quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Caminho da Beleza 24 - II Domingo da Páscoa

O Caminho da Beleza 24
Leituras para a travessia da vida


A beleza é a grande necessidade do homem; é a raiz da qual brota o tronco de nossa paz e os frutos da nossa esperança. A beleza é também reveladora de Deus porque, como Ele, a obra bela é pura gratuidade, convite à liberdade e arranca do egoísmo” (Bento XVI, Barcelona, 2010).

Quando recebia tuas palavras, eu as devorava; tua palavra era o meu prazer e minha íntima alegria” (Jr 15, 16).



II Domingo da Páscoa              01.05.2011
At 2, 42-47             1 Pd 1, 3-9              Jo 20, 19-31


ESCUTAR

“Eles eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações. Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um” (At 2, 42.44-45).

“Bendito seja Deus, o pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva, para uma herança que não se desfaz, não se estraga nem murcha, e que é reservada para vós nos céus” (1 Pd 1, 3-5).

“Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo’ (...) Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20, 22.30).


MEDITAR

“A satisfação dos desejos é dada por acréscimo, mas não pode ser objeto de preocupação primordial. O discípulo recebe essas satisfações sem buscá-las porque elas estão no caminho. Colhe as flores, mas não faz das flores um comércio ou o objetivo de sua vida” (Joseph Comblin).

“Senhor, dá-nos viver nossa vida, não como um jogo de xadrez; onde tudo é calculado; não como uma competição onde tudo é difícil; não como um teorema que nos quebra a cabeça, mas como uma festa sem fim onde nosso encontro se renova, como um baile, uma dança, entre os braços da tua graça, na música universal do teu amor. Senhor, vem tirar-nos para a dança” (Madeleine Delbrêl).


ORAR

A antífona de entrada de hoje nos dá o tom destes próximos domingos até Pentecostes: “Como crianças recém-nascidas, desejai o leite espiritual, não adulterado, para crescerdes sadios. Aleluia!” (1 Pd 2, 2). Este leite espiritual é a Palavra. Para os romanos in-fans, criança, significa aquele que não fala, mas também o que não tinha direito à palavra e que, em última instância, é a característica dos mortos. Os discípulos estavam imersos num terror infantil, sem palavras, encerrados num isolamento decidido, numa sala com as portas fechadas, num mutismo deliberado, com medo dos judeus. Para João, os judeus designam todas as autoridades religiosas de Jerusalém. Jesus se apresenta como uma Palavra-Corpo animada pelo Espírito e oferece-lhes a Paz. Não havia, de um lado, um corpo em decomposição no sepulcro e, por outro lado, uma espécie de fantasma que aparecia aos discípulos. Havia um só corpo vivo, tangível e que trazia os estigmas do seu suplício. Esta página de João é uma das que fundam a certeza de que o Cristo da Fé é o Jesus da História. Jesus em nenhum momento tem uma palavra de reprovação aos que O abandonaram, fugiram e se calaram para não anunciar o Evangelho. João utiliza o verbo soprar (enephusèsen) que antes fora empregado três vezes na Bíblia. No livro da Sabedoria: “Não reconheceu o oleiro que o modelou, infundiu-lhe uma alma ativa e lhe soprou alento vital” (Sb 15, 11); no segundo relato da criação de Adão: “Então o Senhor modelou o homem da argila do solo, soprou alento de vida em seu nariz, e o homem se transformou em ser vivo” (Gn 2, 7); e, finalmente, no livro do profeta Ezequiel: “Vem, alento, dos quatro ventos, e sopra nestes cadáveres para que revivam” (Ez 37, 9). O acontecimento da Páscoa possui a mesma estatura e dimensão da criação das origens e da renovação de todas as coisas. Devemos aprender a ler os sinais do cotidiano que estão sempre indicando este acontecimento cósmico e esta Páscoa da Ressurreição: a alegria que sentimos e o desejo ardente do Transcendente, que brota nos momentos mais inusitados, mas, sobretudo, no amor que conseguimos partilhar uns com os outros. São pequenos os sinais que rompem a obscuridade do mundo e nos devolvem a luz da esperança. O livro de Atos, o Evangelho da Igreja, reitera que esta plenitude só pode ser conquistada quando entregamos o que podemos dar, quando aceitamos olhar, ouvir e escutar os que nos chegam e nos estendem a mão em gesto de amor ou de súplica. O contraste é espantoso: os homens e mulheres enclausurados entre quatro paredes, encerrados em si mesmos, apavorados de medo e Jesus lhes ordenando partir e ir ao encontro dos outros como Ele mesmo fizera. É a vida em partilha que pode criar vínculos e responder por uma comunhão de destino, pois a comunidade cristã não tem uma finalidade em si mesma, mas deve ser um sinal de esperança profética apontando para um futuro aberto de possibilidades. O que Deus quer de nós não é a criação de uma religião que nos satisfaça, mas a prática do amor que nos desafia e nos arranca da acomodação. Jesus é enfático: “Bem aventurados os que creram sem terem visto”. Nestes tempos a dificuldade de crer não vem da invisibilidade do Ressuscitado, mas da visibilidade ostensiva e espetaculosa dos cristãos que nos bombardeiam com seus estrondosos testemunhos de fé, de curas, de libertação para os seus iguais, sem superar as discriminações humanas e sem compartilhar os bens para superar a lógica patronal e privativista. Jesus nos pede a entrega de tudo, sobretudo da nossa vida. Não façamos como Ananias e Safira que vendendo uma propriedade, ficaram com parte do dinheiro e depositaram o restante aos pés dos apóstolos. Não podemos nos apropriar nem de uma agulha que foi dada para os nossos irmãos mais necessitados, como nestes tempos trágicos da região serrana. Os Ananias e Safiras de hoje são os que roubam de seus irmãos necessitados e mentem, impulsionados por Satanás, ao Espírito Santo. Não mentem aos homens, mas a Deus e, por esta razão, serão fulminados, como foram Ananias e Safira, pelo Senhor da Vida que lhes arrancará do coração o alento e o sopro vital (At 5, 1-11). Meditemos neste domingo da Divina Misericórdia se seremos capazes de viver como os cristãos: “A multidão dos fiéis tinha uma só alma e um só coração. Não chamavam de própria nenhuma de suas posses; ao contrário tinham tudo em comum. Com grande energia davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus e eram muito amados. Não havia indigentes entre eles e a cada um era repartido segundo a sua necessidade”(At 4, 32-35).


CONTEMPLAR

A Incredulidade de São Tomé, Michelangelo Merisi da Caravaggio, 1601-1602, óleo sobre tela, 107 cm x 146 cm, Sanssouci, Potsdam, Alemanha.
           

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