 5, 8).
“E eu, quando for elevado da terra atrairei todos a mim” (Jo 12, 32).
MEDITAR
“Devemos, fortemente, desejar uma paz verdadeira, na qual toda a miséria e injustiça, toda mentira e covardia chegarão ao fim” (Dietrich Bonhoeffer).
“Eu sempre acreditei que o instante da morte é a norma e o fim da vida. Eu penso que para os que vivem, como se faz necessário, este é o momento em que, por uma fração infinitesimal de tempo, a verdade nua e cruz, pura, certa e eterna entra na alma” (Simone Weil).
ORAR
Para os apóstolos Felipe e André, a hora de Jesus chegara. A sua fama se espalhara aos lugares mais distantes e atraia multidões. Para eles, era a hora definitiva do êxito, da popularidade e do triunfo. Felipe era de Betsaida na Galiléia, uma cidade meio pagã e encruzilhada de homens e mulheres de várias crenças. Jesus lhes confirma que, de fato, chegara a hora em que o Filho do homem seria glorificado, entretanto, Jesus dará a esta hora de glorificação um conteúdo muito diverso do que compreendiam Felipe, André e os gregos. Não é hora da notoriedade, ao contrário, é a hora do grão de trigo que deve desaparecer e morrer embaixo da terra. A hora de Jesus é a hora de uma dolorosa semeadura e não de uma colheita triunfal. A fecundidade passa pela morte assim como a manifestação luminosa passa pela ocultação da sepultura. A hora de Jesus é a hora da paixão e Ele enfrenta a hora de sua morte não como um herói, mas como um homem qualquer que tem medo de morrer: “Agora, sinto-me angustiado”. Paulo reafirma isto ao escrever: “Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte”. Jesus vai até as últimas consequências da sua entrega, pois sabe que a morte, o mal, a violência e tudo o que é desumano no mundo cedem somente diante da força do amor. Sobre a cruz, Cristo não reivindica outra glória maior do que a glória de amar. Jesus quando foi elevado da terra viu somente João e as poucas mulheres, pois Felipe, André e os outros apóstolos se evadiram e não viram a hora exata em que as trevas se converteram no momento da máxima revelação. O Cristo abandonado, traído, renegado, elevado será, na sua vez e sua hora, uma força de atração universal e irresistível. Sobre o terreno árido do Calvário, a semente esmagada, moída, triturada e regada com o sangue do Cordeiro elevará o seu talo com uma espiga carregada de grãos. A vida do cristão deve ter a visibilidade da luz pascal: disposto a perder a vida e não a satisfazer as ambições, as vaidades; capaz de recusar os resultados de uma fácil popularidade ao preferir, abertamente, o anonimato e a humildade. O cristão deve estar pronto para a cada nova hora escolher entre o privilégio da fama e a posição incômoda da Cruz. Um dia ou outro, teremos que viver esta hora do amor que vai além do limite de nós mesmos. A comparação do evangelista é preciosa: “Quando a mulher vai dar à luz está triste, pois chega a sua hora. Porém, quando deu à luz não se lembra da angústia, por causa da alegria de que um homem tenha nascido para o mundo (Jo 16, 21). Todo cristão tem que escolher entre uma vida estéril ou fecunda e ela nunca será sem dores! Somos convidados a vivenciar este mistério de fecundidade em que o semeador se converte em semente: morre, fecunda a terra e ressurge com toda a força da Vida. O Deus de Jesus Cristo quer pessoas que escutem a sua voz no mais fundo dos seus corações e, consequentemente, sejam capazes de amar como Ele pretende que seja o amor: um poder de serviço cada vez mais exigente na entrega, por ser cada vez mais pleno e transbordante. E não devemos jamais esquecer que “todo mundo tem sua vez e sua hora” (Guimarães Rosa).
CONTEMPLAR
Cristo na Glória no Tetramorfo (Primeiro Cartão), Graham Sutherland, 1953, óleo sobre guache em cartão, 201.9 x 110.5 cm, Herbert Art Gallery, Coventry, Reino Unido.
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