Como
se visse o Invisível, mantinha-se firme (Hb 11, 27).
IV Domingo da Quaresma
Js 5, 9-12 2
Cor 5, 17-21 Lc 15,
1-3.11-32
ESCUTAR
“Hoje tirei de cima de vós o opróbio do Egito” (Js 5, 9).
Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho desapareceu. Tudo agora é novo (2 Cor 5, 17).
“‘Mas era preciso festejar e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e tornou a viver; estava perdido e foi encontrado’” (Lc 15, 32).
MEDITAR
Somente graças a esse encontro – ou reencontro – com o amor de Deus, que se converte em amizade feliz, é que somos resgatados da nossa consciência isolada e da auto referencialidade. Chegamos a ser plenamente humanos, quando somos mais do que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser verdadeiro.
(Papa Francisco)
Perdoar a uma cascavel: exercício de santidade.
(João Guimarães Rosa)
ORAR
A conversão
não se reduz a um pequeno ajuste, a um retoque de fachada, a uma minúscula
mudança que não incomoda demais, a uma modificação insignificante. A conversão
implica uma transformação radical nos pensamentos, palavras, mas, sobretudo,
nos atos. O tema da novidade radical, representada pela conversão, é destacada
por Paulo: “Se alguém está em Cristo, é uma criatura nova. O mundo velho
desapareceu. Tudo agora é novo”. Na parábola, o filho mais novo é um abusado e
o mais velho, um insuportável possuidor de direitos, enjaulado nas leis e na
estrita observância. Não cometeu faltas graves, mas vive sem amor e sua justiça
o amargou. Necessita de proteção e se sente seguro ao cumprir os seus deveres
sem jamais se arriscar. Tornou-se um calculista, um burocrata da virtude sem
nenhum brilho de vida, de alegria ou espontaneidade. Há um abismo entre ele e o
irmão mais novo, mas um abismo ainda maior entre ele e seu pai. Ele fala de
novilhos, cabras, bois, justo e injusto; o pai fala de gente encontrada e
ressuscitada. Ele fala a língua da lei, da intolerância e do castigo e o pai se
exprime na língua do perdão, da ternura e da misericórdia. O pai se coloca numa
dimensão de gratuidade e o filho mais velho permanece na trincheira de uma
mentalidade de justiça distributiva. O filho mais velho, ao se julgar justo, se
coloca distante do amor do pai a quem serve com um espírito de escravo e não
com a gratidão e alegria de filho amado: “Filho, tu estás sempre comigo e tudo
o que é meu é teu”. Jesus narra esta parábola para os justos fariseus e não
para os pecadores. Não há final feliz nela. Este final feliz só acontecerá
quando o justo não excluir o irmão que mostre algum sinal de conversão. Na Boa
Nova de Jesus, mais vale o risco da conversão do que a mesmice de uma vida certa,
segura e débil. Quando o justo se abrir e se converter à misericórdia,
descobrirá que a fidelidade não é simplesmente um permanecer irredutível, mas
aceitar cotidianamente as novidades, a lógica paradoxal e as iniciativas
desconcertantes de Deus. Como declara o Cristo: “Haverá mais alegria no céu por
um pecador que se arrepende do que por noventa e nove justos que não necessitam
de arrependimento” (Lc 15, 7).
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
O Pai que perdoa, 1998, Frank Wesley (1923-2002), pintura em bloco de madeira impressa em papel de seda, Índia.