O Caminho da Beleza 13
Leituras para a travessia da vida
“A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).
“Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).
VII Domingo do Tempo Comum 19.02.2012
Is 43, 18-19.21-22.24.25 2 Cor 1, 18-22 Mc 2, 1-12
ESCUTAR
“Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis?” (Is 43, 18-19).
“Pois o Filho de Deus, Jesus Cristo [...], nunca foi ‘sim e não’, mas somente ‘sim’. Com efeito, é nele que todas as promessas de Deus têm o seu ‘sim’ garantido. Por isso também, é por ele que dizemos ‘amém’ a Deus, para a sua glória” (2 Cor 1, 19-20).
“Pois bem, para que saibais que o Filho do homem tem, na terra, poder de perdoar pecados – disse ele ao paralítico -, eu te ordeno: levanta-te, pega tua cama e vai para tua casa!” (Mc 2, 10-11).
MEDITAR
“Não, a vida não é um sonho nem um plano do homem; ela é um consentimento. Deus nos conduz pelos acontecimentos a dizer sim ou não. O absurdo absoluto para um homem é o de se encontrar vivendo sem razão de viver” (L’Abbé Pierre).
“Só há uma igualdade; aquela que é a suprema nobreza de cada um e que se abre a todos: a de escolher o Amor” (Maurice Zundel).
ORAR
O profeta revela que o próprio Deus se coloca como paradigma do esquecimento: “Já não me lembrarei dos teus pecados”, pois o Senhor oferece uma possibilidade nova e inaudita. “O que foi” se apaga diante “do que pode ser”. Mais do que ficar ruminando o pecado é oportuno recordar o perdão obtido, pois o perdão, mais do que pagar as dívidas passadas, abre uma conta de confiança hoje e um crédito de esperança para o futuro. No evangelho de Marcos surge o oponente mais contumaz de qualquer perdão e novidade: os escribas. A reação dos escribas é típica dos homens religiosos: não escutam jamais, não vivem na espera de uma palavra possível vinda de Deus porque acreditam possuí-la inteiramente. Até hoje, os escribas continuam mantendo a sua face clerical. Nas suas casas seguras e ordenadas não entram o imprevisto nem o inesperado, uma vez que eles nada esperam e apenas administram os bens que se acumulam, passo a passo. O escriba é o oposto do homem do desejo: ele planeja a esperança, corta as asas da fantasia, abole o risco, excomunga a dúvida e enjaula o Espírito da Liberdade. O escriba é o homem de um único e sólido princípio: o que reza que a verdade está sempre do seu lado. A contradição maior do escriba é a de que ele tem como ofício preparar os outros para acolher a novidade dos acontecimentos, mas quando esta chega ele está sentado e ruminando táticas para combatê-la: “Ora, alguns mestres da lei, que estavam ali sentados, refletiam em seus corações: ‘Como este homem pode falar assim? Ele está blasfemando: ninguém pode perdoar os pecados, a não ser Deus’”. Jesus revela que é o perdão que nos coloca em pé para nos abrirmos ao futuro com confiança e nova alegria. Não podemos seguir Jesus vivendo como “paralíticos”: imersos no imobilismo, na inercia e na passividade. Temos que estar atentos para não cairmos no ardil em que caíram os escribas ao não aceitarem que Jesus oferecesse o perdão de Deus. O Deus de Jesus Cristo é realmente um amor insondável, incompreensível, gratuito e incondicional. Todos nós temos experimentado que, num momento ou noutro, fazemos o que não deveríamos fazer; que nossas decisões nem sempre são honestas e que, outras vezes, agimos por motivos obscuros e razões inconfessadas. O apóstolo Paulo já prevenia: “Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero” (Rm 7, 19). Viver reconciliado consigo mesmo é uma das tarefas mais difíceis da vida. E viver reconciliado é saber nos olhar com a misericórdia e a generosidade com as quais Deus nos olha e nos acolhe. Jesus nos revela o rosto de Deus como um pai “cuja ira dura apenas um instante, mas o seu amor é para sempre” (Sl 30, 6). O perdão dos pecados é a ruptura da nossa paralisia espiritual e um apelo para que as nossas casas sejam calorosas e solidárias, plenas de alegria e esperança, de generosidade e misericórdia. Sempre prontas para acolher os que tropeçam no meio da travessia. Que o Senhor nos cure das nossas paralisias espirituais para que, na eternidade, o nosso amor não seja uma cama vazia numa varanda do céu e sejamos, desta maneira, condenados “às chamas que torturam” (Lc 16,24).
CONTEMPLAR
O paralítico baixado do telhado, Heinrich Füllmaurer, c. 1530-1570, painel do altar de Mömpelgard, Kunsthistorisches Museum, Viena, Áustria.
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