Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
XXVII Domingo do Tempo Comum
Is 5, 1-7 Fl
4, 6-9 Mt 21, 33-43
ESCUTAR
“Eu esperava deles justiça – e eis injustiça; esperava
obras de bondade – e eis iniquidade” (Is 5, 7).
“E a paz de Deus, que ultrapassa todo o entendimento,
guardará os vossos corações e pensamentos em Cristo Jesus” (Fl 4, 7).
“O Reino de Deus vos será tirado e será entregue a um
povo que produzirá frutos” (Mt 21, 43).
MEDITAR
O verdadeiro problema da Igreja é continuar com uma
resignação e um tédio cada vez maior pelos caminhos habituais de uma
mediocridade espiritual.
(Karl
Rahner)
Senhor,
faze que eu tenha fome e sede de justiça. Faze que eu não seja apegado às
pequenas coisas que me tranquilizam, a um status
quo pelo qual me sinto protegido... Que eu não perca nunca a esperança; que
eu saiba contestar, em nome desta esperança em Ti e no homem, todo imobilismo,
toda conservação que nega a ação incessante do teu Espírito!
(Ettore
Masina)
ORAR
Somos chamados a sermos juízes do amante traído pela vinha amada. O amado cuidou com toda dedicação da sua vinha, mas ela produziu uvas selvagens. O amante esperava frutos bons para que os outros pudessem deles usufruir; o seu amor e dedicação deveriam ser devolvidos em favor dos outros. A canção de amor se converte numa denúncia áspera e cheia de questionamento: “O que poderia eu ter feito a mais por minha vinha e não fiz?”. Somos nós a vinha do Senhor que produzimos uvas selvagens da injustiça, do desamor e da mentira. Apesar de tudo, o Senhor continua tentando nos atrair com canções de amor. A lição do profeta cabe como uma luva para as igrejas que reclamam privilégios, outorgam a si direitos, celebram triunfos passados, mas não produzem frutos de amor. Jesus não pede nada de excepcional, apenas sugere, por meio do Espírito, o possível que devemos produzir e o impossível que devemos esperar do Pai. A Igreja de Jesus foi construída sobre uma pedra desprezada e, até hoje, ela se sustenta sobre a pedra rejeitada e sobre tantas pessoas desprezadas. Paulo nos evoca a produzir frutos verdadeiros, respeitáveis, justos, puros, amáveis, honrados e dignos de louvor. São frutos que podem ser encontrados em outras vinhas que sempre são vinhas do Senhor ainda que não tenham a placa oficial pendurada na porta de entrada. A parábola nos exorta a que não criemos falsas ilusões ao reivindicar um direito de propriedade sobre a salvação e a verdade. Jesus não diz que a vinha será entregue às igrejas ou a uma nova instituição, mas “a um povo que produzirá frutos”. O Reino de Deus está no povo que produz frutos de justiça, de compaixão e que defende os sem direito e os sem voz. “Povo de Deus é o que pratica a justiça em qualquer situação, tempo ou lugar” (Lumen Gentium 9). A maior tragédia que pode suceder ao cristianismo é calar a voz dos profetas, que os sacerdotes se intitulem donos da vinha do Senhor e que o Cristo seja posto de lado por sufocarmos o seu Espírito. Não podemos jamais esquecer que se a Igreja não responder às esperanças que pôs nela o Senhor, Ele abrirá novos caminhos de salvação em povos que produzam frutos.
(Manos da Terna Solidão/ Pe. Paulo Botas e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
Velha vinha, 2009, WB Fuller, Getty
Images.
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