Peguei da mão do anjo o livrinho e comi-o. Na boca era doce como
mel, mas, quando o engoli, meu estômago tornou-se amargo (Ap 10, 10).
Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
Is 52, 7-10 Hb
1, 1-6 Jo 1, 1-18
ESCUTAR
Como são
belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia
o bem e prega a salvação (Is 9, 7).
Muitas vezes
e de muitos modos falou Deus outrora aos nossos pais, pelos profetas; nestes
dias, que são os últimos, ele nos falou por meio do Filho, a quem ele
constituiu herdeiro de todas as coisas e pelo qual também ele criou o universo (Hb
1, 1-2)
E a Palavra se
fez carne e habitou entre nós (Jo 1, 14).
MEDITAR
O sagrado no Cristo não é qualquer coisa que existe
sob os ferrolhos ou que é colocada atrás das grades ou ainda sob véus
impenetráveis. O sagrado em Jesus é o homem, é o próprio homem. São as nossas
mãos, o trabalho de nossas mãos; são os nossos olhos e a luz que os preenche;
são os nossos corações e esta maravilhosa capacidade de amar. Isto tudo é o que
constitui o sagrado que perpetua a Encarnação e que não cessa de tornar
presente o Cristo entre nós.
(Maurice Zundel)
ORAR
Natal
significa que “um Menino nos nasceu” e este é o sinal para a Humanidade. Nada
de grandioso ou espetacular, pois Deus para nos encontrar escolhe o caminho da
modéstia e da pequenez. O Natal significa que o sorriso divino pousou sobre as
nossas misérias, devolveu a esperança e nos abriu todas as possibilidades
futuras. Este rosto do Menino não é mais o de um Deus distante, carrasco; nem o
de um Deus desiludido e traído. Este rosto terno e carinhoso revela a única
condição para conquistarmos a vida eterna: deixarmo-nos amar. O natal não é
apenas uma data inventada, mas o início da Boa Nova que nos faz saber que um escapou do censo ordenado por Cesar
Augusto e que, portanto, não foi incluído como um dado estatístico. Não
comemoramos uma data que colocou tudo
em ordem, mas um início de um tempo
em que a justiça de Deus se manifesta em toda a sua plenitude. A solidão acabou
porque os homens e mulheres têm a mão que os guia, que os salva e os consola. O
evangelista revela que o Verbo não somente entra no mundo, mas se torna um
membro da humanidade e declara que a presença de Deus (Shekinah), até então na tenda da Aliança, está agora plenamente
realizada na tenda de carne do Emmanuel. A divindade não se sobressai como um
árbitro destacado e eterno do contexto terrestre, mas está implicada na
complexidade da realidade humana. O evento decisivo da nossa existência e o
artigo de fé fundamental do cristianismo é a encarnação do Verbo. No Natal, é
desvelado que o Cristo é a Palavra que exige escuta; é a Vida que exige adesão
do coração; é a Luz que exige a luta contra a cegueira para que possamos todos
juntos, peregrinos, construir a cada nova geração um mundo de justiça e paz. No
entanto, alguns natais são anunciados
sem nenhum engajamento de fé. Um natal folclórico, mercantilizado, ruidoso e de
um ritualismo consumista; um natal emotivo, marcado pelo infantilismo e que,
apesar dos sentimentos, sabe calcular os impulsos de generosidade; um feriado
natalino para ser aproveitado em viagens, que nos levem o mais distante
possível de todos. Finalmente, um natal dos que foram um dia batizados e que,
ao menos uma vez por ano, vestem o disfarce de cristãos para poder passar pelo
umbral das igrejas mais próximas que lhes ofereça um horário de celebração mais
cômodo para não atrapalhar a ceia natalina e a troca de presentes. Outros
natais são possíveis de ser acrescentados à lista uma vez que são apenas
pretextos para qualquer coisa. Que neste dia de Natal sejamos capazes de
colocar nas nossas vidas um pouco menos de qualquer
coisa, como os restos de nossas ceias. Que sejamos capazes de conseguir um
pouco menos de alienada religiosidade e um pouco mais de fé comprometida com
Aquele cujo nome é “Conselheiro Admirável, Deus Guerreiro, Pai dos Tempos
Futuros e Príncipe da Paz” (Is 9, 5).
Manos da Terna Solidão/Pe. Paulo Botas, mts e Pe. Eduardo Spiller, mts)
CONTEMPLAR
O Mistério da
Encarnação,
1954, Louis Rivier (1885-1963), tríptico da Encarnação (painel central), 250 x
150cm, Lausanne, Suíça.