A Palavra se fez carne e armou sua tenda entre nós (Jo 1, 14).
XXIV Domingo do Tempo Comum
Is 50, 5-9a Tg 2, 14-18 Mc 8, 27-35
ESCUTAR
“O Senhor abriu-me os ouvidos: não lhe resisti nem voltei atrás” (Is 50, 5).
“Assim também a fé, se não se traduz em obras, por si só está morta” (Tg 2, 17).
“Vai para longe de mim, satanás! Tu não pensas como Deus, e sim como os homens” (Mc 8, 33).
MEDITAR
Os homens fortes, sábios e bons (nenhuma dessas qualidades vêm uma sem a outra) preocupam-se menos com o sucesso de seus empreendimentos do que com a dignidade da causa que eles servem e com a pureza de suas intenções (São João XIII).
O Senhor revela e chama; mas muitas vezes nós nem desejamos ver e nem responder, porque preferimos nossos caminhos pessoais. Arrisca-se então de não se ouvir mais a voz de Deus.
(São Pio de Pietrelcina)
Morrer para uma religião é mais simples do que vivê-la plenamente.
(Jorge Luis Borges)
ORAR
Pedro nega o Servo do Senhor e a profecia de que o Filho do Homem devia sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei. Jesus encara Pedro abertamente e compromete os discípulos tomando-os como testemunhas: “Vai para longe mim, Satanás!”. Pedro não aceita participar de uma causa perdida e nem assumir uma mentalidade de fracassado. E ao recusar a lógica da paixão se coloca longe do Senhor. A glória, a importância e o prestígio numa dimensão terrena são precisamente o oposto de tomar a cruz e negar-se a si mesmo. Não se pactua com Satanás e a sua derrota se dá no terreno do Calvário. O Servo do Senhor não se rebelou e nem desviou o rosto dos bofetões e cusparadas. Jesus testemunha que em todas as nossas obras é necessária a negação de si mesmo, a recusa de toda vontade de poder, de êxito e de publicidade. A fé é vida, páscoa, alegria e um abrir-se ao Deus infinito: “Sede, portanto, perfeitos como vosso Pai do céu é perfeito” (Mt 5, 48). A fé que não se pretenda estéril deve ser orientada para a prática do amor e da solidariedade. Tiago nos previne que as “belas palavras” são vento e hipocrisia se não trazem lenitivo ao sofrimento dos nossos irmãos. Cada vez que Jesus evoca a sua Paixão é incisivo: “Quem se empenha em salvar a vida, a perderá; quem perder a vida por mim, a encontrará” (Mt 16, 25). Os atos são a respiração da fé, pois a fé não é uma bagagem, mas um caminho pelo qual, graças à atenção dada aos nossos irmãos, descobrimos o próprio Deus. Meditemos as palavras de Roger Garaudy: “Vós, os detentores da grande esperança que Constantino nos roubou, gente de Igreja, devolvei-O a nós. A sua vida e sua morte também nos pertencem, pertencem a todos aqueles para os quais têm sentido. A nós que aprendemos dele que o homem é criado criador”. Nestes tempos de diálogo inter-religioso, o Cristo não deve e nem pode ser um obstáculo ou um muro que nos separa, mas o símbolo da união, da fraternidade e do amor. Devemos aceitar, no seu seguimento, sermos pequenos grãos de trigo que, ao cair na terra, morrem para não ficar sós, mas para produzir muitos frutos (Jo 12, 24). Satanás anda no meio de nós, oferecendo-nos alternativas para que não tenhamos que entregar nossas vidas até o fim, para que desistamos do caminho um dia escolhido. Satanás nos oferece vantagens, seduz-nos com as honrarias dos homens, facilita-nos o ganho fácil e a ostentação do sucesso. O Cristo nos oferece o lenho da Cruz, a abominação, a dor e, finalmente, o Reino dos Céus.
(Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
A Crucifixão de São Pedro, 1600-1601, Michelangelo Merisi, Caravaggio (1571-1610), óleo sobre tela, 230 x 175 cm, Capela Cerasi, Santa Maria del Popolo, Roma, Itália.
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